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O Gênio do Crime

A série Harry Potter com certeza é um tremendo sucesso da literatura infanto-juvenil (e até mesmo entre adultos…). Muita gente fala em Harry, Herminone, Ronnie…

Mas e se falarmos em Edmundo, Pituca e Bolacha? Quem sabe, Berenice? Ou então sobre o famoso detetive britânico John Smith Peter Tony, o detetive invicto? Em 1969, João Carlos Marinho publicou o livro “O Gênio do Crime”.  E honestamente, um dos livros mais divertidos e interessantes que li até hoje.

Fac-símile de uma das inúmeras edições de “O Gênio do Crime”

A história de “O Gênio do Crime”

O livro conta as aventuras dos amigos Edmundo, Pituca e Bolacha. Eles estão bastante animados com um álbum de figurinhas à venda, principalmente pela promoção da empresa que produz os álbuns… ao completar um álbum de figurinhas a criança ganha um conjunto completo de camisas oficiais de um time de futebol, mais uma bola oficial de campo.

Para Edmundo, falta apenas o Rivelino… Pituca comenta então que existe um cambista que consegue as figurinhas mais difíceis. Edmundo faz a encomenda e fica feliz em completar o álbum. Ao chegarem na fábrica para reclamar o prêmio oferecido, os meninos encontram uma turba furiosa de crianças que completaram seus álbuns e descobrem que a fábrica suspendeu a entrega dos prêmios. Revoltadas, as crianças ameaçam promover um grande quebra-quebra na fábrica, mas graças a Edmundo, a fábrica escapa de ser apedrejada.

Desesperado, a beira da falência e comovido pela atitude de Edmundo, o dono da fábrica pede ajuda aos meninos para tentar solucionar o caso das figurinhas falsificadas. A partir daí, a turma do gordo se envolve em várias peripécias em busca do grande Gênio do Crime que está por trás do esquema de falsificação.

O que o livro “O Gênio do Crime” me trouxe?

Este livro foi um dos primeiros que lembro ter lido em minha vida. Se não me engano eu estava na quinta série e contava com pouco mais de 10 anos de idade.

Eu já tinha lido outros livros… “A viagem da canção mágica” de Ganymédes José, “A mina de ouro” de Maria José Dupré, “Sobradinho dos Pardais” de Herberto Sales, “Quatro num fusca” de Esdras do Nascimento, e outros livros infanto-juvenis.

Mas, o Gênio do Crime foi quem despertou o gosto pela leitura. Leve, divertido, com tiradas sensacionais dos protagonistas, o livro é delicioso. Seu humor é na medida certa e o autor conseguiu criar uma história intrincada e interessante.

Você começa a ler e não consegue parar. Lembro que na escola foi dado o prazo de duas semanas para lermos o livro. Eu o li em apenas dois dias. E eu devo ter lido o mesmo pelo menos umas dez vezes… e devo ler ainda outras tantas vezes.

Curiosidades sobre “O Gênio do Crime”

  • Eu não sabia até pesquisar sobre o livro para escrever este texto, mas existe uma adaptação do livro para o cinema. O filme se chama “Detetive Bolacha contra o Gênio do Crime”, de Tito Teijido e foi lançado no ano de 1973. Eu nem era nascido!
  • A propósito… Enquanto eu escrevia este texto, encontrei o filme no YouTube. Ele até rememora momentos interessantes do livro. Mas a obra é mal acabada e não mostra nem de longe o brilhantismo da narrativa de J.C. Marinho.
  • O livro é na verdade o primeiro de uma série que acabou dando origem à Turma do Gordo. O último livro foi publicado em 2005 (Assassinato na Literatura Infantil)
  • O sistema de seguir ao contrário proposto pelo Bolachão é simplesmente genial (para um menino de 10 anos de idade, era pelo menos)
  • Em determinado momento do livro, os meninos descobrem que a fábrica clandestina de figurinhas ficava situada na Rua Planeta, 959 e para ajudar, toda a história do livro se passa em São Paulo. Ocorre que perto da minha casa existe uma Rua Planeta! Mas ela não tinha o número 959 então eu achava que isso era para esconder a fábrica… é… minha criatividade ia longe.
  • O livro conta com impressionantes 62 edições e vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Eu tenho o livro até hoje. As folhas estão soltas e amareladas.

Bom… o livro encontra-se à venda até hoje. Basta procurar pelas lojas virtuais.

Hoje sou um homem com quase 43 anos. Já escrevi sobre outros livros que li e posso afirmar que tive a felicidade e a honra de poder ter em “O Gênio do Crime” um dos primeiros livros que fizeram parte da minha bagagem cultural.

Obrigado, J.C. Marinho.

Post Scriptum – Atualizado em 18/03/2019

De acordo com o site do Estadão, João Carlos Marinho faleceu em 17/03/2019 em decorrência de complicações no tratamento de uma infecção (link para a notícia). O escritor e advogado pode ver seu grande livro completar 50 anos de existência, considerando sua primeira publicação em 1969.

João Carlos Marinho – Rio de Janeiro, 25/09/1935 / São Paulo, 17/03/2019

O livro “O Gênio do Crime” deu início a uma bem sucedida série de livros das “Aventuras da Turma do Gordo”, que contou com 13 livros. Além de livros infanto-juvenis, sua obra continha ensaios, poesias e romances.

Minha conversa com J.C. Marinho

Um fato bacana (para mim) é que – por ocasião da publicação do texto original – tive a oportunidade de falar diretamente com o J.C. Marinho. Enviei um e-mail de contato sobre a publicação.

“Tomei a liberdade de lhe escrever uma mensagem, pois sou admirador de sua obra literária e durante minha juventude pude ler alguns de seus livros. Aliás, mesmo agora na vida adulta, vez ou outra me delicio com algum de seus livros, sendo que o “Gênio do Crime” é um dos melhores livros que já li.”

“Obrigado por tornar minha infância e adolescência algo melhor. Foi graças a livros como aqueles escritos pelo senhor que eu adquiri gosto pela leitura. Por isso mesmo… obrigado. Pois o gosto pela leitura também me incentivou a escrever.”

“Eu mantenho um pequeno blog onde me arrisco a escrever alguns textos. São crônicas, pequenos contos, textos mais intimistas, entre outros materiais que publico por lá.”

“Há algum tempo, criei uma série onde escrevo sobre os livros que li. Falo um pouco sobre o livro, o autor e no significado que o livro teve em minha vida. Bom… apesar do blog já existir desde 2009, os textos sobre os livros foi uma ideia que tive somente agora em 2017. Já escrevi sobre alguns livros importantes para mim. E agora chegou a vez de ‘O Gênio do Crime’.”

“Eu espero que o senhor aceite esta pequena homenagem, juntamente com meu muito obrigado por produzir livros tão bons.”

E para minha grata surpresa, ele respondeu!

“Caro Ricardo, gostei muito de suas considerações sobre o livro. Fiquei surpreso com o recente aparecimento do filme no YouTube e fiz o comentário que te mando em anexo. Como a empresa faliu eu achava o filme perdido, pois é muito antigo. O seu comentário sobre o filme é parecido com o meu. Um abraço! João Carlos”

E aqui, o anexo que ele enviou sobre o filme…

O Filme do Gênio do Crime… andava sumido, mas recentemente puseram na internet com o título “O Detetive Bolacha contra o Gênio do Crime”.

Foi para as salas de cinema em 1973 e é uma produção onde o dinheiro faltou completamente logo que começaram as filmagens. Não houve tempo para ensaios, nem para estudar com calma a preparação das cenas.

Uma cena capital como a da banheira de ácido, a banheira nem aparece! A grande briga final é tão mal feita que dá a impressão de descaso.

Dramatizações de chanchadas baratas são usadas para substituir situações de maior requinte, como é o caso do anão de óculos e outros. O diretor Tito Teijido começou entusiasmado, conversou muito comigo, acertou uma boa cena no começo (o gordo tendo a ideia de seguir pelo avesso), mas logo depois o comando do filme lhe escapou das mãos e foi substituído pela afobação de terminar enquanto possível.

As tomadas das ruas de São Paulo em 1972 dão saudade, parece uma pacata cidade do interior.

Opinião de João Carlos Marinho para o site Um Blog Qualquer

A literatura nacional perdeu uma de suas grandes referências. Mais uma vez, obrigado por tudo J.C. Marinho.

Publicado em:Opinião,Os Livros que Li

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