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Carne Doce e o álbum Interior

Buenas! Esta semana chegou até mim um dos discos mais aguardados (por mim) neste ano. Estou falando do novíssimo Interior dos goianos da Carne Doce.

Já falamos da Carne Doce por aqui e já tínhamos até mesmo alguns spoilers de duas músicas que acabariam integrando o trabalho. Foi no último show que assisti deles e que você pode conferir a resenha neste link. Aliás, foi meu último grande evento antes da pandemia e da fuga para o litoral.

A banda Carne Doce
A banda Carne Doce

E foi também onde eles tocaram pela primeira vez uma das mais belas canções de toda a sua carreira… Saudade.

Sobre o álbum

Interior traz a tona toda uma ideia, um conceito de valorizar tudo o que trazemos no nosso mais íntimo. Desde uma sensação de pertencimento a um lugar não tão conhecido – o interior do país, já que a banda é de Goiás – representada na capa do disco por um Pequi cortado ao meio com seu interior exposto, até nossos sentimentos mais primais e íntimos. O lance aqui é se voltar para si, numa viagem ao fundo do âmago.

Produzido pela própria banda no período da quarentena, Interior se mostra um disco mais aberto, mais solar, mais diverso, tanto em conteúdo como na sua própria sonoridade. A base ainda é o indie rock, mas agora recheado de novos elementos como o dub, o trap e o pop.

O Pequi expõe seu interior, até nossos sentimentos mais primais e íntimos
O álbum expõe seu interior, até nossos sentimentos mais primais e íntimos

A característica marcante de guitarras afiadas, bateria marcada e sintetizadores ocasionais fazem o caminho inverso, formam a cama para que o baixo (dançante, pesado e criativo) seja o elemento de destaque de toda a parte instrumental do disco. Fugindo à regra da maioria das bandas onde esse faz a base para que os outros apareçam com maior destaque.

Sem medo de dar a cara a tapa

A voz de Salma Jô é um dos pontos mais característicos e marcantes da banda. E aqui soa mais comedida, mais sussurrada, mesmo quando explode em grandes refrões. Dá a impressão que anteriormente a banda orbitava em seu entorno, hoje percebe-se a voz como mais um elemento formador da sonoridade única que a banda construiu ao longo desses anos de estrada. Maturidade e senso estético apurado pra ninguém botar defeito.

As letras embora falem de assuntos mais pessoais como relacionamentos, reflexões, saudades e sexo sempre são abordadas numa perspectiva direta, sem meios termos ou metáforas. Tudo é dito na maior clareza (e na maior classe) possível. Mesmo falando de temas tão pessoais, a temática é tratada sob uma perspectiva mais solar, mais leve até, mesmo quando falam do novo cotidiano de ódio nas redes sociais e da situação política do país, o fazem com leveza e uma sinceridade digna de nota, coisa de quem não tem medo de se expor e/ou dar a cara a tapa.

E aí? Vale a pena?

Um disco mais diverso e positivo que os demais trabalhos de sua discografia. Consegue expor as relações humanas de maneira leve em meio ao clima de caos do período onde foi gravado.

Pra ouvir relaxando ou pra se esbaldar de tanto dançar, a Carne Doce nos mostra mais uma vez porque é disparada uma das maiores (e melhores) bandas do país na atualidade. Nos brindam com um disco cheio de leveza e belíssimas melodias, ideal para esse momento obscuro que vivemos. Candidatíssimo a disco do ano (pra não perder o costume).

Ouça ontem.

Logo menos tem mais.

Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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