Ricardo Marques
Existe um dito na sabedoria popular que diz que você nunca sabe quando chega ao fundo do poço. Em síntese, é uma metáfora que descreve a situação de uma pessoa em absoluto desespero, sem saída, e com a sensação de que as coisas não podem piorar. Mas que ao mesmo tempo, de tão imprevisível que é a situação, fica dificil saber se você realmente já passou por tudo de ruim que poderia acontecer.
Alguns otimistas preferem ver o fundo do poço como um ponto de virada. Uma oportunidade de mudança e crescimento. Que a partir de certo ponto, as coisas não irão piorar e com todo o aprendizado acumulado pelas adversidades vivenviadas você se torna mais resiliente, mais confiante e capaz de superar seus problemas.
Bom… eu acredito no fundo do poço. E eu sei que para chegar lá, temos um árduo e doloroso caminho. Sei também que até chegar lá, a gente sempre descobre que quando você pensou que chegou no fundo do poço, em algum lugar tem um alçapão pronto para levar você mais a fundo. O poço fica cada vez mais fundo, mais escuro… mas ele chega ao fim. O problema é que você está tão debilitado, cansado, frustrado, destruído de tantas formas que chegar ao fundo do poço é o fim… uma espécie de “anti-objetivo”. E que ao chegar lá, você sabe que não resta mais nada a fazer. Você ali chegou… você ali permanecerá. A boa notícia – se é que existe uma – é que pelo menos, não tem mais um alçapão.
Eu não acho que estou no fundo do poço. É verdade que muitas vezes eu pensei que tinha chegado lá. Mas depois de um tempo, percebi que havia um alçapão e o poço ainda estava longe do seu fim. Mas eu sinto que eu já estou próximo ao fundo. Olho para cima e percebo que há muito tempo eu deixei de enxergar a saída do tal poço. Olho para onde estou e vejo o quanto as coisas estão ruins e que ainda algumas coisas podem piorar. Ou seja, não importa o ponto em que eu estou… eu já perdi a esperança. Em relação a esperar, só estou esperando encontrar a tampa do próximo alçapão.
Uma sucessão de fracassos
Não dá para ganhar todas. E a vida funciona – ao menos em teoria – da mesma forma. Nem sempre a gente consegue o resultado que deseja. Uma prova na escola que não conseguimos uma boa nota, um namoro que chega ao fim sem uma boa razão, a saída de um emprego de forma inesperada, um prejuízo financeiro qualquer… eventualmente uma doença que nos pega de jeito. Enfim… nem sempre a gente consegue o sucesso. Quase sempre encontramos um ou outro fracasso.
E aí – na vida – o plano é ter mais sucessos do que fracassos. Pois nossa história se constitui justamente disso… contar como nossos sucessos e fracassos nos levaram até aquele ponto da vida. E até onde me parece razoável, cada um poderá contar sua história a partir justamente do que foi perdido ou conquistado.
Acho que eu não sou exceção… Eu preciso reconhecer que eu consegui alguns sucessos. Encontrei um grande amor para a vida inteira, com esse grande amor geramos duas filhas lindas e geniais e elas parecem ser bem felizes. Reconheço também que ao longo da vida eu até consegui alguns pequenos sucessos que renderam boas histórias. Mas a lista dos fracassos… bom… essa é muito maior. Em todos os aspectos – bom… quase todos – eu posso afirmar que fui bastante competente em fracassar.
Eu não faço a menor ideia de como você separa os diversos aspectos da sua vida, mas eu separo por segmentos relativamente simples: educação, saúde, relacionamentos, família, finanças e por fim, a vida profissional. E que fique claro que estes segmentos estão listados por ordem de importância ou relevância. Eu apenas os listei aqui… e agora eu quero que você entenda por que eu sou o fracasso que sou…
Mas não dá para escrever todos os meus fracassos em um único texto. Eu volto aqui para contar cada um destes segmentos… vou contar todos os meus fracassos. E ao fim, você entenderá porque razão eu acredito no tal fundo do poço.
É um fato… você não sabe onde ele está. Nem quando chegará nele. Mas ele está lá… ansiosamente esperando por você.
