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Um palhaço eleito por palhaços

Eu me recordo das últimas eleições para o congresso, ocorridas em 2010. Estávamos numa mesa de amigos e discutíamos quem votar para deputado, sendo que o congresso é isso e aquilo, mas está nas nossas mãos e etc… Surge um dos convivas a anuncia o voto em Tiririca. Todos riram às gargalhadas, menos eu.

Pânico na minha esposa, o clima pesou na mesa, pois passei a encará-lo com uma expressão facial reprovadora. Ele disse que se o congresso era uma palhaçada, melhor eleger profissionais. Eu respondi que o problema não era os palhaços que estão em Brasília, mas os palhaços que os conduziam pelo voto até lá. Bom, depois dessa, a noite acabou mesmo ainda que a turma do deixa disso tenha entrado mudando de assunto.

Tiririca voltou agora às manchetes por ser, vejam só, um deputado modelo. Pelo visto comparece às sessões sem faltas e apresentou considerável quantidades de projetos de lei. Para os eleitores de Tiririca que quiserem tripudiar comemorando o acerto do voto, insisto: foram enganados também, pois votaram no sujeito para que ele fizesse palhaçadas no Congresso e não para que tivesse um comportamento exemplar. Fosse assim teriam votado em alguém que pelo menos soubesse o que faz um deputado.

Ressaltar a atividade parlamentar de qualquer deputado pela sua assiduidade é apenas um sinal da perigosa falência do nosso legislativo. O senhor Francisco Everardo de Oliveira precisa deste cargo até como emprego, pois vinha em baixa na mídia. E certamente, como muito bem lembrou o Editor deste Blog, tem uma equipe que atua direcionando sua atividade parlamentar, uma vez que deve continuar semianalfabeto. Tudo isso para que seja reeleito, e por conta do nosso surreal sistema proporcional, “puxar” votos para outros candidatos de seu partido (que… qual é mesmo?), o que só nos revela a sordidez do plano de que ele conscientemente toma parte.

Sei não, mas acho que pode ter sido um tiro no pé. Os eleitores dele, decepcionados com a boa atuação do nobre deputado, podem querer escolher outro palhaço ou uma dessas mulheres-fruta ou mesmo um cantor de “funk ostentação” – que já teria muito dinheiro e não se elegeria para roubar.

Tiririca conseguiu com sua eleição mostrar não a mediocridade do Congresso, mas dos eleitores. Vendo esta notícia(*) de sua atuação irretocável, veio-me à memória uma cena do filme “Todos a bordo”, de Spike Lee: trata-se, para quem não viu, de um road movie, passado num ônibus onde um grupo de negros se dirige a Washington para uma grande passeata (a “Marcha do Milhão de Homens”, em 95). Num dado momento lançam um desafio a um dos passageiros que se gaba do dinheiro que tem (e que hoje seria chamado de “coxinha”) e se dá este diálogo: “você sabe o que é um negro que anda num carrão, com roupas caras e muito ouro pendurado no corpo?” “Não, o que é?” “Um negro…”

Se alguém ainda perguntar o que seria Tiririca agora, fazendo as lições de casa como deputado, eu não hesitaria em responder: continua um palhaço, eleito por palhaços.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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