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O Som do Silêncio

As férias estão chegando ao fim e o ano está prestes a começar. Estas não foram, por assim dizer, férias plenas. Descansei da correria da faculdade, pude encerrar a jornada de trabalho e seguir pra casa sem outras preocupações, interessado apenas no cardápio do jantar, na programação da TV a cabo e em descansar. Não pude, no entanto, deitar e, antes de dormir, deixar de programar o despertador, afinal, trabalharia no dia seguinte.

Em minha humilde opinião, férias só são férias quando você coloca o chinelo, a bermuda, deixa o celular desligado, esquece que o Facebook existe (mas lembra dele na hora de fotografar a caipirinha e o reflexo do sol no mar azul de alguma praia paradisíaca), e esvazia sua cabeça de qualquer preocupação. Pensando apenas em como aproveitar as 24 horas totalmente livres de seu dia.

Eu não tive essas 24 horas livres, mas não reclamo disso. Tenho trabalhado bastante, mas, como dizem, estou naquela fase em que tenho de plantar hoje para colher amanhã. E estou plantando. Ah, como estou! Estou plantando na expectativa de que a colheita seja farta daqui alguns anos. Apesar de não ter desfrutado de 100% de ociosidade durante o dia, tive bons momentos de relaxamento:

Encontros descontraídos com amigos, bons filmes no cinema, episódios das séries favoritas colocados em dia e música, muita música. Tive a oportunidade de exercitar um de meus grandes prazeres, que é ler sobre música/ músicos. Também fui apresentado a novos cantores e cantoras e tive o privilégio de conhecer trabalhos destes músicos que eu desconhecia.

Aos amigos leitores destacarei um só, para não aborrecer a paciência. E, sem titubear, digo: Dizzy Gillespie. Ele dispensa apresentações, especialmente porque muito se falou sobre ele no começo deste ano, quando se completou duas décadas de sua morte. Aqui vou falar sobre Free Ride, disco que me foi apresentado por um amigo e que é uma parceria do trompetista com o pianista e compositor argentino Lalo Schifrin.

São oito faixas, cuidadosamente arranjadas por Schifrin, que trazem o melhor do jazz, com um groove incrível e que misturam o compasso mágico do jazz, com a sensualidade da funk music e um toque latino para completar. Vale destacar a participação do percussionista brasileiro Paulinho da Costa, músico conhecido e reconhecido internacionalmente.

Decidi falar sobre Free Ride neste post porque dia desses me deparei com uma cena curiosa no metrô: Embarquei na estação Paraíso do Metrô, na Linha 1 – Azul, sentido Tucuruvi, devidamente munido de meu fone de ouvido ao som de “Unicorn”, primeira faixa do disco. Assim que entrei no vagão, me sentei e observei as outras pessoas. Poucas, mas todos com os fones de ouvido devidamente colocados e alheios aos acontecimentos, focados apenas no som de sua música.

A imagem me chamou atenção, já que todos ali estávamos recolhidos em nosso próprio mundo, indiferentes aos acontecimentos externos, ignorando os avisos (se é que houve algum aviso) do condutor do trem. Há quem diga que Ipod, Mp3, celulares e todas essas parafernálias nos tornaram um pouco autistas, recolhidos em nosso universo particular.

Em certa medida eu concordo com isso. Escolher uma música, colocar os fones de ouvido, apertar o play e mergulhar completamente no ritmo, na batida, sem, às vezes, se preocupar em prestar atenção na letra é uma forma de se desligar completamente do mundo e esquecer os problemas cotidianos. É como se o som da música nos oferecesse o silêncio necessário para pensar.

Já fiz a playlist com as músicas que me ajudarão a pensar assim que a rotina pesada de trabalho e faculdade recomeçar. E você, já escolheu os sons que propiciarão o seu silêncio?

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Folhas Soltas

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