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A renúncia do Papa Bento XVI

Na história recente da cristandade, um nome foi muito forte para os católicos: João Paulo II. Ele foi papa por mais de 25 anos (mais exatamente 27 anos). Sua morte trouxe desconforto para os seguidores da igreja pois afinal, apesar de todo o conservadorismo da igreja, ele foi o papa que acenou com alguma modernização da igreja.

Em seu lugar, assumiu um cardeal alemão muito próximo ao falecido papa. Ao ser eleito, adotou o nome Bento XVI e disse que era com alegria que aceitava a missão mesmo se considerando um “instrumento insuficiente”. Para seu ministério ele contava com a ajuda do Senhor e de sua santíssima Mãe. Pelos menos foi isso que ele disse em sua primeira declaração pública como papa. Lembro que na época, diversos analistas opinaram sobre a escolha do Cardeal Ratzinger. Julgavam-no uma espécie de tapa-buraco. Um ministério papal de transição. Sua idade avançada (78 anos na ocasião) e o fato dele ser visto como um continuista em relação à obra de João Paulo II, o cardeal Ratzinger era uma escolha acertada.

E agora, em pleno carnaval, eis a notícia: o papa irá renunciar ao ministério papal em 28 de Fevereiro. Um verdadeiro raio caiu sobre o mundo católico… literalmente. A alegação? O peso da idade… ao que parece ele já não tem forças para prosseguir com o trabalho espiritual a que um papa deve se submeter. Desde sua aclamação em 2006 até hoje (2013) lá se vão 7 anos. E isto já não pode ser considerado exatamente um “período de transição”.

Um Papa fracassado?

Um artigo que me incomodou muito foi o do filósofo Luiz Felipe Pondé do jornal Folha de São Paulo. Em sua análise, ele defende a tese que Joseph Ratzinger foi um brilhante teólogo, mas um papa fracassado. Infelizmente, o texto original só está disponível para assinantes do UOL.

Discordo quando afirmou que o papa é um fracassado. A instituição passa por momentos tubulentos onde seu anacronismo causa uma crise de identidade e uma crise de fé entre seus fiéis. Alguns cultos evangélicos mais imediatistas prometem aquilo que nem sempre é possível alcançar por meio única e exclusivamente da fé: o êxito financeiro. E muitos fiéis vão em busca da tão prometida salvação. Mas a salvação terrena. Queremos a ajuda de Deus para ser felizes… com dinheiro e contas pagas. Então se Deus me proporciona isto, então é um bom Deus… e às favas com a salvação espiritual.

E a igreja católica “moderna”, por mais anacrônica e conservadora que seja, não prática este tipo de fé. É uma igreja que prega a salvação espiritual, prega a expiação dos pecados, prega a fé no divino. Mas não prega que você ficará rico se contribuir com a obra do senhor.

A igreja agoniza sim… mas não por culpa de um homem que admitiu estar cansado, não por causa da burocracia vaticana, não por causa da falência de suas crenças cristãs. Agoniza porque as pessoas são imediatistas e querem aqui no mundo de hoje, a solução de todos os seus problemas. O papa não fracassou em seus ideais. Ele pode não ter mudado a opinião dos outros, mas defendeu com todas suas forças aquilo em que acredita. Nenhum homem pode ser considerado um fracasso por defender aquilo que acredita.

O direito de dizer “basta!”

Certo ou errado, não cabe a ninguém julgar a atitude do papa renunciante. Alguns disseram que o homem está agindo como um covarde, um fraco. Outros dizem que ele está agindo com humildade e fé, característicos de sua obra em vida. Temos ali, um padre cansado que percebeu que – embora talvez seu espiritual esteja inabalado – o seu físico já não é suficiente para carregar o fardo de um papa.

Ouso dizer que um homem tem o direito de dizer quando basta. E acho que foi isso que o Cardeal Joseph Ratzinger fez. Algum outro que esteja com forças é quem deverá conduzir a barca de Pedro e carregar o anel do pescador. Sou católico apostólico romano. Batizado, comungado e crismado. Mas não sou um fiel praticante, apesar de acreditar nos sacramentos da igreja e também simpatizar muito com algumas ideias espíritas. Sei que as duas ideologias não são absolutamente concordantes, mas acredito sim no Pai, Filho e no Espírito Santo. Acredito que quem quer que seja o próximo papa, será alguém digno de carregar o pesado fardo de sentar-se no Trono de Pedro.

Post Scriptum…

O texto original foi publicado na ocasião da renúncia de Bento XVI. Seu papado foi estabelecido entre 19/04/2005 até sua renúncia em 28/02/2013. O papa emérito viveu recluso em um mosteiro por alguns anos e veio a falecer em 31/12/2022 aos 95 anos de idade. O texto foi resgatado em razão da divulgação de uma carta que o papa enviou ao seu biógrafo, o jornalista alemão Peter Seewald.

De acordo com esta carta, o motivo central da renúncia do papa Bento XVI foi a insônia. Pois é… de acordo com a notícia do site G1 publicada a cerca de um ano atrás, Bento XVI sofria de insônia crônica e os remédios prescritos por seu médico já não surtiam o efeito desejado. Pesou em sua decisão da renúncia os compromissos como líder da igreja católica que exigiam mais do que ele poderia oferecer naquele momento.

Em seu lugar, foi escolhido como o 266º sucessor de Pedro, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que assumiu como Papa Francisco 13/03/2013, sendo o primeiro pontíficie originário das américas e também o primeiro da ordem dos jesúitas a ocupar o trono. Prestes a iniciar o seu 11º ano de papado, Francisco já conta com 87 anos e obviamente a idade já cobra seu preço.

Desejo longa vida ao Papa Francisco.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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