O Catar é um país bem miudinho que fica no Oriente Médio. Imagine que a Arábia Saudita é uma cabeça. Pois bem, o Catar é como se fosse um penacho preso à cabeça, que aponta para cima. Como numa fantasia de melindrosa. Exagero. As melindrosas traziam um penacho maior ali acima da testa, enquanto o Catar é um penachinho.
Se você quiser atravessar o Catar de ponta a ponta vai conseguir em menos de três horas pois só terá que percorrer 210 km. O país tem pouco menos de 3 milhões de habitantes (a Zona Leste da cidade de SP tem 4,5 milhões) sendo metade na capital Doha. Só dez por cento desta população é nascida no Catar. A maioria veio há menos de 50 anos, quando na década de 70 (na época o país tinha como base da economia a exportação de pérolas) descobriram petróleo e gás natural por ali.
O Catar será o menor país em área e população a receber uma Copa, posto que era ocupado pela Suíça, onde foi jogada a Copa de 54. Para se ter uma ideia do tamanico do país, a maior distância entre estádios é de 50 km. Na Copa do Brasil em 2014, a maior distância era entre a Arena Amazônia em Manaus e o Beira Rio em Porto Alegre, de 2,1 mil km. Na Copa da Rússia, então, esta distância foi de 3 mil km entre o estádio de Kaliningrado e o de Ekaterinburgo.
Falando em Rússia, a FIFA tentou proibi-la de jogar a Copa. Inicialmente pelo dopping que já a havia barrado nas Olimpíadas do Japão e depois por conta da invasão da Ucrânia. Talvez por falta de alguém disposto a dar essa notícia a Putin, decidiram por proibir a seleção russa de usar as cores do país, sendo chamada de Seleção da Federação Russa – algo como a Seleção Brasileira ser chamada de CBF – e os jogos seriam com portões fechados. Para o bem de todos o escrete russo continua um bando de perna de pau como vimos na última Copa, e assim não passaram das eliminatórias.
O Brasil, na primeira fase, joga duas vezes no belo estádio de Lusail, cidade situada a 15 km de Doha. É o maior estádio da Copa com capacidade para 80 mil pessoas, e sediará também a final da Copa. Antes que você pergunte o que o Catar vai fazer com este elefante depois da Copa, fique tranquilo: será reduzido para uma capacidade de 20 mil espectadores de shows musicais. Estreamos lá contra a Sérvia e fechamos o grupo contra Camarões. E lá jogaremos contra Portugal nas oitavas, perderemos e de lá voltamos para a casa – no sentido figurado, porque muitos aproveitarão para encher a lata (nos espaços permitidos) pelo resto da Copa. Menos Daniel Alves que vai ter que dirigir para Neymar no final das baladas.
Nosso segundo jogo será contra a Suíça, no estádio 974, assim chamado por ser este o número de contêineres que o constitui. Por fora é um negócio estranho, com os caixotões de lata empilhados, por dentro é mais parecido com um estádio, mas o chão da arquibancada, vestiários, camarotes e sala de imprensa é todo de lata. Mas a grama é de grama mesmo. O 974 fica no distrito de Ras Abu Aboud em Doha, bem pertinho do mar, sendo o estádio mais fresquinho da Copa, pois vai contar com a brisa marítima. Ah, e vai ser totalmente desmontado depois da Copa.
Muito tem se falado sobre o regime do Catar. Trata-se de um emirado, portanto de uma monarquia absolutista, regida por um Emir, título cuja tradução mais próxima seria “comandante”. Esse que está hoje pertence à família que governa o país desde o século XIX, e assumiu em 95 dando um golpe no próprio pai. Gente da melhor qualidade.
E antes que brademos contra a Copa ser realizada num país onde os casais héteros não podem andar de mãos dadas nas ruas (nem perguntem o que acontece com os casais homo), devo lembrar-lhes que a FIFA aceitou que Mussolini fizesse uma Copa em 34 e que a ditadura sanguinária da Argentina fizesse outra em 78. Futebol sempre foi um grande negócio e a entidade máxima deste esporte segue à risca a frase do grego Aristóteles Onassis: “Dinheiro não é nada. Muito dinheiro, já é outra coisa.”