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Onde estão os mutantes?

A franquia de jogos Fallout é um sucesso e disso ninguém duvida. Eu mesmo sou fã da série desde o seu lançamento em 1997. O jogo original é bem diferente dos últimos títulos da franquia. Mas a ambientação em um mundo pós apocalíptico em um futuro retrô é a marca da série. Como muitos títulos de sucesso nos games; caso de Uncharted, Last of Us, Tomb Raider, Resident Evil, e mais recentemente Super Mario e Halo, uma adaptação para cinema ou TV acabou acontecendo. E no último 10 de abril fomos brindados pelo serviço de streaming da Amazon (Prime Video) com o ótimo Fallout. E sim… a série é muito boa. Com uma história digna do universo Fallout e bastante canônica. Mas, apesar da indiscutível qualidade da série eu tenho que perguntar… onde estão os mutantes?

Feita para todos os públicos

Vamos tirar os elefantes da sala… a série é boa. Muito boa! E algo bastante positivo para a série é que você não precisa ter jogado nenhum jogo da franquia para acompanhar a história. Mas é claro que para quem é iniciado nos jogos a diversão vem em dobro porque a ambientação e o resgate de elementos que você viu nos jogos estão ali. O trabalho de ambientação e caracterização foi fantástico e mesmo elementos que compõem o cenário são muito fiéis à estética que foi trabalhada nos jogos.

O universo de Fallout finalmente ganhou um versão televisiva

Uma preocupação que existe sempre que um jogo é adaptado para televisão ou cinema é o quanto ela conseguirá ser fiel ao universo do jogo e se ela será algo que vale a pena assistir ou não. Alguns filmes e séries fracassaram nesta missão (basta lembrar de Prince of Persia, Street Fighter, Mortal Kombat, a primeira versão do filme Supe Mario, entre outras bombas). Mas Fallout não. Você realmente ali vê o mundo de Fallout ali estabelecido. E mesmo que você não tenha jogado Fallout, é bom conhecer ao menos o plot inicial.

Um pequeno background

Inspirada em outro jogo eletrônico – o não tão aclamado Wasteland de 1988 – o jogo original mostra um mundo devastado por um guerra nuclear. Antecendo ao conflito, temos um mundo onde as grandes potências nucleares são os Estados Unidos e a China e existe uma disputa por recursos energéticos valiosos como petróleo e urânio, que estão cada vez mais escassos. Ao mesmo tempo, a América era assolada por um grande epidemia viral que só piorou a paranoia do país. Como resultado, os EUA invadiram o México, anexaram o Canadá. A China por sua vez invadiu o Alasca. A Europa se fragmentava em cidades-estados e tudo caminhava para um novo grande conflito.

A América pré-guerra… escassez de recursos e a guerra iminente com a China

Prevendo este grande conflito de proporções catastróficas, o governo americano preparou enormes estruturas que funcionariam como abrigos para a população em um mundo que seria devastado pela guerra nuclear. Surgem então os Vaults que além da proteção contra o inverno nuclear, abrigariam a população por um período longo o suficiente para que o país pudesse ser repovoado pelos habitantes do Vaults.

A guerra finalmente aconteceu em 23 de outubro de 2077 e durou apenas 2 horas. Foi tempo suficiente para a destruição global.

Em apenas 2 horas, o mundo foi devastado pelas bombas nucleares

Os jogos da série se passam muitos anos depois que o conflito aconteceu (a exceção de Fallout 76 que se passa tão somente 25 anos após o conflito), sendo que somente em Fallout 4 é que vimos pela primeira vez alguns eventos ocorridos antes da guerra. O fato é que todos os jogos lidam com as consequências do conflito nuclear em maior ou menor proporção.

A série

Diferentemente dos jogos, a série faz algo que muitos fãs adorariam ver nos jogos: o pré-guerra. Embora a trama principal aconteça em 2296 (alguns anos após os eventos de Fallout 4), temos muito flashbacks mostrando eventos ocorridos antes da guerra que explicam de forma muito satisfatória muita coisa que vimos nos jogos. E é complicado contar sobre isso sem dar spoilers. Vou dizer apenas que finalmente entendemos toda a podridão por trás das grandes corporações como Vault-Tec, RobCo, West Tek e outras.

Temos três protagonistas que mostram três realidades distintas: a principal é Lucy MacLean, habitante do Vault 33 que durante as festividades do seu casamento com um habitante do Vault 32 descobre que o mesmo foi destruído e invadido por Raiders que sequestram seus pai. Ela sai do Vault em busca dele, que aliás, é o supervisor do Vault 33. Outro protagonista é o Ghoul Coop, que antes da guerra era o famoso ator Cooper Howard. Na ocasião, ele era casado com uma funcionária do alto escalão da Vault-Tec e também é o garoto-propaganda da empresa na apresentação dos Vaults (ok… um spoiler: ele é o Vault Boy!).

Cooper Howard é o Vault Boy!

A primeira cena da série mostra Cooper como um animador de festa de crianças, já distante de sua brilhante carreira como ator. As pessoas da festa o ironizam pelo fato dele ter sido o garoto-propaganda da Vault-Tec e ele parece bastante desanimado com a tecnologia dos Vaults e toda a paranoia nuclear. Tudo isso acontece em 23 de outubro de 2077. Sim… no mesmo dia em que a guerra aconteceu. Posteriormente, Coop já aparece como um Ghoul que foi ressuscitado por algumas pessoas que o buscavam para realizar algum trabalho sujo.

Por fim, temos Maximus. Ele é um recruta da Brotherhood os Steel, uma facção militar religiosa que surge em todos os jogos da franquia Fallout. Muitas vezes retratada como uma organização “do bem”, não fica claro quais são suas intenções por aqui. O aspecto messiânico da irmandade é muito melhor trabalhado aqui na série do que nos jogos. Maximus foi resgatado de algum lugar destruído por algum grande conflito e a irmandade passou a cuidar dele. Ele sonha ser um cavaleiro de aço para – nas suas palavras – “machucar aqueles que machuram a ele”.

Lucy, Coop e Maximus… os protagonistas da série

Paralelamente a tudo isto, temos o cientista Siggi Wilzig fugitivo de uma outra facção conhecida como Enclave que carrega consigo um segredo que pode levar ao seu conhecedor o domínio da Wasteland. Em sua fuga, o cientista leva consigo um cachorro que lembra muito o inequecível Dogmeat de Fallout 1 e que é retratado nos outros jogos da série por outros cães. E é aí que os destinos de Lucy e Siggi se cruzam. A partir daí, os eventos da série levam ao encontro de Coop e Max e toda a trama se desenrola a partir daí.

Desenvolvimento

Fazendo honra à sua tradição de ter uma enorme reviravolta na história durante os eventos que acompanhamos, o mesmo acontece por aqui. A gente começa a série onde a missão inicial é o resgate do pai da Lucy, mas por conta dos eventos da série, surgem novos conflitos e motivações. E tudo culmina com um grande confronto entre o protagonista e seus antagonistas. Não é um jogo, mas não faria feio se fosse a história de um.

Como eu disse, a ambientação é fantástica. Quem jogou Fallout vê claramente o universo do jogo ali. O humor negro que caracteriza a série também está presente em vários momentos e os flaschbacks de Cooper dão uma estrutura incrível à toda história. Com oito episódios, a história da série é bem amarrada e deixou muito claro que teremos uma segunda temporada. Que será muito necessária para explicar mais pontos do cânone de Fallout.

A caracterização dos elementos de Fallout está impecável

E temos também a trilha sonora… um sonho com muitas músicas dos jogos e também novas músicas, todas muito coerentes com o espiríto da série. Mas eu sou suspeito para falar, porque eu sou fã da série desde o seu surgimento em 1997. Eu simplesmente sou apaixonada pelo mundo de Fallout. E por conta desta paixão, diferentemente de muito críticos que exaltaram a série, eu tenho que lembrar que algumas coisas ficaram estranhas. Pois é… a série tem uns probleminhas que eu espero que eles consertem em outras temporadas.

A primeira coisa é que houve uma mistura entre os Raiders e os habitantes da New California Republic (que aparentemente entrou em decadência). O pessoal do NCR sempre foi retratado como um povo bem civilizado e com uma estrutura civil e militar bem razoável (vide Fallout 2 e Fallout New Vegas). E os Raiders são basicamente vândalos que destroem tudo à sua frente, o que é retratado basicamente em todos os jogos. Não existe para mim uma explicação razoável para que o NCR e os Raiders tenham se tornado uma coisa só. E por falar em facções… onde estão os Minuteman?

NCR e os Raiders juntos? Peraí… isso é estranho.

Onde estão os Mutantes, os Radscorpions e os Deathclaws?

Agora, o ponto delicado da série: Onde estão os Mutantes?

A maior ameaça dos Ermos simplesmente não aparece na série. Não há um único mutante retratado na série em nenhum episódio. A série foi muito competente em retratar grande parte das facções que apareceram nos jogos (até mesmo uma referência a Ceasar’s Legion existe). Foi além dos jogos em alguns momentos (a Brotherhood é muito mais fiel à sua descrição militar/religiosa na série do que nos jogos onde é retratada como um organização paramilitar). Mas pecou em não trazer os mutantes.

Os mutantes são elementos indispensáveis ao universo de Fallout. E onde eles foram parar?

Ok… eles não são a mesma ameaça desde os eventos de Fallout 1 (que afinal de contas, destruiu o líder deles ao final do jogo), mas eles existem em grande número ainda e estão presentes em todos os jogos. Temos até mesmo uma cidade (Broken Hills) habitada por mutantes e ghouls. Até o momento, em nenhum ponto da série fizeram alguma menção aos mutantes. Mas a série mostra Shady Sands que é a capital da NCR e que está na região da Base Militar de Mariposa, perto de New Vegas e que no final das contas está na região do Vault 13. E ali era recheado de mutantes.

Outras ausências que eu senti foram os Radscorpions que infestam Mojave e também os Deathclaws que são as criaturas mais temidas dos ermos. Ok… muito provavelmente os custos com CGI aumentariam consideravelmente. Suas ausências não prejudicam a história, que reforço, é bem contada e bem amarrada.

Deathclaws e Radscorpions também não deram as caras na série

Mas se alguém aí lembra do jogo original, a Interplay orgulhosamente apresentava o jogo como “By Mutants. For Mutants.”. Algo como “Por mutantes, para mutantes”. Então… não tê-los na série é um tanto estranho. Quem sabe na segunda temporada?

Serviço

Publicado em:Opinião,Sem Pipoca

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