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O Twitter ainda é o mesmo?

Just setting up my twttr (Apenas configurando meu Twitter

DORSEY, Jack – Publicado no Twitter na conta @jack em 21/03/2006

Foi com esta singela mensagem ( e sim, o Twitter começou como Twttr) que a plataforma Twitter passou a existir como uma rede social, ou como um microblog, conforme era o plano inicial da empresa. Para sermos mais precisos, a idéia era criar uma plataforma de mensagens curtas, onde as pessoas pudessem compartilhar o que estavam fazendo em tempo real, usando como inspiração as mensagens curtas de 160 caracteres que era utilizado no serviço de mensagens SMS.

Um pouco de história

Aliás, esta é a mesma razão porque o serviço começou como Twttr. A ideia era usar o mesmo padrão códigos curtos (short codes) de telefonia americano que usava cinco dígitos. O serviço nasceu inspirado na expressão twitter – uma palavra curta, fácil de lembrar e expressiva, que transmite a ideia de compartilhamento rápido de informações curtas e importantes – e esta seria a essência da plataforma… uma forma rápida e fácil de se conectar com outras pessoas e compartilhar informações.

O Twitter nasceu Twttr, mas a ideia era usar twitter mesmo

O Twitter então passou a existir e sua popularidade começou a crescer em 2007, durante a conferência South by Southwest Interactive, quando a plataforma experimentou um aumento de de 20 mil para 60 mil mensagens diárias, ou tuítes como falamos hoje. O que era bastante curioso é que o serviço caiu no gosto popular, mas ninguém conseguia definir o que era exatamente o Twitter… uns diziam que era uma rede social, outros que era um serviço de microblogging. De fato, o serviço permitia que você publicasse suas ideias livremente, como um blog, mas também permite a interação entre usuários, como uma rede social.

O serviço continuou a crescer, a ponto de termos em 2010 cerca de 50 milhões de tuítes postados em único dia. Eu mesmo ingressei na plataforma em agosto de 2008. E o UBQ surgiu como persona na plataforma em dezembro de 2013. E eu comecei a tuitar antes mesmo de começar a escrever textos para o UBQ. Ok… na época minhas postagens lembravam mais a série “meu querido diário” e depois de algum tempo é que veio a ideia de postar opiniões e informações sobre os conteúdos produzidos por aqui.

Nossa história no Twitter começou em 2008 e o UBQ surgiu por lá em 2013

Grandes números, grandes problemas

O crescimento da rede era constante e era notório que havia um grande aumento no fluxo de mensagens durante eventos importantes: copa do mundo de 2010, a vitória dos Lakers nas finais da NBA e o serviço chegou a cair na ocasião da morte de Michael Jackson. O serviço estava com um pico de cerca de 100 mensagens por hora.

Em 2011, a plataforma sofreu sua primeira grande remodelação. E o logotipo da empresa sofreu sua primeira mudança em 2012, quando o serviço já contava com cerca de 140 milhões de usuários e um fluxo de 340 milhões de tuítes por dia. Novas remodelações aconteceram em 2015 e 2019. E uma das mudanças polêmicas surgiram em 2017: o aumento para 280 caracteres. Muita gente torceu o nariz, alegando que isso descaracterizava a natureza do serviço.

Naturalmente com o crescimento do serviço, surgiram os problemas de igual grandeza. Denúncias de assédio, pornografia, contas falsas, além de informações caluniosas e outros abusos pipocaram aqui e ali. E uma das maneiras que a empresa encontrou para mitigar este problemas foi o surgimento das contas verificadas.

Em resumo, a ideia era conferir algum tipo de certificação para contas. A análise era feita pela empresa após manifestação de interesse por parte do usuário. Grandes empresas conseguiram isso facilmente, personalidades e celebridades também. Mas para o usuário comum, o processo era praticamente impossível. Além disso, o Twitter criou uma curadoria de conteúdos de modo a garantir que as publicações tivessem alguma qualidade.

Mas o que vimos foi uma crescente utilização da plataforma com viés político. Claro, temos veículos de imprensa, personalidades, políticos, pessoas comuns, empresas de todo o tipo e organizações sociais, todas elas utilizando o serviço de maneira legítima. Mas dada a grandiosidade da rede ficou impossível fazer a curadoria de todo o conteúdo.

O efeito Trump

Um dos casos mais polêmicos de repercussão mundial foi a encrenca causada por Donald Trump. Usuário intensivo da plataforma, quando presidente ele usava o Twitter como uma espécie de canal direto de comunicação com seu eleitorado. Ele sempre publicou conteúdo controverso, mas se amparava no pilar da liberdade de expressão. Quando já havia sido derrotado na sua tentativa de reeleição, Trump usou a sua conta no Twitter para promover discurso de ódio o que resultou em 6 de janeiro de 2021 na invasão ao Capitólio por parte de seus apoiadores.

Donald Trump usou a rede como uma metralhadora giratória

No dia seguinte, o Twitter anunciou que iria remover permanentemente a conta de Donald Trump, alegando que ele usou a plataforma para incitar à violência. Isso marcou a primeira vez que o Twitter baniu um líder político e gerou intensos debates sobre liberdade de expressão e responsabilidade social da mídia. Muita gente elogiou, muita gente afirmou que isso foi censura e que isto criaria um precedente para restringir a liberdade de expressão de outras pessoas.

Ok, o texto é sobre o Twitter, mas não podemos deixar de lembrar que a atitude de Trump gerou uma versão tupiniquim de um certo capitão da reserva que foi presidente por aqui entre 2019 e 2022. Da mesma forma antidemocrática, tivemos a nossa versão nacional de invasão ao congresso nacional. Episódio lamentável que ocorreu em 8 de janeiro de 2023. E sim… o Twitter teve papel fundamental na divulgação das duas histórias.

Invasão ao Capitólio lá… Invasão ao Congresso aqui… tudo fruto de um discurso de ódio e intolerância.

Desde então, o Twitter tem reforçado sua política de combate ao discurso de ódio, racismo, violência e outras formas de intolerância. Não é um fenômeno exclusivo do Twitter, sendo que Instagram, Facebook, TikTok também tem problemas similares. Mas o Twitter, devido sua capilaridade teve mais impacto nas mídias digitais.

O Twitter e Elon Musk

Chegamos ao ano de 2022 e uma outra personalidade, igualmente polêmica, começou a causar na plataforma. Elon Musk, o bilionário dono da Tesla e da SpaceX, já era um crítico à alegada falta de liberdade de expressão no Twitter. A questão é que Musk fazia duras críticas e sempre sugeria que se ele fosse o dono da empresa, as coisas seriam diferentes por lá. Mas estamos falando de Elon Musk e apesar do seu sucesso empresarial, ele não está livre de falar bobagens. Basta lembrar seu post no Twitter em 2020, quando ele previu que os EUA teriam os casos de COVID-19 zerados até o final de abril daquele mesmo ano. Ele também chamou o lockdown durante a pandemia de fascismo.

A verdade é que Musk é um tremendo falastrão. E por conta disso, muita gente não levou tão sério isso. Até quem em abril de 2022 ele anunciou a intenção de compra da empresa pelo valor de US$ 44 bilhões. Sua ideia era fechar o capital da empresa e com isso ele se tornaria dono e CEO da empresa. Após deliberar sobre o assunto, o conselho administrativo aceitou a oferta.

Compra ou não compra?

A compra da empresa acabou se tornando um verdadeiro imbróglio. Em julho do mesmo ano, Musk alegou que o Twitter falhou ou se recusou a responder a vários pedidos de informações sobre contas falsas ou spam na plataforma, o que é fundamental para o desempenho dos negócios da empresa. E com isso anunciou que estava desistindo da compra. O anúncio causou uma queda no valor das ações da empresa e muita gente sugeriu que Musk fez isto para forçar uma redução no preço de aquisição.

O Twitter não fez por menos e anunciou que processaria o empresário por perdas e danos e para forçar que Musk honrasse o acordo firmado em abril. O fato é que após idas e vindas, em outubro de 2022, dias antes do prazo final para cumprir o acordo de compra e evitar o julgamento, Elon Musk finalmente adquiriu o Twitter, pagando o valor inicialmente acordado. No mesmo dia, ele foi até a sede da empresa carregando um pia. Uma menção a expressão em inglês Let that sink in que pode ser entendido como Deixe a ficha cair.

Elon Musk visita a sede do Twitter após comprá-la por US$ 44 bilhões, carregando uma pia. A ficha caiu

Em seu anúncio de compra, Elon Musk afirmou que “Eu queria entrar em contato pessoalmente para compartilhar minha motivação em adquirir o Twitter. Tem havido muita especulação sobre por que eu comprei o twitter e o que eu penso sobre publicidade. A maioria errada”. E ele ainda acrescentou: “A razão pela qual eu adquiri o Twitter é porque eu acho ser importante para o futuro da civilização ter uma praça digital comum, onde uma ampla gama de crenças pode ser debatida de forma saudável, sem recorrer à violência”.

O Twitter com Elon Musk

A compra do Twitter foi um choque em todos os sentidos. Musk promoveu um choque de gestão ao iniciar uma demissão em massa com o desligamento de cerca de 75% da força de trabalho da empresa. Ele até mandou um e-mail aos funcionários sobre o assunto: “Trabalhe duro ou vá embora!” ele alertou. Ele também promoveu um choque entre os usuários com novas regras para o sistema de verificação de contas, com o (re)lançamento do serviço pago Twitter Blue que além do selo de verificação, reduz a visualização de anúncios em 50%. Além disso tratou de reestabelecer a conta de Donald Trump.

As regras do Twitter são alteradas de acordo com a vontade do seu dono no melhor estilo “Minha casa, minhas regras”

Ele também suspendeu contas de jornalistas, principalmente aqueles que fazem a cobertura do cotidiano do bilionário e suas empresas. Ele também baniu a conta @elonjet, mantida por Jack Sweeney que usava dados públicos para publicar onde o jato do bilionário estava viajando. Se ele fizesse isso só com o pobre Elon, tudo bem, mas ele fazia isso com vários oligarcas russos outras personalidades. Ele criou uma regra específica sobre isso: o banimento cabe para o “compartilhamento de qualquer informação em tempo real, incluindo informações no Twitter diretamente ou links de terceiros com rotas de viagens”. Detalhe… ele mesmo havia prometido que não faria isso, afirmando que estava comprometido com… ora ora… a liberdade de expressão.

O chefe manda… o Twitter obedece

Além de suspender contas baseadas em regras, outros banimentos aconteceram, mas por ordem direta de Musk, sem necessariamente um razão para isso que não fosse a vontade do chefe. E agora entre as “novidades” da plataforma solicitadas pelo chefe, está a possibilidade de usuários verificados postarem tuites com até 4.000 caracteres. Outra novidade está na proibição da suspensão de anúncios políticos na plataforma.

Muita gente deixou de usar a rede e passou a utilizar outros serviços como o Koo ou Mastodon. Apesar de Elon Musk e seus destemperos, a plataforma ainda mantém suas regras que visam a segurança da rede e seus usuários. Em teoria, a plataforma não permite:

  • Discurso de ódio
  • Terrorismo/Extremismo
  • Suicídio ou automutilação
  • Exploração sexual infantil
  • Mídia sensível (violência gráfica/conteúdo adulto)
  • Promoção de bens e serviços ilegais

Também existem regras para spam, perturbação da integridade cívica (como manipulação ou interferência eleitoral), perfis falsos, deep fake, violação de direitos autorais entre outras restrições (tal como a do jatinho). Existe uma página do próprio Twitter que apresenta as regrinhas, que segundo o próprio Twitter, pode mudar de tempos em tempos.

O Twitter hoje

A empresa está buscando soluções para monetização e aumento de suas receitas. Por conta de toda a muvuca que o próprio Musk criou para si, muitos anunciantes se retiraram da plataforma, personalidades e celebridades anunciaram sua saída da rede e apesar de existirem regras, o que se constatou foi um aumento do discurso de ódio, de perfis falsos e contas verificadas pagas sem credibilidade pública. Afinal, quem paga tem, quem não paga, não tem. E o Twitter já anunciou que irá remover as verificações concedidas anteriormente à nova política do Twitter Blue.

Além disso, o Twitter tem sofrido processos por não pagamentos de aluguéis de suas sedes em vário lugares do mundo. Outro problema diz respeito a contas hackeadas que aumentaram principalmente após a onda de demissões que assolou a companhia. Numa postura muito parecida a de um certo ex-governante brasileiro, Elon Musk tem feito e desfeito suas ações, de acordo com o nível de críticas que recebe. Então o momento atual é de instabilidade.

O Twitter vem deixando de ser um lugar saudável para divulgação de ideias e conteúdos e vem se tornando uma rede com viés ideológico que muda suas regras de acordo com seus interesses, ou melhor, de acordo com os interesses de seu dono. Excesso de publicidade, excesso de conteúdos impertinentes, excesso de vaidades e pouco espaço para o que realmente importa: a liberdade para se expressar dentro de um regramento democrático e justo.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Tecnologia

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