Ninguém viu todas as Copas mas a da Itália em 90 foi a mais chata de todas. A começar pelo mascote, que parecia um boneco de lego com a cabeça em forma de bola porém sem o desenho de um rosto. Teve a menor média de gols por partida da história das Copas.
E a partir de depois dela que foi mudada a regra de recuo para o goleiro, que não mais poderia pegar o recuo com as mãos e da vitória, que passaria a valer três pontos. Foi tão esquisita que a Alemanha conseguiu ser campeã pela primeira vez sem ser desmancha-prazeres: em 54 ganhou da Locomotiva Húngara e em 74 do Carrossel Holandês, talvez com justiça em ambas, mas tirou o título dos xodós da torcida. Em 90 ganhou da Argentina com Maradona já em seu ocaso, o que serviu para aquela geração de Hermanos dizer ao mundo que não dependia de um só, e que pelo menos não fazia feio em relação à geração de 78 ou mais ainda, podia bater no peito e dizer que chegou onde chegou sem “peruada” nem roubalheira, pronto falei.
Mas teve coisas legais, claro. Foi a primeira Copa com jogos específicos para vídeo game. Foi a Copa em que pela primeira vez todos os campeões mundiais até então estiveram na mesma edição, juntos. Teve Maradona impedindo um gol da União Soviética – a última copa da URSS – com a mão, mas dessa vez “la mano” dele mesmo, sem que o juiz visse, de novo. Foi a Copa de Camarões, que começou ganhando da Argentina, atuais campeões, se classificando em primeiro no seu grupo. Despachou a Colômbia nas oitavas e caiu por pouco diante da Inglaterra nas quartas, perdendo por 3×2. O destaque camaronês era Roger Milah, um figuraça, bom de bola, que comemorava os gols sambando como um brasileiro – segundo ele mesmo.
Foi a Copa onde pela primeira vez a maioria dos jogadores da Seleção Brasileira, 12 dos 22 convocados pelo técnico Sebastião Lazaroni, atuava em clubes do exterior. E também foi uma seleção meio assim sei lá… Houve muita desunião nos bastidores, brigas com o patrocinador, a Pepsi (chegaram a posar para a foto oficial tapando o logo da fábrica de refrigerantes e a CBF deixou por isso mesmo), e pouca produção em campo. Deixamos a Copa com quatro gols – dois de Careca e dois de Muller, caindo nas oitavas de final ante a Argentina com um gol de Canigghia.
Nossa seleção inovou com um líbero, o bom Mauro Galvão, que jogava pelo Botafogo. Nem Lazzaroni nem Mauro Galvão pareciam saber ao certo o que deveria fazer um líbero. Nosso camisa 10, Silas, era reserva desde o começo, sendo a maior desonra à camisa 10 mais icônica do futebol mundial. A segunda maior se daria na Copa seguinte, com Raí resolvendo desaprender a jogar futebol, mas essa seria outra história. Com uma defesa tão vulnerável e confusa, mesmo com a presença de um dos melhores zagueiros do mundo à época, Ricardo Gomes, capitão do time, teve que caber a um esforçado volante que havia sido destaque na medalha de prata olímpica em Los Angeles, seis anos antes, tentar defender o Brasil.
Dunga foi realmente um destaque, mas acabou símbolo de uma Seleção tosca, desarrumada, pouco inspirada, boba, e de uma época que ficaria conhecida como “Era Dunga”. A imprensa não perdoou (nem Deus perdoaria) a falta de inspiração naquele time, cujo volante que tentava fazer tudo certo chamava a atenção. Um jogador esforçado, sem a menor categoria, ser o destaque de um time com aquele peso de tradição era digno de muito incômodo. O destino acabou sendo muito generoso com ele, que acabou virando capitão do time na Copa seguinte com direito a erguer a taça berrando palavrões contra a imprensa ao lado de Al Gore que o aplaudia sorrindo. Depois, Dunga estrearia como técnico comandando a Seleção na Copa de 2010, deixando como legado ter esquecido de propósito Neymar no Brasil, na única Copa em que ele teria atuado com plena seriedade.
Não temos nada contra o cidadão gaúcho Carlos Caetano Beldorn Verri, apelidado pelo tio com o nome de um dos anões da Branca de Neve por sua baixa estatura perto dos primos quando criança. Pelo contrário, fazemos questão de lembrar sua injusta elevação como símbolo negativo de uma Copa que preferimos esquecer.
Copa de 1990
- Sede: Itália
- Período: 08/06 a 08/07/1990
- Campeão: Alemanha; Vice : Argentina
- Colocação do Brasil: 9º lugar