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Meu dia como palmeirense

Em uma daquelas faxinas programadas achei uma foto que me fez lembrar de um momento bem engraçado na minha vida. O ano era 1993 e eu estava no cursinho. Naquele ano, o Palmeiras havia montado um grande time e Luxemburgo mostrava ser um técnico brilhante. E era o time a ser batido. Eu poderia achar isso fantástico, não é mesmo? Poderia celebrar o bom futebol e aceitar a superioridade alviverde.

O problema é que sou corintiano… não roxo… não daqueles que chora copiosamente por um título perdido. Mas um daqueles que aceita o fato de que o seu time tem altos e baixos e que – oras, bolas – é legal torcer para o Corinthians. E sofrer com isso.

Bom… naquele ano de 1993 eu estava preocupado com outra competição: o vestibular. Estava mais preocupado em entrar em uma faculdade de medicina e o futebol estava lá embaixo na lista de prioridades. Mas quis o destino que Palmeiras e Corinthians chegassem à final do Campeonato Paulista. O Palmeiras estava em uma longa espera (se não me engano, 16 anos sem títulos). E para ajudar, o Corinthians vencera a primeira partida da decisão por 1 x 0. Com direito a uma performance do Viola imitando um porquinho chafurdando (existe esta palavra?) na lama.

No primeiro jogo da final, Viola teve a “brilhante” de imitar um porco… Pegou mal

Obviamente estávamos muito… muito confiantes mesmo.

Claro que eu e outros corintianos da sala tiramos um grande sarro dos palmeirenses. Mas, em algum momento, um de nossos colegas resolveu levar a sério as provocações, esquecer um pouco a história do vestibular e apostar que o Palmeiras não só venceria o Corinthians no segundo jogo, como daria um espetáculo. E me desafiou a aceitar a aposta.

Os termos da aposta: se o Corinthians fosse campeão, eu ganharia uma camisa oficial do Corinthians. Novinha… Se perdesse por mais de três gols, eu deveria passar o dia inteiro usando a camisa do palmeiras. Mas não qualquer camisa. A camisa que esse colega (que o tempo fez com que eu esquecesse o nome) usaria no dia jogo.

Achei pouco provável que o Palmeiras revertesse a vantagem, ainda mais por tantos gols… E assim, pra lá de confiante, aceitei a aposta. Com direito ao professor que estava na aula servir como fiel testemunha da aposta. Assim, acertados e apostados, restou aguardar pelo domingo da grande final.

E então o jogo aconteceu… Bom, o Palmeiras não só venceu como goleou o Corinthians por sonoros 4 x 0. Jogou e (devo reconhecer) deu um espetáculo e tanto de futebol. Foi uma aula de futebol. Só que do lado de lá.

Palmeiras 4×0 Corinthians… fora o baile.

Na segunda-feira, ao chegar no cursinho, fui direto para a sala tentando me esconder da óbvia cobrança da aposta. O problema é que a camisa já estava sobre minha cadeira. E para ajudar, a primeira aula do dia era justamente do mesmo professor fiel da aposta. Me fiz de desentendido e sentei na cadeira ao lado. Pouco a pouco, os alunos foram chegando. Olhavam para a camisa, olhavam para mim e eu queria desaparecer. Tocou o sinal e o professor chegou. Como todos os outros, ele olhou para a camisa, olhou para mim e disse mansamente…

“De onde venho, as pessoas costumam honrar suas apostas”.

A sala desabou em gargalhadas. E estamos falando de uma sala com mais ou menos 120 alunos. Em seguida, o coro “coloca… coloca… coloca…” invadiu a sala. E tive que ir lá na frente vestir a danada. Oras bolas… aposta é aposta! Mas como aquela camisa fedia… meu Deus!

Sim… eu honrei a aposta e usei a camisa o dia todo. O rapaz até me liberou da aposta com pena de mim. Isso foi lá por volta de 12h50… e no intervalo, alguém lembrou de registrar o momento. A foto que ilustra a vitrine do texto é o registro daquele dia. Ao meu lado, o Robert e o Binho. Grandes amigos daquela época. Que fizeram questão de eternizar meu único dia como palmeirense.

Primeira (e última) vez que alguém verá eu usando o manto alviverde

É claro… nunca mais entrei em apostas que envolviam o Corinthians… como eu disse lá no começo… é um time de altos e baixos… então… vai saber, não é mesmo?

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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