A abertura da abertura foi feita pelo turbante que é mascote da Copa, o La´eeb. Colocar um turbante no lugar de um óbvio camelo foi uma solução criativa, ainda que 95% das pessoas digam que La´eeb se trata de um fantasma. Seu nome traduzido fica algo como “habilidoso”, mas num sentido que cabe para qualquer coisa, como fazer bolo, tocar violão – menos jogar bola, já que por aquelas plagas nunca se viu um craque. A imprensa tentou traduzir para “craque”, mas os próprios repórteres entenderam que até forçar a barra tem limite.
Além do mais, o camelo, animal símbolo do deserto onde se assenta o país, não é o animal símbolo oficial do país, posição ocupada pelo… tubarão baleia. De fato vimos uma coreografia até interessante de tubarões baleia, que evoluíram a partir do mar para o estádio, tendo ao fundo uma narração feita por Morgan Freeman de um bonito texto reflexivo. Este tom do texto foi mantido quando a câmera cortou para o estádio e o veterano ator apareceu ao vivo, continuando a falar sobre paz, superação das diferenças, busca de entendimentos, enfim, parecia que ele estava numa assembleia da ONU. Com ele, entre coreografias e músicas alusivas à cultura árabe, estava o ativista Ghanim Al Muftah, que por conta de uma síndrome, não tem as pernas. Freeman conversou com ele deitado despojadamente no chão, sem precisar assumir uma postura piedosa. Ficou bem resolvido.
Depois entraram dançarinos , quase todos homens, performando a Ardah, dança típica árabe, com trajes da região – inclusive espada. Ao som de tambores, entraram os uniformes das seleções participantes, só os uniformes, como se fossem bonecos de Olinda literalmente sem pé nem cabeça. Apareceram as bandeiras dos países e foram entoados gritos de torcidas das Seleções. Foi difícil entender a parte dos gritos, inclusive algumas torcidas foram filmadas apáticas, por não entenderem que gritos eram aqueles. O locutor do canal por onde este colunista assistiu disse “agora cantam o nosso ‘olê, olê, olá’”, mas não deu para ouvir de jeito nenhum.
Daí se deu a parte mais tocante e simpática da cerimônia: os mascotes das Copas anteriores entraram, inclusive nosso Fuleco. O último foi La´eeb, que na forma concreta, sem ser um desenho, ganhou sorriso e olhos mais vivos, ficando mais simpático e menos fantasma. Repassaram também as músicas-tema de Copas anteriores, como “The Cup of life” cantada por Ricky Martin em 98 na França (a do “allez, allez, allez!”) e “Waka waka” com Shakira para 2010 na África do Sul. Uma sobreposição de sons confundiu a entrada de Fahad Al-Kubaisi cantor local, que defendeu junto com o líder da banda de k-pop, o coreano Jungkook, a música-tema desta Copa, “Dreamer”, que resume o espírito da mensagem desta abertura, convidando-nos a todos para sonharmos em um mundo tão inóspito.
O Emir do Catar tomou então a palavra e fez um curto discurso. Uma quebra de protocolo, pois o chefe de estado do país sede apenas diz “Declaro aberta a Copa do Mundo FIFA , daí diz o nome do país e o ano. Se as vaias deixarem, ele pode arriscar em inglês um “welcome”. Mas, caso único na história, é a segunda Copa sem vaias ao líder nacional, já que Putin também foi ouvido em obsequioso e principalmente medroso silêncio.
O foguetório no final foi clichê até a unha, mas foi bonito. O Catar reconhece não ser do ramo, e fez o que pôde com os estádios muito bonitos e, respeitosamente, nesta abertura, reconhecendo outras Copas de mais apelo. Ficou bonito e delicado.
Ficamos de ver o que sua seleção fará em campo. Muito provavelmente supere a da África do Sul e saia na primeira fase como os “Bafana” só que perdendo todas e sem nem fazer gols. O esporte nacional do país é o críquete, equivalente ao nosso taco (em alguns estados se chama “betes”), só que com algumas frescuras. Pode ser que o futebol não os comova e continue uma pátria sem chuteiras. Sem problemas, A intenção desta Copa nunca foi essa, mas sim e$$a.
Não deixe de ler a resenha do nosso Editor, Ricardo Marques sobre “Catar x Equador”, partida de abertura.
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