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Meg, ainda nos veremos

Ela chegou em Março de 2012. Eu era recém casado com a Ana Paula e fomos ao veterinário levar o Tobias para vacinação. Ao final da consulta, foi minha esposa que perguntou: “Doutor, tem algum cliente seu que tenha uma gata que tenha dado cria com filhotes para doação?”

Eu não esperava por isso. E não esperava mais ter gatos. Quando o Piolim morreu em 2006 nos meus braços eu estava decidido a não ter mais um animal de estimação. O Tobias foi um presente de casamento para Ana Paula. Então não dava pra recusar… mas… outro gato?

O doutor tinha… e após algumas horas de espera, recebemos ela… orelhas pontudas, olhos azuis, focinho pretinho e bochechas brancas. Raça? Nunca ligamos para isso. Nome? Ainda não tinha. Definimos no caminho de casa… testávamos várias sugestões, nenhuma ficava boa. Nenhum nome caia bem. Até que, já perto de casa, surgiu: “Que tal Meg?”. Os olhos da minha esposa brilharam e ela repetiu: “Meg!”. Começava assim a história de nossa primeira filhota peluda.

Ela chegou em casa com cara de brava e geniosa. Fui brincar com ela quando chegamos em casa e tomei um tapão daquela gata brava, mas adorável. Apaixonei-me. Com o tempo ela tomou conta da casa. E da gente também. Nossas coxas eram seu travesseiro favorito. Vez ou outra ela se escondia debaixo das cobertas e no meio da noite, um par de orelhas surgia para dormir na minha barriga.

Cara de brava desde que chegou em casa… Meg foi nossa primeira filhota peluda

Com o tempo ela começou a crescer e com cerca de 10 meses os hormônios começaram a surgir. Veio o primeiro cio e nas noites mais complicadas ela chamava pelo Raul. Nunca conhecemos o tal Raul, mas ela o chamava incessantemente: “Raul…Raul…Raul…”. Numa destas noites, ela achou uma brecha pela janela do banheiro e pulou no quintal. Resgatamos ela na mesma hora e até hoje me lembro de ver a Ana Paula abraçada a Meg aliviada por ela estar bem. Fizemos então a castração. Foram dias usando aquele pijaminha cirúrgico ridículo. E no mês seguinte, o Raul era página virada. Nunca mais ela chamou pelo Raul.

Meg cresceu e chegou a vida adulta. No final daquele mesmo ano de 2012, foi a vez do Mike surgir em nossa vida. Foi bonito de ver como a Meg adotou o Mike… não sei se como um filhote ou como um irmão mais novo. O fato é que ele era o companheirão dela, reforçando que o que é bom para um gato é outro gato.

Quando Mike chegou em casa, Meg o acolheu e tratou como um filho, ou um irmão mais novo

Desde o início ela se apoderou da casa. Não importa se em cima dos meus livros em minha mesa, não importa se em nossa coxa na hora de dormir, ou em cima dos armários. Pode parecer estranho, mas já sabíamos tudo que ela queria só pelo seu olhar, ou pelo jeito de miar. Curioso que ela sempre queria estar perto de nós. Mas destetava quando pegávamos no colo. Toda vez ela parecia querer dizer “Eu não gosto de pegação”.

Ela adorava ficar por perto… no pé, na coxa, no ombro… só não tente abraçá-la. Pegação não!

O tempo foi passando e a família cresceu. Além do Mike, adotamos a Nina e a relação entre elas era – digamos – protocolar. Elas não se bicavam de jeito nenhum. E a disputa pelo lugar na coxa do pai ou da mãe era um caso sério. Com o tempo, cada uma aprendeu a respeitar o espaço da outra.

Com a chegada da Nina, a coxa do pai ficou bastante disputada

Veio então a Mariana em 2014 e claro que ficamos preocupados como os peludos reagiriam com a presença daquela nova integrante da família. Mas tudo foi tranquilo… tanto a Meg, como o Mike e a Nina receberam a Mariana com imenso carinho. E por muito tempo a família esteve completa assim… Eu, Ana Paula, Mariana, Tobias, Meg, Mike e Nina.

A família cresceu com a chegada da Helena em 2019. Mais uma vez, os peludos acolheram minha nova filha – a nova irmã pelada dos irmãos peludos – E tudo seguia seu caminho. Meg dona da casa, Mike dividindo suas atenções entre Meg e Nina, Tobias ficando cada vez mais rabugento, as meninas crescendo e nós felizes por ter uma família tão linda.

Geniosa, amorosa, carinhosa e dona de si… Esta era nossa Meg

O ano de 2020 foi de imensa tristeza. Perdemos o Mike por conta de uma linha que ele engoliu e que destruiu o trato digestivo dele. Buscamos o melhor tratamento, recorremos à cirurgia… mas ele veio a falecer ainda na cirurgia. Doeu demais… dói até hoje. Mas a gente se acostuma com a dor.

Em 2022, uma nova surpresa… ouço miados em meu quintal, na varanda de casa. Fui procurar e encontrei… uma gata que resolveu que ali seria um lugar seguro para dar cria a dois filhotes. “Ai, meu Deus…” foi tudo que consegui dizer naquele momento. A gatinha estava brava, cuidando com unhas e dentes de suas crias. E tudo que pude fazer naquele momento, foi preparar uma caixinha forrada, um pouco de ração e comida. E assim, ganhei uma inquilina inesperada.

A inquilina logo entrou para a família também… demos a ela o nome de Luna, e aos filhos, Tom e Clara. A Clara depois descobrimos que não era menina, mas menino… e um meninão com bolas enormes… Daí o nome Bolinha. E de repente, nossa família ficou enorme.

É… a Meg não simpatizou muito com a Luna. No final, cada uma ficou no seu canto. Mas ela continuou igualmente dona de si, com seus carinhos, monopolizando nossa atenção. E garantindo seu espaço na coxa. Quantas noites mal dormidas porque a Meg simplesmente resolveu que eu seria seu colchão naquelas noites?

Mas então, quando você acha que tudo está bem, a vida vem e lhe mostra que em nosso tempo por aqui, temos que conviver com o amor e aceitar com a maior serenidade possível, os momentos de dor. E você não tem ideia do quanto ama esses peludos até o dia em que você se dá conta que – assim como nós – eles nascem, crescem e eventualmente partem.

De súbito, Meg ficou bastante doente. Doença renal… parou de se alimentar, beber, brincar, ficava quieta o tempo todo e definitivamente não estava bem. Levamos ao veterinário. Veio o diagnóstico, os exames e o prognóstico… ruim. Ela não poderia ser mais ela mesma e mesmo que tentássemos algo, provavelmente seria mais pelo egoísmo de querer que ela permanecesse aqui do que garantir a qualidade de vida dela.

Deus sabe o quão difícil foi a noite de ontem. Deus sabe o quanto estou me culpando por não ter feito algo antes (se é que poderia ter feito), me culpando por não poder fazer nada, por ficar total e completamente incapaz de fazer algo por ela, a não ser fazer a opção por deixá-la partir em paz, para descansar e não mais sofrer.

Eu me lembro e me lembrarei de todos os dias que nossa filhota peluda brava e geniosa esteve conosco. Ela nos conquistou desde o primeiro dia. Não desistimos dela. Lutamos a boa luta até o último momento. E eu estive com ela até o último momento. Ela não ficou sozinha e eu jamais a deixaria sozinha.

O amor que nutrimos por ela só cresceu e ela nos fez muito felizes. Eu quero acreditar que a fizemos feliz também. Ela pulava pela casa, roubava pedaços de frango e era doida por um sachê de whiskas. Esteve presente em todos os momentos. Quando o Mike chegou em nossa casa ela o adotou como um filhote dela, ou quem sabe um irmão mais novo.

Foi geniosa e adorável até o fim…

E então tivemos que tomar a difícil, mas necessária e inevitável decisão de deixá-la partir. Ela descansou. Está em paz. E por mais que eu e minha esposa estejamos com os corações doloridos e machucados neste momento, sabemos que fizemos o que foi possível para fazê-la feliz. E acho que fizemos um bom trabalho.

Meg nos deixou hoje (19/05/2023), as 20h07. Tinha pouco mais de 11 anos. E onde quer que ela esteja agora, sei que o Mike e o Piolim estarão com ela. E ela estará sempre no meu coração.

Deus… como tá doendo…

Amamos você demais, Meg. E sei que ainda nos encontraremos novamente. Até lá, meu amor.

Post Scriptum

Meus textos para a coluna Noites de Insônia sempre trazem uma reflexão, um desabafo, um respiro… hoje, foi um pouco de tudo isso. Mas é que eu precisava parar de chorar. E queria registrar de alguma forma todo meu amor pela minha filhota peluda. Sei que fiz o necessário e o melhor para ela não sofrer. E como bem lembrou meu grande amigo e irmão de coração, Michel Vieira, que em sua sabedoria, me lembrou aquilo que disse Hipócrates: “Primum, non nocere”. Em bom latim… “Primeiro, não machucar“.

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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