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Soda Stereo e o álbum “Dynamo” (1992)

Buenas! A gente dá uma sumida mas a gente sempre volta! E sempre que voltamos, trazemos alguma pérola que não pode passar desdercebida. A de hoje se encontra em águas muito mais próxima do que o Tâmisa, o Sena ou qualquer outro rio do hemisfério norte, a de hoje vem do nosso vizinho aqui do lado, da Argentina e atende pelo nome de Soda Stereo e hoje falamos de seu disco de 1992, o magnífico “Dynamo”.

Banda formada ainda na década de 80 em Buenos Aires e que tinha em sua formação o hoje finado Gustavo Cerati (voz, guitarras e programações), Zeta Bosio (baixo) e Charly Alberti (bateria). É considerada como uma das bandas mais importantes da história do rock ibero-americano. Banda que enchia estádios em terras portenhas mas que por terras brasileiras, passou despercebida, o que é uma injustiça sem tamanho.

Gustavo, Ztea e Charly… os integrantes do Soda

Depois de se arrebentar de fazer uma interminável turnê do disco anterior, o mega sucesso “Cancion Animal”, a banda entra em um hiato sem data de retorno e Cerati viaja à Londres para se desligar da banda e de acompanhar o que estava acontencendo na cena inglesa, onde ele passava despercebido e não sofria com a hiperexposição de sua imagem, como em sua terra natal.

Em Londres, Cerati cai de cabeça na cena shoegazer e em discos seminais para o chamado rock alternativo que viria a permear todo o rock dos anos 90, como o icônico “Loveless” dos irlandeses do My Bloody Valentine, o absurdo “Nowhere” do Ride e o pai de toda essa barulheira feita com guitarras encharcadas de efeitos e distorções, os escoceses do Jesus & Mary Chain.

Ao voltar para a Argentina, Cerati se junta novamente à seus companheiros de banda para a gravação de um novo disco, mas impõe uma condição: reconstruir a sonoridade da banda partindo do zero, rompendo com o passado e caindo de cabeça na sonoridade que ele importara do Reino Unido.

fac-símile do álbum Dynamo

Gravado e mixado no Estudio Supersónico, em Buenos Aires pelo póprio Gustavo Cerati, contando ainda com a co-produção de Zeta Bosio, e a colaboração de Daniel Melero, o disco é diferente de tudo o que o trio fizera até então. Usando guitarra, baixo e bateria e o que mais a inspiração permitisse (tablas indianas, cítaras, sintetizadores e sobreposições de efeitos) o trio fez seu disco mais soturno e se reinventou. Desconstruindo tudo aquilo que eles ajudaram a erguer, o rock argentino e redescobrindo o prazer de fazer música de maneira coletiva.

Falando sobre amor, mesmo que estivesse vivendo em meio ao caos, sobre as relações humanas e suas mazelas (“Luna Roja” fala sobre AIDS), o Soda Stereo se reinventa e faz seu disco menos ortodoxo, seu libelo de liberdade ante as amarras de sua sonoridade anterior.

Conforme entrervistas da época, fizeram o que queriam, como queriam e onde queriam (seu próprio estúdio) sem se curvar a influências contratuais ou limites, o álbum soa barulhento, guitarreiro, dançante, sem deixar de ser cantarolável, o que resultou em um trabalho único.

“Dynamo” te pega pela estranheza como um redemoinho de sons, ideias e letras, mas quando se é fisgado por sua sonoridade, fica impossível largar. Vira disco de cabeceira, daqueles que você certamente levaria para uma ilha deserta. Coloque seus fones e ouça alto. Bem alto e boa viagem!

Logo menos tem mais.

Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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