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Carta Aberta ao Ministro Ricardo Vélez Rodriguez

Prezado senhor,
Exmo. Ministro da Educação

Ricardo Vélez Rodriguez

Antes de mais nada, eu devo tranquilizá-lo de que seu trabalho será mais fácil que o senhor imagina. Se conseguir fazer a moçadinha chegar na adolescência sabendo as quatro operações e escrever uma lauda (ainda existe lauda?) sobre qualquer assunto que ela domine acertando os plurais e não separando com vírgula o sujeito do predicado – donde ser necessário saber quem são esses dois – o senhor já vai entrar para a história.

Parece pouco, mas em 500 anos não conseguimos… Conseguir em quatro talvez seja pedir muito. Mas a gente curte pedir muito, ainda que vote parecendo pedir pouco.  Nas escolas que ainda não possuem biblioteca, coloque uma. É mais importante que computador. Ler dá trabalho, pensar dá trabalho, demanda tempo e principalmente foco e concentração. Além do mais, eles vão querer ver Facebook e Google, e isso eles já terão nos celulares.

Eu sei, pode ser que um dia os livros acabem – as livrarias já estão acabando (como se houvesse muitas por aqui) – mas vale o investimento. Eu nem acho que quantidade de livraria é atestado de civilização. Rede de esgoto é que é. O Senhor sabe qual dos ministérios deste governo cuidará da rede de esgoto? Ok… não é problema seu.

Voltando, Ministro (eu prometo ser breve), talvez seja importante enveredar por um caminho de vanguarda… que seria ensinar o contraditório, e aí eu falo do que hoje chamamos de Ensino Médio.

Antes de minha sugestão estapafúrdia, uma sugestão de bom senso: deixe estes nomes como estão mesmo, Ministro. Faz pouca diferença. Então fica Ensino Fundamental, Médio e Superior mesmo. Nomes bonitos como “Ginásio”, “Clássico” e “Científico” ou mesmo o “Colegial” ou ainda “Primeiro e Segundo Graus” não nos fizeram andar. Deixemos como está.

Mas a minha ideia é uma disciplina chamada “Contraditório”. Como o Senhor vê, não sou bom com nomes. Mas seria uma disciplina ministrada nos três anos do Ensino Médio. A ideia seria a contestação mesmo. Adolescente contesta, acha chique. Pois que demos munição a estes espinhentos.

Começando pela Filosofia: na Escola só vai ter Kant – Hegel – Marx. Depois a escola de Frankfurt e seus ovos chocados como Foucault. Só isso. E na Universidade só isso também…

A Disciplina do Contraditório poderia contradizer temas como “mais-valia”, começando com Carl Menger, que explicou por A mais B ao xará Marx sobre a bobagem incutida neste conceito. Depois com um livrinho fininho, de bolso, que não dá nem duzentas páginas, chamado “O caminho da servidão” de Friederich Hayek, o aluno refletiria criticamente sobre o que exatamente a esquerda quer dizer com “igualdade” e o custo para se chegar a ela, além de sua inviabilidade, sempre cortejando com outro conceito, o de “liberdade”.

E por fim, ao final do Primeiro Ano do Ensino Médio, chega-se a Mises. Dá para gastar um semestre lendo “Ação Humana”. Aí a banquinha de camisetas vai ostentar, ao lado das camisetas com a cara do Che, outras com o dizeres “Menos Marx, mais Mises”.

No segundo ano, Eric Voegelin, que precisou de dois meses para deixar de ser marxista. Daremos um semestre de lambuja aos alunos – partindo do pressuposto que já chegarão aí com Kant – Hegel – Marx pelo menos remediados pelas outras disciplinas.

Aprender com embasamento que a luta de classes não move nem nunca foi o motor da história por volta dos 16 anos é tão divertido quanto aprender a dirigir. No segundo semestre só dois livros, que podem ser esmerilhados em resumões, com um bimestre para cada: “Reflexões sobre a Revolução Francesa” de Edmund Burke e “Rumo à Estação Finlândia” de Edmund Wilson. Vale apostilar os livros, fazer estudo dirigido, sei lá!

Finalmente no Terceiro Ano! O professor vai começar a primeira aula escrevendo na lousa em letras garrafais: “A Semana de Arte Moderna de 1922 nos fodeu enquanto país e cagou irremediavelmente na nossa Cultura”.

Daí vão invadir a sala, tentar agredir o professor, bater nos alunos inscritos na Disciplina, e o chabú vai ser tamanho que ela se tornará inviável no Terceiro Ano. Mas até aí, a Coxinha I e Coxinha II – como serão jocosamente chamadas as disciplinas nos anos anteriores – já estarão consolidadas.

Eu sei que será difícil, Ministro. Mais fácil fazer a turma aprender o que foi sugerido no primeiro parágrafo. Mas vamos tentar. A gente não quer briga, só quer o contraditório. Precisa nem ser obrigatória. Pode ser opcional.

E melhor… pode ser ministrada na hora da Oficina de Siririca.

Publicado em:Editorial

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