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O que o futuro nos reserva?

Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições presidenciais de 2022. No segundo turno ele obteve 60.345.999 de votos contra 58.206.354 de Jair Messias Bolsonaro. Vitória apertada, pois em percentuais, temos 50,9% contra 49,1%, a margem mais apertada que um presidente já teve. Mas ainda assim, as urnas precisam ser respeitadas. E nesse sentido, Luiz Inácio é o futuro presidente do Brasil.

Vamos aos números

Antes de qualquer discussão sobre preferências políticas ou partidárias, quero aqui observar alguns números. E quero começar pelos votos de 1º e 2º turnos. Veja só:

1º Turno2º TurnoDiferença
Luiz Inácio Lula da Silva57 259 50460.345.9993.084.495
Jair Messias Bolsonaro51 072 34558.206.3547.134.009
Outros Candidatos9.816.691n/an/a
Total de Votos Válidos118 229 719118 552 353322.634
Votos em Brancos1 964 7791 769 678-195.101
Votos Nulos3 487 8743 930 765442.891
Abstenções32 770 98232 200 558-570.424
Fonte: Wikipedia – Eleições Presidências 2022

Quero primeiro falar dos números mais – digamos – fáceis de analisar… Mais gente anulou o voto e isto já era esperado. Muita gente não quer se alinhar a nenhuma das candidaturas. Por muito tempo eu mesmo me enquadrei neste perfil pois nenhuma das candidaturas representam plenamente minhas ideias políticas.

Além disso, houve um aumento de cerca de 570 mil eleitores que resolveram votar neste segundo turno, reduzindo o número de abstenções. Não dá pra saber para onde penderam estes votos, mas é um fato que muita gente quis garantir sua representação nesta eleição.

Tivemos menos votos em branco. E de novo… não dá pra saber se eles migraram para os votos nulos ou se pendeu para algum candidato. O que complica, é o que vem a seguir.

Do primeiro para o segundo turno, Luiz Inácio cresceu quase 3,1 milhões de votos, o que é um número bastante expressivo. Em contrapartida, Jair Messias cresceu pouco mais de 7,1 milhões de votos. O que – admito – um número bem mais expressivo. No total, a maioria optou por Lula, mas na migração de votos, Bolsonaro levou a melhor. Votos que foram de Simone Tebet e Ciro Gomes migraram para Jair Messias… não há como discutir isso. Ouso dizer que a maior parte desta migração foi dos eleitores de Ciro. Primeiro porque ele simplesmente se omitiu da disputa, fazendo apenas um apoio protocolar e que na prática não foi apoio nenhum. Afinal de contas, ele deixou claro que nenhuma das alternativas era viável.

Em número, o resultado é incontestável… mas os mesmos números dão fôlego às movimentações de alguns setores do bolsonarismo que não admitem a derrota. E isso preocupa.

O que estava em jogo nesta eleição?

A discussão destas eleições foi uma disputa entre uma corrente que acredita que o Brasil está no rumo certo e que as coisas melhoraram em relação aos últimos anos e outra corrente que temia pelo futuro da democracia frente a um governo autoritário com aspirações fascistas.

E a parte divertida é que os dois lados achavam que o outro lado estava exagerando. E é verdade que os dois lados cometeram exageros. Ouvi de gente muito boa que a economia está melhorando. Mas não é o que vejo quando vou pagar minhas contas ou quando vou ao supermercado. Quando ouço o noticiário econômico, ouço que o desemprego diminuiu. Mas a moeda segue desvalorizada, o mercado interno continua desaquecido e o aumento do emprego não é necessariamente o crescimento do emprego, mas sim da iniciativa empreendedora. Visto que boa parte dos “empregos” são de novos MEI’s que perceberam que o emprego “formal” tá bem difícil.

E é bom lembrar que os salários também encolheram, assim como o poder aquisitivo. As pessoas consomem menos, comem menos, produzem menos… como a economia pode estar melhor?

Me preocupou bastante ver que na briga de ideologias, a educação foi colocada de lado. Emprego, habitação e segurança são pontos importantes, não tenho dúvida. Mas combater os problemas da educação – principalmente a educação básica – é uma política de longo prazo importante para qualquer que seja o governo vigente.

A saúde também esteve à margem da discussão. A briga sempre relembrava as milhares de mortes na pandemia. E é bom deixar claro que o atual governo conduziu de forma desastrosa o combate ao vírus. Só fez o que era necessário por pressão da opinião pública e das instituições. Mas o discurso da gripezinha pegou mal… muito mal.

Mas a saúde não se resume à pandemia. Saúde básica, campanha de vacinação (com campanhas de conscientização para a importância de vacinar as crianças) e a criação de um sistema de saúde mais eficaz no tratamento de outras doenças é muito importante também. Mas os dois lados se esqueceram disso.

No final, apesar de haver a luta pela democracia como pano de fundo, o que estava em jogo nesta eleição, era o “nós contra eles”. Dos dois lados.

O que o futuro nos reserva?

Lula ganhou. Fato incontestável. Até o momento em que escrevo este texto, o candidato derrotado não se manifestou. Nada. Nenhuma manifestação. E este silêncio incomoda. Ao fazer isso, Bolsonaro não sinaliza se aceitou ou não a derrota. Sinaliza que neste momento ignora os resultados e espera o que os mais radicais têm a dizer. E eles estão dizendo, hoje estão ocorrendo manifestações com bloqueios de estradas. Dá a impressão que ele está testando a temperatura para eventualmente tomar uma iniciativa golpista que rompa com as instituições democráticas.

Aliás, pensar que o Bolsonarismo acabou com a eleição de Lula é um erro. Uma enorme bancada bolsonarista foi formada nas duas casas legislativas. São 13 estados que elegeram governadores em oposição à Lula. E estados importantes como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, além de todo centro-oeste elegeram ou reelegeram governadores abertamente bolsonaristas.

O país está quebrado… famílias romperam relações, amigos cortaram relações, políticos arrebanham seus seguidores como um séquito de fanáticos. E isso preocupa. Lula terá muito trabalho para governar. Terá uma grande oposição. Sua história também depõe contra ele. Não dá para ignorar o mensalão… Não dá para ignorar a manobra que Dilma tentou fazer para garantir a ele foro privilegiado. Em resumo, Lula também tem seus podres.

Mas ao mesmo tempo, muita gente boa está apoiando Lula. Muita gente boa que eu respeito e confio na sua biografia. Então, tenho ao menos que dar meu voto de confiança para que ao menos sejam resgatadas as instituições democráticas… que o estado seja desaparelhado, que o governo governe para 215 milhões de brasileiros. Sejamos diligentes na avaliação das ações do futuro governo de Lula. E critiquemos o que tiver que ser criticado.

Boa sorte ao Lula em seu futuro governo. Espero que tenha sabedoria em suas escolhas.

Meu desejo que Bolsonaro respeite a escolha do povo e jogue dentro das quatro linhas da constituição, como ele adora dizer… Seja um bom perdedor e aceite sua derrota e faça uma transição tranquila. Não estou pedindo que esteja lá no planalto para passar a faixa. Mas respeite a escolha do povo brasileiro.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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