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Resiliência

Segundo a Wikipedia, a resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas sem entrar em surto psicológico. Minha definição para resiliência é um pouco diferente: é a capacidade de levar pancadas por todos os lados e assimilar estas pancadas sem perder meu objetivo principal. É como deformar um mola: a mola tem que voltar ao seu estado original…

Tal como uma mola, o resiliente puxa, estica, sofre pressão, mas consegue voltar ao estado original

Ser gerente escolar é um exercício de paciência. Significa aceitar as críticas, receber reclamações, cumprir metas e prazos muitas vezes a qualquer custo. Além de conviver com prazos e processos, faz parte do trabalho conviver com as pessoas… algumas profissionais e éticas, outras, nem tanto. Mal humorado? Pessimista? Vamos aos fatos do dia para entendermos o que acontece.

Qual é a história?

O cenário é o seguinte: a Secretaria de Estado da Educação promoveu um curso em formato de vídeo-conferência (o tal PDG). O curso em si é uma história à parte, contarei sobre ele em outro post. Em determinado momento do dia, liguei para a escola para passar algumas informações para minha vice-diretora. O telefone chama, chama até que alguém atende:

“Alouuuu?” (Sim… arrastado mesmo)

Veja bem, eu liguei para uma repartição pública, um lugar público que tem por obrigação ser identificado no momento que um cidadão entra em contato. Isto é assim na iniciativa privada também: qualquer empresa séria atende a uma ligação informação o nome da empresa com uma saudação cordial… É o que eu espero de um funcionário público profissional. Infelizmente, nem sempre é isso que ocorre. Bom… no caso… não foi isso que ocorreu. Pedi para a pessoa se identificar. Em seguida, me identifiquei e pedi para falar com minha vice-diretora. E aí emendei a seguinte orientação:

“Fulana… nós estamos em uma repartição pública. Quando atendemos o telefone na repartição devemos informar o nome da repartição e nos identificar se solicitado”

A fulana disse que só dessa vez tinha atendido assim e então completei: “ok, mas da próxima vez por favor atenda da forma como expliquei”.

A fulana então largou o telefone e começou a disparar um monte de impropérios em voz alta. Não… ela não estava falando comigo, estava reclamando para alguém do outro lado da linha. Parece que a orientação foi encarada como um puxão-de-orelha e dentre as várias frases, uma se destacou:

“Quem esse moleque pensa que é para dar ordens aqui?”. O moleque em questão provavelmente era eu…

Afinal, quem eu penso que sou?

O episódio em si foi extremamente banal. Uma bobagem. Mas ao que parece alguns funcionários públicos que têm anos de estado entendem que tempo de serviço lhes conferem algum tipo de autoridade suprema ou o direito de berrar a falar o que bem entender… Pois bem, é muito provável que a servidora não leia minha resposta (na hipótese provável que a pergunta era para mim), mas mesmo assim ficará registrada…

Em primeiro lugar, eu não PENSO que sou. De acordo com os registros mais recentes sou Secretário de Escola efetivo designado Gerente de Organização Escolar. Claro que a designação é algo transitório que pode ser cessada a qualquer momento, mas por conta desta designação tenho algumas responsabilidades que aliás estão bem definidas por instrumento legal: Resolução SE 52/2011 publicada em diário oficial em 10/08/2011.

E está lá no seu artigo 7° de forma bem clara:

Artigo 7º – O servidor designado para o exercício da função de Gerente de Organização Escolar exercerá a gestão das atividades previstas nos artigos 3º, 4º, 5º e 6º, responsabilizando-se pelo acompanhamento e controle de sua execução, com vistas ao pleno desenvolvimento dos trabalhos, a fim de garantir o cumprimento das atividades e o atendimento às necessidades da escola.

Aliás, os artigos ali destacados deixam bem claras as funções dos Agentes de Organização Escolar. O texto é grande, mas quem tiver interesse, pode ler o texto, clicando aqui. Portanto, o moleque em questão tem a convicção – amparada por lei – que é funcionário público e que deve realizar seu trabalho com responsabilidade e presteza.

Só estou fazendo o meu trabalho. E tentando fazer com que as pessoas entendam que a secretaria de uma escola não é uma extensão da sala de estar de suas casas. Tentando fazer com que algumas pessoas entendam que o serviço público é impessoal e deve ser realizado sob a égide da lei e dentro do mais estrito profissionalismo.

Amanhã sei que será um dia difícil. Espero não ter que entrar em discussão com a funcionária e espero que meus superiores entendam que quero fazer meu trabalho da melhor forma possível e gostaria que fulanas como a de hoje tenham humildade para reconhecer que precisam aprender a trabalhar como um profissional e não como um puxa-saco. Ser profissional, no meu entendimento, não é apenas ser prestativo e ser um bom quebra-galho no momento de um aperto qualquer.

Tal como uma plantinha em solo infértil, ter resiliência é lutar para prosperar

Novamente estou dando a cara a tapa para fazer o meu trabalho. Provavelmente novamente serei criticado. Só espero que as pessoas antes da crítica, reflitam e percebam que estou exercitando exatamente aquilo que esperam de mim. Esperam que eu seja capaz de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas sem entrar em surto psicológico.

Esperam que eu seja resiliente.

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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