É realmente uma pena, mas basta lembrar da Copa da África do Sul em 2010 que as vuvuzelas surgem nos ouvidos. Eram cornetas de cano longo, e o que impressionava era o fôlego dos sul-africanos em soprá-las, parecia que um enxame gigante de abelhas planava acima de cada estádio daquele país que vivia ali sua redenção, ou talvez a consolidação de sua redenção, já que antes da Copa outro Mundial, o de Rúgbi, fora ali disputado, até com mais apelo, por ser um esporte mais querido naquele país, como se não bastasse vencido pelos sul-africanos que sobrepujaram a temível Nova Zelândia na final.
Havia estádios que não ficariam prontos até a abertura da Copa, que de fato estrearam cheirando à tinta. Chegou-se a cogitar repetir a Copa na Alemanha, enquanto a delegação de Marrocos berrava inconformada nos corredores da FIFA, uma vez que vencera todas as etapas até ali, mas perdera nos estertores finais. E nem foi por causa do Mandela. Foi o clássico “faz-me-rir”, propina da grossa, confessada pela própria FIFA.
Foi uma Copa sem estreantes. A Eslováquia não foi considerada pela FIFA como estreante, já que disputara como Tchecoslováquia. Porém a República Tcheca foi considerada estreante na Copa anterior, na Alemanha. Nós sabemos que esta não foi a primeira, nem a maior incoerência da FIFA…
Coisa parecida aconteceu com a Sérvia, mas ali o negócio nem foi com a FIFA, mas com a própria Sérvia. Em 98, na França, a Iugoslávia estava reduzida aos territórios de Sérvia e Montenegro. Mas foi como Iugoslávia que disputaram. Em 2006 disputaram com o nome de “Sérvia e Montenegro”, mas se separaram meses antes do início da Copa. Talvez para não avacalhar com o álbum de figurinhas, foram com este nome mesmo. Em 2010 a Sérvia, sozinha, disputou a Copa, mas a FIFA estava com enxaqueca de tentar entender aquilo tudo e considerou que não se tratava de uma estreante. Foi também a Copa com a presença das duas Coréias.
Ah, e além das Vuvuzelas, tivemos a Jabulani, a bola oficial, que não bastasse ter uma aerodinâmica revolucionária, tinha também vontade própria e ia do jeito que queria em direção ao gol ou, na maioria das vezes, para lugar nenhum. Os times reclamaram muito, com destaque, adivinhem, para a Argentina. Carlito Tevez chegou a dizer que se fosse outra bola teriam ido mais longe.
Também tivemos “Waka waka”, a música oficial cantada por Shakira, que era bem legal. Foi a Copa onde um polvo, chamado Paul, que “morava” num Aquário Público na Alemanha, ia acertando as vitórias de sua seleção, até a derrota para a Espanha. Aliás ele acertou a vitória da Espanha na final. O, digamos, método de Paul era puxar um cartão com a bandeira do vencedor.
E tivemos, enfim, a Espanha. Uma seleção que tinha 6 entre os 15 melhores do mundo, vamos lembrá-los: começando com Casillas, o melhor goleiro do mundo à época. E Xavi, Iniesta, Fábregas, Villa e Fernando Torres. Já tinham sido campeões da Eurocopa e chegaram voando, comandados por Vicente del Bosque. Depois ganhar tudo nas Eliminatórias, os espanhóis estrearam na África do Sul perdendo para a Suíça. Depois fizeram a obrigação de vencer Honduras e Chile. E no mata-mata foram de 1×0 em 1×0, contra Paraguai, Portugal e Alemanha, e com este placar ganhou da Holanda na final.
Outro destaque foi o Uruguai, quarto colocado, trazendo um time interessante com o bom Diego Forlán, o melhor ainda Luis Soares e o destrambelhado, ou melhor “Loco” Abreu que decidiu matar o Uruguai inteiro do coração com suas cavadinhas nos pênaltis.
O Brasil foi comandado por Dunga, em sua estreia como técnico, auxiliado por Jorginho, em sua estreia como pastor evangélico – nada contra, mas foi só o que ele fez ali. Sem levar Neymar nem Ganso, considerados jovens demais, fomos até as quartas, caindo diante da Holanda.
Mas mesmo de um a zero em um a zero, foi legal ver a Espanha campeã, coroando sua melhor geração. Os vários (e violentos) ataques do exército espanhol à cidades holandesas que ocorreram entre 1572 a 1579 no imbróglio entre os dois países ficou conhecido como a “Fúria Espanhola”. Quis o destino que Espanha e Holanda estivessem, mais de quatrocentos anos depois, em lados opostos para outra batalha. Mas desta vez dentro das quatro linhas, e era apenas um jogo, onde também mencionamos a “Fúria”, só que (ainda bem) apenas como força de expressão.
Copa do Mundo de 2010
- Local : África do Sul
- Período: 11/06/2010 a 11/07/2010
- Campeã: Espanha; vice: Holanda
- Colocação do Brasil: 6º lugar