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Fim do Magic em Língua Portuguesa

Em 1993 surgia o jogo de cartas colecionáveis Magic: The Gathering. Criado para ser uma espécie de passatempo durante convenções e eventos de RPG, o jogo ganhou sua própria “alma” e se tornou um sucesso. Com milhões de jogadores e bilhões de cartas já impressas, o jogo tem inclusive versões digitais e toda uma economia baseada no comércio e troca de cartas. E com seu sucesso, as cartas foram impressas em diversos idiomas ao longo de sua existência. E a língua portuguesa estava entre os idiomas do jogo desde 1995, quando o jogo ainda estava em sua quarta edição. Agora, após quase 30 anos, a Wizards of The Coast anunciou o fim do Magic em língua portuguesa.

Um pouco de bom senso, antes de tudo

É bom ter bastante calma ao analisar a notícia. Tem muito influenciador digital que há anos produz conteúdo dedicado ao Magic e está tendo siricuticos por conta da notícia. Alguns acusam a empresa Wizards Of The Coast (WoC) de agir de forma canalha, desrespeitando a comunidade brasileira de jogadores e mostrando que o jogo não é para o nosso país.

Vamos lá… o anúncio é bem claro: Magic não terá novos produtos em português após o lançamento da coleção Modern Horizons 3. A justificativa da empresa está baseada que a venda dos produtos em português não acompanhou o ritmo dos custos, que segundo eles, está cada vez maior. Além disso, a empresa alega que mesmo em países onde o português é a língua nativa, os jogadores preferem cards em inglês. Ainda segundo o anúncio, a versão online continuará com suporte em português.

O movimento da WoC não surpreende. Afinal de contas, no ano passado a empresa encerrou sua representação oficial no Brasil. E na ocasião – não custa lembrar – ressaltamos que a “WoC Brasil” surgiu somente em 2016 e o jogo até então sobrevivia por aqui sem maiores problemas. É claro que uma representação nacional, olhando para o mercado local ajuda bastante. Mas a verdade é que em quase 30 anos de Brasil, somente por 7 anos é que a empresa estava oficialmente por aqui. No restante do tempo, as coisas aconteciam por distribuidores autorizados.

Um mercado que pouco amadureceu

Em todos estes anos diversas lojas pipocaram pelo Brasil. E com mais lojas, surgem mais jogadores. E claro que as cartas no idioma local ajudam no interesse pelo jogo. Não se esqueça que o Brasil não é um país que preza pela edução. O brasileiro médio mal compreende o seu próprio idioma, quem dirá então dominar o inglês. Especula-se que apenas 5% da população tenha algum contato com o idioma.

Outra questão é que o jogador brasileiro médio não tem o hábito de comprar produtos selados. São poucos os jogadores que compram caixas de boosters ou então bundle packs. O mais comum é que os jogadores busquem por cards avulsos. E esta busca começa antes pelas trocas com outros jogadores e eventuais compras nas lojas que vendem cards avulsos.

Faça uma reflexão… quantas vezes você foi a uma loja para comprar produtos selados? E quantas vezes você foi carregando sua “pasta de trocas”? Observando o movimento das lojas, o mais comum é os jogadores conseguirem boosters por meio de premiações em torneios locais. São poucos, bem poucos os jogadores que compram os produtos selados da WoC. E a WoC não ganha dinheiro nos cards avulsos. Ela ganha dinheiro vendendo seus produtos selados. Seus colecionáveis.

O que os estusiastas indignados estão se esquecendo é que o Brasil é um mercado pouco amadurecido e considerandos os entraves logísticos e tributários que existem por aqui, a WoC ganha mais dinheiro vendendo seus produtos selados aos distribuidores do que fomentando uma comunidade local de jogadores. Vender Magic em PT-BR não dá lucro para a empresa e vender produtos selados em ENG dá mais lucro. Simples assim.

E o que vai acontecer?

Algo que deve ficar claro… Magic não vai acabar. Ele continuará firme e forte em mercados rentáveis para a WoC. E por aqui ele continuará também. Existe um segmento de lojistas que dependem do Magic para existir, mas estas lojas também oferecem outros card games, outros produtos so segmento geek e o mais provável é que a comunidade diminua.

Primeiro, porque sem novos cards em PT-BR, não teremos uma renovação da base de jogadores tão intensa como antes. O brasileiro não irá aprender inglês ou outro idioma porque aquele “jogo de cartinhas” parece ser legal. Estamos num momento que as novas gerações são imediatistas. Se elas não conseguem o que querem de modo rápido e fácil, elas perdem o interesse e procuram outras forma de entretenimento.

Segundo, porque é provável que com menos jogadores, teremos um mercado ainda mais encolhido. E com isso é possível que tenhamos um aumento nos preços, o que criará um efeito em cascata: menos jogadores, menos cartas circulando, menos cartas, menos compras, menos produtos, preços maiores para compensar a perda de margem de lucro e isso irá diminuir a receptividade e interesse do jogo. Da mesma forma que a WoC busca o lucro, sua lojinha preferida também faz isso. E se MTG deixar de ser lucrativo, ela irá procurar outros produtos para vender.

Pessoalmente, eu acredito que as importações irão diminuir no médio prazo a um ponto em que novos produtos ficarão inviáveis por aqui. O Magic tornar-se-á um produto de nicho, mais caro do que já é e voltado para uma comunidade bastante reduzida. É um fato que os jogadores antigos continuarão jogando. Mas teremos menos novos jogadores. E nenhum jogo resiste a um cenário sem jogadores.

Mas é um cenário sombrio para o futuro. Ainda temos muitos cards. Temos muitas lojas e muitos jogadores. Então o jogo irá perdurar por um bom tempo. Resta saber quanto tempo até o fim do MTG no Brasil.

Publicado em:Bora Jogar!,Opinião

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