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Cubillas

Talvez a Argentina, com aquele time que tinha, trazendo Mário Kempes, Passarela, Ardiles e o goleiro Fillol nem precisasse de ajudinhas de regulamento para ganhar uma Copa, ainda mais em casa. Mas foi tudo muito estranho. A começar da preparação, quando o responsável pelo comitê organizador, o General Omar Actis – lembremos que estávamos (lá e cá) em uma ditadura militar – resolveu tornar os gastos com a Copa públicos. Não que tivesse algo a ver, longe de nós sugerir qualquer coisa, mas ele foi assassinado pouco antes da Copa. Outra coisa foi que as escolhas das sedes fizeram os adversários rodar o país inteiro e a seleção Argentina praticamente ficou quieta. Assim o Brasil, por exemplo, percorreu mais de 4500 km enquanto os donos da casa percorreram pouco mais de 600.

Mas no sorteio das chaves, justiça seja feita, a Argentina caiu meio que num grupo da morte. Tinha Hungria, um time de médio para bom na época, a França, com a revelação do ano, Michel Platini, e a Itália, base do time que seria campeão na Copa seguinte. A Argentina chegou a perder da Itália, mas França e Hungria ficaram tão possessas com as arbitragens, digamos, infelizes, que foram cumprir tabela em seu jogo em Mar del Plata com as duas seleções trajando branco. O árbitro da partida, o brasileiro Arnaldo Cezar Coelho deve ter dito que a regra é clara e só começou a peleja quando arranjaram para a França camisas de um clube amador local, o Kimberly.

No grupo do Brasil, fomos aos trancos e barrancos, empatando com a Suécia e depois com a Espanha e ganhando da Áustria na bacia das almas, e assim nos classificamos em segundo no grupo para no final ainda beliscarmos um terceiro lugar – sem perdermos uma só partida.. Um grupo interessante foi o da Holanda, que jogaria com Escócia, Peru e Irã. O Peru surpreendeu vencendo a Escócia e o Irã e parando a Holanda (sem Cruyff nem Rinus Michels, mas ainda poderosa) num 0x0. Tanto que a Holanda chegaria à final, perdendo para a Argentina, ficando de consolação a marca do milésimo gol das Copas, feito pelo “laranja” Resenbrink. O Peru surpreendia ao se classificar em primeiro do seu grupo. Mas não seria a primeira supresa que aprontaria naquela Copa.

O Peru tinha um time azeitado, com um meia talentoso chamado Teofilo Cubillas. Apesar da posição em que jogava, fazia gols, notadamente de fora da área. Fez mais gols na carreira do que Maradona, por exemplo. Treinado pelo brasileiro Didi, na Copa de 70, aprendeu com o mestre a “folha seca”, um chute de extremo efeito que desnorteava os goleiros e com o qual ele fez muitos gols. Cubillas é o oitavo artilheiro da história das Copas, o meio campo com a melhor média de gols em Copas e campeão com o Peru da Copa América de 75. Sua Seleção não seria digna de ter tomado os 6×0 que levou da Argentina em 78 e que garantiu a classificação dos Hermanos para a final.

Antes daquela partida começar, a Argentina sabia que por questão de saldo de gols tinha que vencer o Peru de uma diferença de quatro gols. A coisa já começou estranha antes do jogo, com a visita do ditador argentino Jorge Videla, acompanhado do todo poderoso secretário de estado norte-americano, Henry Kissinger. Videla leu uma carta do ditador do Peru Morales Bermudez (sim, ditaduras era uma praga por aqui) para os jogadores peruanos, lembrando o quanto a Argentina era um país parceiro e estava dado o recado.

Muitos daquele time saíram chamuscados, notadamente o goleiro Quiroga – argentino, naturalizado peruano depois de adulto. Cubillas teria pedido a seu técnico, Marcos Calderón que não escalasse Quiroga para aquela partida. Cardozo não só o escalou como montou um time sem centroavante, e recuou Cubillas para a função de volante.
Até hoje pululam versões de suborno a alguns jogadores do Peru e até uma “mala branca” oferecida pelo Brasil caso ganhassem o jogo. O fato é que a Argentina fez o tanto de gols que precisava, enfrentou a Holanda na final e se sagrou campeã em casa.

Este Blog, em vez de desancar a Seleção do Peru, preferiu lembrar e homenagear o talento de seu maior jogador de todos os tempos, infelizmente eclipsado por uma manobra para dizer o mínimo suspeita, fruto desta página tão infeliz da história de nosso continente.

Copa do Mundo de 1978

  • Sede: Argentina
  • Período: 01/06 a 25/06/1978
  • Campeão: Argentina; Vice: Holanda
  • Colocação do Brasil : 3º lugar
Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Uma Copa Qualquer

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