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Materazzi

Há um consenso que diz que ninguém consegue perder uma Copa de uma forma tão bonita quanto o Brasil (este consenso foi antes do 7×1), assim como ninguém consegue vencer uma Copa de um jeito tão feio quanto a Itália. Desde sua primeira vitória em Copas, em 34, com Mussolini dando as más vindas aos adversários já nos vestiários até a quarta, em 2006 na Alemanha, sempre algo acontece para tornar a conquista na pior das hipóteses meio esquisita – não porque foram injustas, mas parece que a Azzurra gosta de dificultar as coisas.

E nunca um italiano foi campeão do mundo tão italianamente quanto Marco Materazzi em 2006.

Ele começou como reserva e só começou jogando no terceiro jogo, onde inclusive marcou um dos dois gols contra a República Tcheca – estreante em Copas, sem sua outra metade, a Eslováquia. Juntas foram duas vezes vice campeãs do mundo, em 34 e 62. Nesta mesma situação a Ucrânia também fez sua estreia em Copas, assim como Sérvia e Montenegro, que antes faziam parte da Iugoslávia e dela se desmembraram como um país. O problema foi que pouco antes da Copa, eles se separaram, ficando Sérvia e Montenegro cada um para o seu lado. Foi um impasse rápido, pois os dois países aceitaram jogar sob a mesma bandeira, ainda que fossem uma seleção de um país que não existia mais. Souberam também facilitar as coisas, terminando em último no seu grupo.

Falando na Ucrânia, ela topou com a Itália nas quartas, após vencer a Suíça de forma épica nos pênaltis, nas oitavas. A Itália vinha de uma vitória nas oitavas contra a Austrália, onde Materazzi deixou de novo sua marca, desta vez sendo expulso. E sobre expulsões, tivemos nestas oitavas a partida entre Portugal e Holanda, digna de um UFC: foram 16 cartões amarelos (sete para a Holanda, nove para os lusos) e quatro vermelhos – dois para cada lado. Porém na primeira fase Portugal fez um jogo que valeu pelo simbolismo, pois jogaria contra Angola. Para ficar mais legal, a FIFA poderia ter escalado Carlos Eugênio Simon para o apito mas preferiu o uruguaio Jorge Larrionda, talvez por temer um revanchismo de ex-colônias.

Materazzi voltaria na semifinal contra os donos da casa, uma Alemanha em entressafra que não tinha a confiança nem das mães dos jogadores, sendo derrotada pela Itália por 2×0. Os italianos pegariam a França, que havia eliminado Portugal nas semi, e o Brasil nas quartas, com um gol de Henry, aquele onde Roberto Carlos arrumava a meia enquanto o lance do gol se desenrolava. O Brasil chegou com o peso de atual campeão do mundo e com o peso de Ronaldo irritantemente gordo não só para uma Copa mas para a vida. Fomos de baba em baba – Croácia, Austrália, Japão e Gana, até pegar uma seleção digna deste nome.

Logo aos sete minutos da final entre Itália e França, Materazzi apresentou seu cartão de visitas, cometendo um pênalti, convertido por Zidane. Pouco mais de dez minutos depois, ele consertou o erro marcando o gol de empate. Já seria uma participação histórica mas lá pelo meio da prorrogação a imagem da TV corta para ele se contorcendo no chão, sendo observado por um transtornado Zidane. O juiz argentino Horácio Elizondo, após ser advertido pelo auxiliar, corre para Zidane e lhe aplica o cartão vermelho, e ninguém entende nada. O telão do estádio teve que mostrar Zidane mandando uma cabeçada no peito de Materazzi.

Os estádios eram orientados pela FIFA a não mostrarem o cronômetro do jogo nem repetirem lances polêmicos. Mas ou mostravam essa imagem, ou algo muito ruim iria acontecer ali, pois a torcida francesa não se conformava. A imagem da “guampada”, repetida diversas vezes, abrandou os ânimos e Zidane saiu vaiado enquanto Materazzi recebia um amarelo pelo elogio feito à mãe de Zidane.

Vieram os pênaltis. A Itália converteu todos os cinco, Materazzi fez o dele e Trezeguet errou pela França. Os italianos eram tetracampeões, com seus altos e baixos no torneio. E ninguém mais viveu esta roda-viva que Marco Materazzi, um bom zagueiro, mas comum. Depois da Copa permaneceu na Inter de Milão, onde jogou por onze anos. Em sua última temporada, já como reserva, José Mourinho deixou que ele entrasse nos últimos minutos da partida final contra o Bayern de Munique, onde a Inter vencia por 2×0. Era o coroamento da carreira de um zagueiro que mostrava em muitos momentos um futebol refinado, em outros um futebol nada vistoso, mas que lhe rendeu grandes vitórias.

É sempre uma pena não temos a Itália em mais uma Copa, a segunda seguida. Por qual motivo? Não vem ao caso. Talvez não seja inadequado dizer que deve ter havido um conjunto de fatores, algo italianíssimo, como Materazzi.

Copa do Mundo de 2006

  • Sede: Alemanha
  • Período: 09/06/ 2006 a 09/07/2006
  • Campeã: Itália; Vice: França
  • Colocação do Brasil: 5º lugar
Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Uma Copa Qualquer

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