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Carta aberta ao Ministro da Educação, Milton Ribeiro

Prezado senhor,
Exmo. Ministro da Educação

Milton Ribeiro

Aqui estamos para mais uma missiva pública ao ocupante deste Ministério. Parafraseando Tiradentes, “dez ministros nós tivéssemos, dez cartas enviaríamos”.

Tudo bem com o senhor? Tudo certinho com o currículo? Inglês fluente? Talvez? Mas, conta para gente, o Português está em ordem, certo? Português fluente tem sido mercadoria rara neste ministério. A começar pelo primeiro ocupante deste governo, que, releve-se, era colombiano. O sucessor dele cometia uns desatinos que no início atribuíamos a uma provável ironia, mas depois foi perdendo a graça.

Na verdade nunca teve a menor graça.

O senhor nos parece mais sereno. Pastor Reformado, Presbiteriano – estamos tomando o cuidado de não chamá-lo de Evangélico, referindo às Igrejas Pentecostais e Neopentencostais que pululam por aí. Só estamos reforçando que Vossa Excelência não é um Pastor destes de televisão, inclusive talvez fosse mais adequado tratá-lo como “Reverendo”, não é isso?

Por nós está tudo bem, e estaria bem se o senhor fosse destes que gritam o tempo todo e fazem exorcismos. Poderia ser uma expertise necessária. Inclusive andamos ouvindo que o senhor defende o Criacionismo em detrimento da Teoria da Evolução. Nós vamos pular essa pauta, beleza?

Ministro, o povo deste país precisa ter esgoto em casa (isso não é contigo, tá certo), parar de pagar imposto a cada vez que respira (isso também não é contigo), precisa interpretar texto, fazer conta, e entender juro composto – essas coisas aí já dizem respeito a Vossa Excelência.

O senhor sabe o que acontece? O Brasil é um país onde o debate é raso… chão. As pessoas mais sobrevivem do que vivem, é certo, não temos tanta tradição de leitura e nossa educação financeira serve para esperar o vale. O trabalho do senhor não vai ser fácil, e talvez nós ficaríamos satisfeitos se o resultado de sua gestão fosse uma semente fértil, porque vai levar uma ou duas gerações para começar a resolver esse angu.

Claro que temos questões urgentes e pendentes, como o Enem – a inscrição acaba agora, né? – que merece uma reformulação. Países que adotam essa forma de avaliação a fazem várias vezes ao ano. Já pensou? Não? Só de pensar dá azia, mas pense. O senhor está aí para isso.

Em seu discurso nós o ouvimos dizer que vai priorizar o Ensino Técnico. Beleza. A nossa fixação por “deprôma” vem de um tempo onde um pedaço de papel (e não a postura, a reputação, a boa prática seja lá de que ofício) conferia status de autoridade. Nem precisa tentar mudar isso, mas, olha só, se a gente se concentrar na Educação Básica e ficar tudo muito joia com ela, o Ensino Superior meio que engata sozinho. Há quem diga que não, mas esta é a nossa fé, e de fé o senhor entende.

Só queremos um rumo. Respeitamos sua Ideologia, seu Credo e seus Valores. Isto não está em discussão. Então não vamos discutir isso, entendido? Nem nas Redes Sociais. Aliás o senhor tem Twitter? Caso tenha, poderia cometer a suprema gentileza ou de desativá-lo ou de usá-lo em privado? Já ajudaria um tanto que o senhor não faz ideia.

Desejamos paz em seu trabalho. Nós precisamos muito dele. Deixamos uma frase de seu Mentor, João Calvino: “Será inútil ensinar a mansidão, a menos que tenhamos iniciado com a humildade”. Humildade, Ministro, é focar não nas pompas e circunstâncias da guerra ideológica que tanto faz o gosto não só deste Governo mas desta época, mas sim pensar em cada dia naqueles que promovem e recebem a Educação Básica.

Por fim, uma lembrança: o fundador de sua Igreja no Brasil chegou ao Rio de Janeiro em pleno surto de Febre Amarela nos idos de 1860. Aquela pandemia não o venceu. Que esta de agora não o vença. Boa sorte!

Publicado em:Editorial

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