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Rivaldo

Ele era um jogador cerebral, mas podia mostrar decisivos momentos de explosão, notadamente quando se apresentava como atacante. Tinha um chute poderoso de fora da área e fazia gols de falta, de voleio, de bicicleta. Parecia lento, mas conseguia ser ágil e aproveitava bem sua altura razoável dentro da grande área. Com tudo isso, foi fundamental na conquista do penta em 2002. Se o nome dele não encimasse o título deste texto, provavelmente iríamos ter dificuldade em nos lembrar, pelo menos de pronto, de Rivaldo.

Numa copa onde os Ronaldos estiveram em estado de graça, onde o capitão era Cafu, mas Roberto Carlos se destacava também na outra lateral, onde até o goleiro era “santificado”, muita gente aparecia na frente do tímido pernambucano, pouco ou nada midiático, e talvez seja explicável que seu nome atice menos as memórias do grande público, ainda que seja reconhecido.

Rivaldo realmente vinha com um, digamos, passivo desde a Olimpíada de Atlanta em 96, quando deu uma “Cerezada”, um passe de presente para um nigeriano conduzir a vitória da semifinal. Ele ficou mais marcado por aquilo do que Roberto Carlos, que fez um gol contra naquele jogo, e do que Dida e Aldair que protagonizaram uma trombada bisonha, ocasionando o gol da vitória do Japão já na partida de estreia daquela Olimpíada, cujo bronze foi lucro. Nas Eliminatórias para a Copa de 2002, tomou uma vaia de perder o rumo contra a Colômbia, no Morumbi. Terminou as Eliminatórias como vice-artilheiro, mas estava realmente difícil para ele agradar a todo mundo.

A Copa de 2002, a primeira na Ásia, e a primeira a ser disputada em dois países, Japão e Coréia do Sul para muitos redimiu o vexame de 94. “Mas em 94”, você diria, “nós ganhamos”. “Detalhe”, responderemos imitando Parreira. Foi uma Copa em podemos dizer que correu tudo maravilhosamente bem. Desde o corte de Romário, uma birra de Felipão por conta de uma saidinha do Baixinho, segundo dizem, com uma aeromoça – mas este é outro detalhe; até a contusão de Emerson, que brincava num rachão já na Coréia e se lesionou no ombro. Emerson era homem de confiança de Scolari, capitão do time, mas sua saída possibilitou o acerto que faltava àquele meio campo agora com Edmílson e Kleberson. Cafu herdou a faixa e fez com que todos amássemos Regina antes de erguer a taça.

Foi a Copa, por suposto, com o maior número de estádios utilizados, 20. Copa para a qual a França se classificou automaticamente por ser a atual campeã do mundo, sendo a última vez que este critério seria utilizado, mas talvez fosse melhor os franceses terem sido despachados nas Eliminatórias, porque na Ásia foi “la hontre des autres” (“vergonha alheia” no idioma de Flaubert): Perderam para o Senegal, e Dinamarca e empataram com o Uruguai, saindo da Copa sem nenhum gol marcado.

De seu lado, a co-anfitriã Coreia do Sul foi a primeira de seu grupo na primeira fase onde os favoritos Portugal e Polônia foram embora mais cedo – os Estados Unidos foram o segundo do grupo. Nas oitavas a Coreia despachou a Itália, nas quartas a Espanha e nas semi caíram diante da Alemanha num honroso 1×0.

Outra sensação foi a Turquia, nem tão surpresa assim pois o Galatassaray , base do time, fora campeão da Copa da Uefa contra o Arsenal em 2000, e da Supercopa em cima do Real Madrid no ano seguinte. Chegaram até a semi contra o Brasil, perdendo também de 1×0 – naquele jogo onde quase todos os turcos correram atrás de Denilson e depois conquistando o terceiro lugar. Antes a Turquia nos enfrentou na estreia, chegando a empatar conosco em 1×1, mas Rivaldo desempatou de pênalti faltando uns minutos para o fim. Ainda assim implicaram com ele, pois teria “cantado” o canto com os olhos, e uma imagem em close mostra bem isso. Quem não teve como dar o close foi o goleiro turco Reçber, e a bola entrou.

Rivaldo marcaria nos três jogos na primeira fase, marcaria um golaço contra a Bélgica nas oitavas, empataria contra a Inglaterra nas quartas, numa jogada magistral de Ronaldinho Gaúcho e seria fundamental nos dois gols de Ronaldo na final contra a Alemanha. No primeiro onde mandou um tijolo e Oliver Kahn bateu roupa dando o rebote para Ronaldo e no segundo, onde deu uma deixadinha para Ronaldo (que usava o cabelo “Cascão”) após cruzamento rasteiro de Kleberson. Foi uma grande atuação, ainda que num ano onde não superou seu auge, em 99, atuando pelo Barcelona, quando ganhou o prêmio de melhor do mundo pela FIFA.

Ele rodaria o mundo, jogando na Grécia, Uzubequistão e Angola. Terminou a carreira no Brasil, no Mogi Mirim, clube que o projetara, jogando ao lado de seu filho, Rivaldinho. Terminava uma carreira vencedora, brilhante, que começara timidamente no Santa Cruz de Recife, com passagens por grandes como Barcelona, Milan e São Paulo.

Mas suas atuações estiveram longe da timidez e ele por elas tem lugar de honra no panteão do futebol.

Copa do Mundo de 2002

  • Sedes: Japão e Coreia do Sul
  • Período: 31/05/2002 a 30/06/2002
  • Campeão: Brasil; Vice: Alemanha
Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Uma Copa Qualquer

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