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Carlos Dittborn

Depois de duas Copas “européias”, na Suíça e na Suécia, a FIFA determinou que o torneio de 62 se daria na América. A Argentina, candidata desde o Big Bang, apresentou seu projeto e tudo iria com calma para os hermanos, se não fosse a insistência, habilidade e poder – afinal era o então presidente da Conmebol – de Carlos Dittborn. No Congresso da FIFA que definiu a sede da Copa de 62, realizado na Suíça em 56, Dittborn (na época com apenas 35 anos) manobrou com os colegas presidentes das Confederações continentais e os convenceu a realizar a Copa no Chile. Consta que foi inclusive uma articulação “honesta”, e o melhor sinal disso foi que a Argentina assimilou a derrota e compareceu ao Chile para a disputa do Mundial.

Dittborn empreendeu uma epopéia no Chile para preparar o país para a Copa e envolveu o povo chileno emocionalmente no intento. E tudo corria bem até o dia 22 de maio de 1960, dois anos antes da Copa: Houve o Terremoto de Valdívia, que atingiu a cidade do mesmo nome, atingindo 9,5 pontos na escala Richter, considerado o pior terremoto de todos os tempos, que levou a outro abalo, poucos dias depois que atingiu 8,8 pontos, fora maremotos pela costa onde foram vistas ondas de 10 metros que varreram cidades inteiras.

O resultado foi mais de 5 mil mortos e 25% da população chilena desabrigada. O então presidente do Chile Jorge Alessandri, convocou Dittborn a desistir da candidatura à Copa. Ainda faltavam dois anos, a Argentina teria tempo de se preparar. A FIFA teria exercido pressões de bastidores, mas se tratava do país do presidente da Conmebol. Dittborn pediu a seu presidente e à FIFA um voto de confiança, lançando o célebre slogan “Se nada temos, tudo faremos.” E lançou o país numa operação de reconstrução. As cidades-sede foram reduzidas e os estádios ganharam “puxadinhos” para aumentar a capacidade de torcedores. O único estádio construído para a Copa foi o Salsalito, de Viña del Mar.

E foi uma Copa onde o Brasil passeou. Pelé saiu contundido na segunda partida, contra a Tchecoslováquia, sendo substituído por Amarildo, chamado por Nelson Rodrigues de “Possesso”, pois se desdobrou para substituir o Rei. Porém, mais que nunca foi a Copa de Garrincha. Comparativamente ele fez até mais que Maradona em 86 e Romário em 94. Coisas aconteceram, digamos, a nosso favor. Na semifinal, exatamente contra o Chile, Garrincha quase partiu um chileno ao meio. Foi expulso e naturalmente ficaria fora da final. Mas naquela Copa, cada caso era julgado e deu-se o julgamento. O chefe da delegação do Brasil, Paulo Machado de Carvalho (ver texto anterior), alegou insistentemente que não havia no regulamento algo que permitisse usar as imagens do jogo como prova. Foi então ouvido, o juiz da partida, o peruano Arturo Yamazaki, que disse que não viu a falta, mas que foi avisado pelo bandeirinha uruguaio, Estéban Marino.

Bom, bastava convocar Marino para depor, porém, misteriosamente Marino desapareceu do Chile e não teria sido encontrado nem pela Interpol. Na final, contra a mesma Tchecoslováquia, com Garrincha garantido, tudo corria bem até que Djalma Santos bloqueou com a mão uma bola tcheca que iria em direção ao gol, mas o juiz mandou seguir o lance. A Tchecoslováquia depois da queda do Muro de Berlim já se dividiu entre República Tcheca e Eslováquia, mas a reclamação deste lance une aqueles povos até hoje. No final, Brasil bi-campeão.

E quanto a Carlos Dittborn? Uma pancreatite o matou praticamente a um mês do início da Copa e ele não pôde ver seu sonho realizado, causando uma comoção no mundo esportivo da época. Hoje mal é lembrado, mas o UBQ faz questão de o recolocar no seu devido lugar.

Copa do Mundo de 1962

  • Local: Chile
  • Período: 30/05 a 17/06/1962
  • Campeão: Brasil. Vice: Tchecoslováquia
Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Uma Copa Qualquer

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