O que levaremos de bom de 2020? Talvez nossa superação. Mas, a despeito de ter sido um ano marcante com muito de ruim, houve, no campo dos filmes e séries, boas produções que até merecem um pódio, nos moldes que Sem Pipoca já fez para os filmes clássicos. Destacamos três séries para o Pódio. A fim de evitar o chororô, os filmes de destaque estão no nosso já tradicional “Tapetão” com uma breve descrição. E há uma Menção Honrosa no final.
Enfim, 2020 merece ser lembrado porque vimos:
Better call Saul
O spin off de “Breaking Bad” vinha de quatro temporadas e ano passado passou em branco. Para este ano, a quinta e penúltima temporada surpreendeu mesmo que a gente soubesse o que ela traria, que é finalmente a intersecção com a série que lhe deu origem.
Rapidinho, para todo mundo entender: “Breaking Bad” conta a história de Walter White, um professor de colégio que vira um dos maiores e mais sanguinários produtores de drogas dos EUA. Neste caminho ele topa com o (aparentemente) advogado-de-porta-de-cadeia Saul Goodman que também é ligado com parte do tráfico e se torna um grande aliado nos projetos de White.
O slogan da propaganda que Saul faz pela cidade – “É melhor chamar o Saul” – vira o título da série que conta a sua história desde o começo da carreira até se encontrar com o Universo de Breaking Bad, o que acontece precisamente na temporada deste ano.
Se deu para entender pouco, é mais um motivo para assistir. Sim, ajuda ver antes Breaking Bad.
O gambito da rainha
Uma série sobre uma enxadrista – menina órfã, criada num orfanato, onde aprende com um zelador a jogar. O xadrez passa a ser o sentido de sua vida e por onde canaliza suas disfunções, sua luta com o vício por calmantes e a sensação de abandono e distanciamento do mundo “normal”.
Série muito bem conduzida, com um texto tocante mas sem ser vitimista, e uma atriz principal que sabe dar um charme à esquisitice de sua personagem. Bem se diga que é, repetimos, uma série sobre uma jogadora de xadrez, e não sobre xadrez.
As cenas das partidas de xadrez conseguem ser emocionantes mesmo para os não iniciados no jogo. Com o tempo, vai-se também aprendendo sobre este hermético jogo, inclusive que o título da série é sobre uma jogada e não sobre uma monarca de pernas tortas.
A repercussão da série acabou lançando luz e debates sobre o jogo, o que é natural. Mas realmente não precisa saber xadrez para curtir. Ver aliás neoamantes do xadrez discorrendo sobre os aspectos do jogo mostrados na série é tão chato quanto ver aquelas discussões sobre vinho. Dá até vontade de relembrar Millôr Fernandes que dizia que “o xadrez desenvolve a inteligência para jogar xadrez”. Mas se passarmos por isso, teremos momentos de enlevo com esta série.
The Mandalorian
Este redator pode contar com autoridade que para assistir e curtir “The Mandalorian” não é necessário ser afeito ao universo de “Star Wars”. Eu consigo saber apenas quem é o Chubaca (sabemos que não é assim que se escreve, mas tenham paciência comigo) e o Darth Vader. Isso não impediu de ter a curiosidade despertada por esta série – e a chave para o interesse foi a pitada de Faroeste (gênero de minha predileção) com a Ficção Científica. E o casamento dá liga.
A série conta a história de Din Djarin, um caçador de recompensas intergaláctico, cuja presença na tela é um misto de John Wayne com Clint Eastwood. Em meio aos desdobramentos de sua, digamos, profissão, ele recebe uma missão de proteger uma “criança” – uma alienígena bebê, que remete ao Yoda, personagem consagrado da Saga, só que infantil. A vida de Djarin muda e sua jornada passa a ser de um pária a um potencial herói, ainda que ele não pareça ter muita disposição para isso.
Há uma reverência e respeito ao histórico e à mitologia de Star Wars. Quem é fã da franquia vai gostar e quem não tinha muita proximidade vai poder aproveitar e se divertir. São duas temporadas, com a promessa de uma terceira – uma incógnita, pois a “missão” de Din Djarin parece ter se completado.
De resto, nomes respeitados como Robert Rodriguez assinam a direção dos episódios. E para nós, os maníacos de “Breaking Bad” e “Better call Saul”, este “The Mandalorian” traz Giancarlo Esposito, aqui também como o vilão que adoramos odiar.
Tapetão
Escolhemos três filmes, todos na Netflix…
“O Poço”: uma ficção científica que traz uma prisão onde a comida é distribuída de uma forma espacialmente cruel. Um filme complexo, que gera discussões filosóficas, religiosas e morais. Mereceu um episódio em nosso Podcast.
“Era uma vez um sonho”: A história de um menino criado na dureza e nos rigores do interior dos EUA, contada em tons poéticos, ainda que por vezes um tanto melodramáticos. Não é perfeito mas vale pela crueza e força da narrativa, e por Glenn Close e Amy Adams, vencedoras do Oscar de Atriz e Atriz Coadjuvante do ano que vem. Sim… a gente aposta.
“Rosa e Momo” : Momo é um menino negro, filho adotivo de um médico, que rouba uma senhora na rua, em Nápoles. Esta senhora, Sophia Loren em todo o seu esplendor, é uma judia sobrevivente do holocausto, ex-prostituta, que vive como tutora de filhos de suas ex-colegas. O pai adotivo de Momo, como forma de se desculpar, paga para Rosa ser tutora também de seu filho. Drama para mais de metro, para quem gosta um prato cheio. Para quem não gosta tanto assim, vale uma olhada.
Menção Honrosa
O Pódio e o Tapetão foram para produções que estrearam este ano. Por isso demos uma Menção Honrosa para esta série, que foi exibida entre 2013 e 2018, mas foi resgatada pela Amazon Prime este ano. Falamos de “The Americans”, série que conta a história de um casal de espiões russos, da KGB, que mora em Washington se passando por uma família americana comum, com filhos nascidos na América. Tudo isso em pleno recrudescimento da Guerra Fria, nos Anos Reagan. A reconstituição dos anos 80 é cuidadosa e a série prende e surpreende. Para quem não viu quando passou no FX, agora tem uma nova chance no streaming.
Serviço
“Better Call Saul”, quinta temporada (EUA, 2020). Direção Vince Giligan. Com Bob Oderkink, Jonathan Banks, Giancarlo Esposito. Na Netflix
“O gambito da rainha” (“The Queen´s gambit” , EUA 2020) Direção: Scott Frank. Com Anya Taylor-Joy, Bill Camp, Marielle Heller. Na Netflix
“The Mandalorian” (EUA, 2019/2020). Direção Geral: Jon Favreau. Com Pedro Pascal, Gina Carano, Giancarlo Esposito. No Disney+