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Pódio Sem Pipoca – Anos 50

Conhecida como Década de Ouro tanto da música pop, como da televisão e também do Cinema, os anos 50 deixaram sua marca no imaginário acima de tudo na estética. Porém foi uma década de grandes filmes, clássicos eternos que retrataram seu tempo mas cujas mensagens eram universais.

Uma época de grande produção, inclusive brasileira com os estúdios da Atlântida vivendo seu auge com as chanchadas e a Vera Cruz com seu cinema mais “sóbrio” e artisticamente mais cuidadoso. No Pódio Sem Pipoca dos anos 50 estão:

Crepúsculo dos Deuses

Na era de ouro do cinema, escolhemos o filme-chave sobre as decadências das celebridades de Hollywood, notadamente as que se dão ladeira abaixo. Para início de conversa, tudo começa com um homicídio. Inclusive quem narra o filme é o defunto (o diretor Billy Wilder jura não ter lido “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Arrân… a gente acredita).

Crepúsculo dos Deuses mostra a decadência das estrelas
Crepúsculo dos Deuses mostra a decadência das estrelas

Depois vemos o roteirista fracassado Joe (feito por William Holden), fugindo da financeira que decretara busca-e-apreensão do seu carro , para isso se escondendo na mansão da outrora estrela Norma Desmond (interpretada por Gloria Swanson). Para o roteirista ali estava ótimo. Só não estava perfeito porque Norma ainda achava que ela estava com a bola toda, crença que era reforçada pelo seu mordomo – impagavelmente interpretado por Erich Von Stroheim.

Ela solicita a Joe que escreva o roteiro para seu próximo filme, Salomé, que tudo indicava que seria uma bomba, mas era o que Joe tinha para aquele momento e a única escolha era topar.

Mostrar que a decadência fazia parte da vida em Hollywood foi um trunfo deste filme. O roteirista Joe centraliza o conflito entre uma fantasiosa vida de glamour ao mesmo tempo que “deve na praça” e vai se enredando em mentiras e dissensos que vão se tornando insuportáveis até que no final a estrela finalmente protagoniza uma história – a pior e mais degradante de todas, mas sem perder a pose ao descer as escadas sendo fotografada para as páginas policiais e dizendo sua frase lapidar: “Estava pronta para estes close ups!”

Rastros de Ódio

O veterano da Guerra Civil Ethan Edwards (John Wayne. Assim não, vamos escrever com caixa alta: JOHN WAYNE) chega ao rancho de seu irmão para uma temporada. Uns dias depois a propriedade é atacada por índios Comanches. Edwards vê seu irmão e cunhada serem mortos e suas duas sobrinhas serem sequestradas.

Rastros de Ódio é um dos filmes que definem JOHN WAYNE
Rastros de Ódio é um dos filmes que definem JOHN WAYNE

Ele parte então em companhia do sobrinho em busca das meninas. Uma é encontrada morta pelo caminho. Continuam a busca pela outra. Que vai por longos e arrastados cinco anos.

Neste tempo, o amargor de Edwards aumenta, bem como seu ódio aos indígenas. Ele treme só de pensar que a sobrinha (interpretada por Natalie Wood, belíssima) pode neste tempo ter se aculturado e inclusive se recusar a ir com ele caso a encontre. Deixa muito claro que se preciso irá matá-la só para que ela não fique com os Comanches.

O personagem de Wayne é magnífico e vai revelando nuances que vão até a última cena. Mas não é o mais grandioso do filme. Rastros de ódio é de uma exuberância visual imensa, com as paisagens típicas do Western mais opressoras e bonitas do que nunca. Não é esnobismo dizer que a fotografia é um dos pontos altos do filme.

Outro ponto é que o filme consegue mostrar antagonistas sem preconceito. A visão que Edwards tem dos Comanches é, além de fruto do seu tempo, fruto da chaga que impuseram a sua família. Há homens bons e maus entre os nativos, e, de todo modo, o roteiro não perdoa os deslizes morais de Edwards, nem os justifica num veterano de guerra que experimenta perdas afetivas incontornáveis. Um filme intenso e muito bonito em seu lado humano e no retrato da natureza.

O Sétimo Selo

Logo na abertura há uma citação do livro bíblico Apocalipse: “E havendo o Cordeiro aberto o sétimo selo, fez-se um silêncio no céu de quase meia hora”. A Bíblia nos conta que o destino da humanidade está traçado num livro de sete selos, e, quando o último for aberto, a humanidade teria sua Hora Final. O filme conta o retorno do cavaleiro cruzado Antonius Block para a sua Suécia medieval após dez anos lutando nas Cruzadas.

Em O sétimo selo, temos umas das mais inusitadas partidas de xadrez da história

Ele volta em pleno vigor da Peste Negra (ooopa!) mas tenta encontrar sua merecida paz, até que em um dia andando na praia, encontra-se com ninguém menos que a Morte. Antes porém que a Indesejada o leve, ele propõe uma partida de xadrez. Tem-se uma das mais famosas e bonitas cenas do cinema.

O filme discute o nosso medo da morte, mas o xadrez não serve para enrolar a Dita Cuja – o cavaleiro sabe que sua hora chegou. Ele aproveita para reflexões filosóficas enquanto de depara com personagens pitorescos, e todos eles se vão sucumbindo à foice mortal, menos uma família de artistas mambembes.

Não se sabe porque Ingmar Bergmann escolheu gente da própria classe, seus colegas ainda que andarilhos insignificantes, para serem poupados. Talvez porque a Arte seja a maior das formas de transcendência. Mas tem quem enxergue ali um gesto de esperança, sendo os artistas a representação da Sagrada Família. No entanto, sobram críticas para a Igreja – há uma cena de uma mulher sendo queimada viva, além do diálogo do Cavaleiro com um “padre” durante a confissão.

“O sétimo selo” é denso e cheio de referenciais – até uma alusão a Dom Quixote pode ser reconhecida. Em tempos de pandemia, este filme magnífico nos mostra que nosso maior flagelo são nossas incertezas. Seja na Idade Média, seja no Século XXI.

Serviço

“Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Boulevard, EUA 1950). Direção: Billy Wilder. Elenco: Gloria Swanson, William Holden, Erich Von Stroheim.

Rastros de Ódio (The Searchers, EUA 1956). Direção: John Ford. Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Ward Bond, Natalie Wood.

O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet, Suécia 1957). Direção: Ingmar Bergman. Elenco:  Gunnar Björnstrand, Bengt Ekerot, Max von Sydow.

Tapetão

Um corpo que cai; Ben Hur e Sindicato de Ladrões. Fica a critério do leitor opinar sobre isso.

Publicado em:Opinião,Sem Pipoca

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