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Um adorável rabugento

Adaptações para o cinema de livros de grande sucesso podem trazer grandes obras como a trilogia de “O Senhor dos Anéis” ou mesmo terríveis decepções, como a série “Harry Potter” para aqueles que leram o(s) livro(s). Mas aqui, em “O Pior Vizinho do Mundo” temos Tom Hanks como um adorável rabugento.

Um filme que não é o que parece

Antes de começarmos, não espere encontrar neste filme uma obra de profunda reflexão sobre nossa existência ou então de eventos apoteóticos como encontramos em filmes como “O Resgate do Soldado Ryan”, “O Náufrago” ou “À Espera de Um Milagre”, todos eles estrelados por Tom Hanks. Temos aqui aquele filme que serve para aquecer nossos corações. Mas que talvez tenha errado na sua estratégia de divulgação

A tradução do título original não serve para nos dar uma boa indicação sobre o filme. No original, o filme se chama “A man called Otto” e é uma adaptação do livro sueco “A man called Ove” (no original, “En man som heter Ove”) do escritor Fredrik Backman. E curiosamente, não é a primeira adaptação para o cinema. Em 2015, um filme escrito e dirigido por Hannes Holm foi apresentado ao público, com uma boa recepção. O filme inclusive foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2016, mas perdeu para o filme iraniano “The Salesman”.

Outro ponto diz respeito ao trailer. Eles nos dá a falsa impressão de que se trata de um filme clichê, onde um homem idoso e rabugento se mostra mal humorado e impaciente com as pessoas. Em seu caminho, crianças e vizinhos que adoram testar sua paciência e limites. Todos os ingredientes de uma eventual e típica comédica de sessão da tarde.

Mas o filme não é nada disso…

Uma nova família em um lugar improvável

O filme conta a história de Otto Anderson. Ele é viúvo e apegado aos seus valores e modo de vida bastante pessoal. Os eventos do filme começam cerca de 6 meses depois que Otto perdeu sua esposa Sonya. Isso fez com que ele se tornasse um excêntrico bastante meticuloso. Mas na verdade ele está amargurado, pois percebemos que Otto perdeu tudo aquilo que mantinha a integridade de sua vida.

Em nenhum momento o filme diz isso, mas Otto sofre profundamente com tudo isso. Deprimido, ele simplesmente não quer mais aquilo. Tanto é verdade que por 2 ou 3 vezes no filme ele tenta cometer suicídio. Aos poucos vamos conhecendo a rotina de Otto. Quando jovem, ele foi impedido de servir o exército por conta de uma cardiopatia. Curiosamente, esta rejeição permitiu que ele conhecesse sua esposa. Ele devotou sua vida à sua esposa e a seu trabalho, mas a vida se encarregou de negar a ele a realização de seus sonhos.

Ao mesmo tempo em que a vida de Otto nos é revelada, também aprendemos sobre sua relação com seus vizinhos. Otto era uma espécie de síndico de seu bairro, mas acabou por ser afastado desta função quase ao mesmo tempo em que sua empresa forçou sua aposentadoria de seu trabalho. Ele também tinha um vizinho, amigo de longa data que sofria com problemas de saúde, além de sua esposa ter um diagnóstico de Alzheimer. Perceba que com isso, Otto ia aos poucos perdendo todas as referências sólidas de sua vida e com isso, o próprio sentido de sua vida.

Mas as coisas começam a mudar quando uma família jovem se muda para sua vizinhança e ali temos um ponto de virada na vida do Otto. A família é cheia de vida e atrapalhada. A esposa, Marisol, mãe de duas meninas adoráveis, esposa de um marido bastante atrapalhado e grávida. E ele a conhece justamente no momento em que ele está tentando se suicidar por enforcamento. A tentativa falha, e a partir deste ponto a vida de Otto também.

As lições de “O pior vizinho do mundo”

O filme é uma visão bastante sensível de como uma pessoa pode reencontrar a alegria de sua vida, ainda que nos lugares mais inusitados. Otto redescobre pequenas alegrias, novas pessoas para se importar e enfim, uma nova perspectiva para o seu mundo.

Apesar de tudo, o filme é bastante pé-no-chão quando mostra que a vida segue seu ritmo e para alguns, o final pode ser bastante frustrante, porque fica claro que a vida real simplesmente acontece. Nós só estamos um tempo por aqui. Mas enquanto estamos por aqui, podemos sim encontrar bons motivos para que nossa estadia aqui seja a mais feliz possível.

Vale muito à pena conhecer Otto, ou quem sabe Ove, o personagem original do livro… tanto o filme como o livro são ótimos e apesar de algumas sutis diferenças a essência da história é a mesma: ter um propósito na vida é essencial. E podemos encontrar pessoas importantes para nós nos lugares mais inusitados.

Ah, sim! Eu quase ia me esquecendo. Vale a referência de que foi o próprio filho de Tom Hanks (Truman Hanks) que interpretou Otto nas cenas em flashback. Uma pequena sutileza que vale a pena conhecer.

Serviço

Publicado em:Opinião,Sem Pipoca

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