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Meu reencontro com a universidade

O ano de 2009 foi um ano de muitas mudanças. Entrei para o serviço público, quando comecei a trabalhar como secretário de escola. Comecei a fazer planos concretos para finalizar a casa para que eu e Ana Paula finalmente pudéssemos nos casar. E também foi o ano em que eu marquei meu reencontro com a universidade.

Sim… eu havia perdido a faculdade de medicina anos atrás e até experimentei um curso superior em uma universidade particular. Com todo o meu respeito àqueles que estudaram em instituições particulares, preciso dizer algo a vocês. Não é a mesma coisa. Claro que existem ótimas instituições por aí, mas a experiência não é a mesma.

Eu decidi que iria enveredar pela carreira acadêmica. Lecionar… e a ciência mais próxima à ciência médica é a biológica. Assim, resolvi que prestaria vestibular na FUVEST para ingressar na USP no curso de licenciatura em ciências biológicas. Sem cursinho e sem preparação prévia. Decisão de louco. Para não dizer que não me preparei, emprestei alguns livros didáticos da escola onde eu trabalhava e dei uma olhada em alguns resumos. Mas eu estaria mentindo se dissesse que estudei para o vestibular.

A carreira seria acadêmica… licenciatura em Ciências Biológicas

Chegou então a primeira fase. Até hoje é assim: passamos pela peneira da primeira fase que separa quem não tem condições de concorrer a uma vaga daqueles que tem algum potencial. É uma prova de múltipla escolha e você precisa acertar um determinado número de questões… a chamada “nota de corte”. E para aquele ano, em uma prova de 90 questões, a nota de corte para o meu curso seria de 55. Na primeira fase eu fiz 60 pontos. Não era exatamente um desempenho brilhante, mas mais do que suficiente para a próxima etapa.

Na meiúca… nem entre os melhores… nem entre os piores, mas convocado para a segunda fase

Que venha a segunda fase da FUVEST!

As coisas mudaram um pouco em relação à época que prestei medicina. Desta vez, apenas três dias de provas dissertativas. E foram três dias massacrantes. Ao final das provas, uma conclusão óbvia: o vestibular mudou muito. Antigamente exigia-se um conhecimento técnico e objetivo do aluno. Conhecer teorias, fórmulas, exercícios típicos de vestibular. Um ano em um bom cursinho resolvia o problema.

Mas agora o vestibular estava diferente. Exigia um conhecimento analítico. Não basta conhecer a teoria, você deve saber aplicá-la no seu cotidiano ou pelo menos no cotidiano da carreira que você espera seguir. O primeiro dia foi a vez de Redação e Língua Portuguesa. Esqueçam as regras de acentuação, análise sintática e processo de formação de palavras. Em voga, a interpretação de texto, a construção e produção de bons argumentos escritos, avaliação da capacidade interpretativa e capacidade de expressar argumentos. A redação foi um show a parte: não era suficiente conhecer um tema, você deveria criar um tema a partir de uma idéia geral (no caso, o uso de símbolos no cotidiano). Dava para escrever sobre muitas coisas. Resolvi escrever sobre o Brasil real e o Brasil que a propaganda mostra.

No segundo dia, veio o massacre. A prova de conhecimentos gerais reunia todas as disciplinas. Para mim, que estou desacostumado com cálculos e respostas de questões, apanhei bastante. O tempo foi meu maior inimigo. Usei e abusei das 4 horas de prova. E faltou tempo. Novamente, a capacidade de analisar e usar o conhecimento no cotidiano se fez presente.

O terceiro e último dia foi brindado com as provas específicas. No meu caso, 06 questões de química e 06 questões de biologia. Em biologia acredito ter ido bem, apesar de alguns deslizes que cometi na prova. Em química a coisa foi bem mais complicada. Mas confesso que química é algo bem complexo para mim atualmente.

As provas de segunda fase… uma etapa massacrante

Enfim, não podia dizer se passara ou não. “Não sei” era minha resposta mais honesta. Se fosse uma carreira mais procurada como Direito, Medicina ou Engenharia, a resposta seria um sonoro “não”. Mas eu realmente não tinha ideia do nível de preparação dos candidatos ao curso de biologia. O que eu podia afirmar é que durante estes três dias eu fiz a prova com aquela boa sensação de “igualdade”. Ou seja, fiz as provas para concorrer a uma vaga de verdade e não apenas porque dei sorte na primeira fase.

It’s been a long road…

Sou um fã incondicional de diversos seriados… muitos são cômicos, outros são dramáticos, algum suspense e por que não ficção também… Entre vários seriados de que gosto, talvez um deles explique o que aconteceu. Gostaria de falar de Star Trek: Enterprise.

Mesmo para quem não tem intimidade com a área ao ver sobre Jornada nas Estrelas, já lembra do Capitão Kirk, a nave estelar Enterprise. No caso deste seriado, inspirado na série original, o que é mostrado é o início. Afinal, como chegamos até ali? É divertido ver a raça humana inferior cultural e tecnologicamente em relação a outras raças (Vulcanos, Tellaritas, Xindi e outros). Mas não é isso o que importa no momento. A questão é que o seriado mostra (e muito bem) como ocorre a “superação”. Lidar com o desconhecido, aprender com os erros, evoluir.

Longe de discutir ficção científica, quero mesmo falar é do tema de abertura. É uma música cantada originalmente por Rod Stewart e que define bem o que para mim significa “superação”. A seguir, a letra da música. Em inglês… perdoem-me, mas a letra traduzida não me causa o mesmo impacto. Se quiserem, podem ver abertura do seriado no YouTube, através deste link. ou pelo Spotify.

Faith oh the Heart (versão abertura da série)
(Russel Watson)

It’s been a long road
Getting’ from there to here
It’s been a long time
But my time is finally here

And I will see my dream come alive at last
I will touch the sky
And they’re not gonna hold me down no more
No they’re not gonna change my mind

‘Cause I’ve got faith of the heart
I’m going where my heart will take me
I’ve got faith to believe
I can do anything
I’ve got strenght of the soul

And no one’s gonna bend or break me
I can reach… any star
I’ve got faith (I’ve got faith)
Faith of the heart

E porque, afinal de contas, estou falando sobre isso? Oras, é simples. Hoje, eu vi o resultado da Fuvest. E eu fui aprovado para o curso de Ciências Biológicas na USP… E acreditem… foi um longo caminho conseguir chegar até aqui.

O nome estava ali… eu havia sido aprovado na primeira chamada.

Uma segunda chance

Escrevi tudo isso porque hoje fiz minha matrícula. Finalmente posso dizer que sou acadêmico do curso de Ciências Biológicas do Instituto de Biociências da USP ou simplesmente…. biologia na USP. Faz muitos anos que estive na cidade universitária. Ainda estava na medicina. Eu não me lembrava do quão grande era aquele lugar. Bem maior que a Unicamp. Fiquem tranquilos… esta será a única comparação entre as duas instituições.

Uma cidade dentro de outra cidade… em destaque, a praça do relógio. Uma pequena parte da Cidade Universitária

Bom, ao chegar lá aquela sensação de deslocamento. Muitos jovens recém saídos da salas de cursinho ou então do ensino médio. Prontos para começar. Eu ali, pronto para recomeçar… Sim, obviamente o trote estava acontecendo. Alguns não gostam. Eu acho importante. Muito simples, aquilo é um ritual de passagem, importante para marcar um novo ponto de sua vida.

Mas o fato é que eu poderia ser facilmente confundido com um dos pais dos vários calouros que estavam ali. E acho que foi exatamente isso que pensaram até eu chegar no balcão da secretaria para realizar a matrícula. Na matrícula, nenhuma surpresa. Tudo correu como esperado.

Trote? Sim… pintura e apelidos… Nada com que eu não possa conviver. Fiquei lá por mais ou menos umas duas horas. Tempo suficiente para conhecer alguns veteranos conhecer algumas partes da faculdades (bem poucas, é verdade). Tempo suficiente para eu ter certeza de que sim… eu tive direito a uma segunda chance. Uma chance de corrigir os erros do passado que tanto me assombram.

Uma possibilidade de redenção. Um recomeço… e sou muito grato por isso.

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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