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Moçambique

Se Moçambique já fosse um país independente de Portugal em 1966, talvez a história da Copa da Inglaterra naquele ano seria diferente. Dois moçambicanos, que por força da condição política do país jogaram pela seleção portuguesa, foram fundamentais naquela campanha: Mário Coluna e Eusébio.

A campanha de Portugal na primeira fase foi arrasadora, marcando três gols em cada partida que disputaram, contra Hungria, Bulgária e Brasil – selando nossa desclassificação. Nas quartas, reverteu um 3 x 0 contra a Coréia do Norte, terminando aquela partida num 5×3, com quatro gols de Eusébio. A Coréia do Norte, aliás foi também marcante. Avançou às quartas eliminando a Itália e por pouco não apronta para cima de Portugal.

A Copa da Inglaterra foi marcada por menos gols, apesar de ter a mesma média de 62 no Chile. As defesas começaram a se impor, assim como a quantidade de bordoadas. Sobrou catimba também, notadamente por parte dos reis delas, nuestros hermanos: nas quartas, contra a Inglaterra, o capitão argentino, Rattín, foi contestar com o árbitro a marcação de uma falta. Mas foi de boa, na base do “veja bem, professor”. O árbitro alemão, Rudolf Kreitlein não entendia patavina do que o argentino falava, e, na base do “o passado de seu time o condena”, apontou para fora do campo e expulsou Rattín. O argentino chegou a pedir um intérprete mas a decisão estava tomada e ele teve que sair do campo. Tão transtornado que estava, acabou sentando sem querer na cadeira destinada à Rainha – que não havia ido ao jogo. Se já estava ruim para ele ficou pior, pois a torcida inglesa começou a lhe arremessar objetos. Ele respondeu com gestos pouco gentis e foi para o vestiário, não sem antes arrancar a bandeirinha do escanteio. Para evitar cenas como esta e o festival de pontapés, na Copa seguinte, do México, introduziram os cartões amarelo e vermelho.

E tome pancada para cima dos brazucas. Na estreia, contra a Bulgária, Pelé e Garrincha foram tão caçados que esta foi a última partida com os dois juntos e nossa única vitória naquela Copa – com Pelé e Garrincha em campo, a Seleção nunca perdeu um jogo. Nas outras partidas, contra Hungria e Portugal, derrotas e hematomas.

Mas era uma geração de transição, que não soube mesclar os talentos antigos com os jovens que estavam vindo. Fora a esculhambação generalizada que foi nossa preparação, com Vicente Feola – o mesmo técnico de 58 – tentando montar um time final depois de convocar 43 atletas (de uma vez) no início do processo. Sem contar que aquela Copa viu o surgimento de grandes como o goleiro soviético Lev Yashin, o alemão Franz Beckenbauer, o próprio Eusébio, artilheiro da Copa, sem contar com o inglês Bobby Moore, que voou em casa. Aliás, Moore tinha 29 anos, mas uma cara de pelo menos uns 20 anos a mais.

Foi a primeira Copa a trazer um mascote, o leãozinho Willie, ainda que outro bichinho tenha roubado a cena: o cão farejador Pickles, que encontrou num parque a Taça Jules Rimet, que havia sumido.

A Inglaterra venceu a Alemanha Ocidental na final com um 4×2 controverso até hoje, posto que faltando uns minutos para terminar a prorrogação – é, deu prorrogação – o inglês Hurst mandou um petardo que, após acertar o travessão quicou bem em cima da linha, portanto um lance corriqueiro se o juiz da partida, o suíço Gottfried Dienst, não cismasse que aquilo fora um gol legítimo. Ficou até um climão, mas o jogo seguiu e Hurst faria mais outro e o título ficou nas mãos dos inventores do Futebol.

Decidimos ressaltar a origem dos dois principais jogadores de Portugal para acentuar que o mundo, além da Guerra Fria, ainda vivia plenamente o Colonialismo. Moçambique ficaria independente só em 1975, e passaria os próximos 20 anos numa guerra civil, tanto é que em sua bandeira aparece estampado um fuzil AK-47. Nestas últimas Copas, Portugal novamente traz como destaque outro atleta de além-mar. Nem tão além assim, já que Cristiano Ronaldo é nascido na Ilha da Madeira, bem mais próxima que Moçambique, que foi a primeira parada de Vasco da Gama após conseguir dobrar o Cabo da Boa Esperança, marcando a fase áurea de Portugal.

Copa do Mundo de 1966

  • Sede: Inglaterra
  • Período: De 11/07 a 30/07/1966
  • Campeão: Inglaterra; vice: Alemanha Ocidental
  • Colocação do Brasil: 11o lugar
Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Uma Copa Qualquer

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