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Carta aberta ao Vereador Marlon Luz

Exmo. Vereador do Município de São Paulo, senhor Marlon Luz,

Acabamos de ter uma pequena discussão via redes sociais. Sim… hoje o bate-boca não acontece de forma presencial, mas pelo Twitter, Instagram, Facebook e outras redes. Quero deixar claro que nada tinha contra o senhor. Aliás, para registro, confiei meu voto para vereador em sua candidatura por acreditar que o senhor faria sim alguma diferença em defesa dos motoristas de aplicativos; Eu entendo que um político deve observar todos os aspectos da sociedade quando no exercício de um cargo público, mas saber que a sociedade paulistana teria alguém em defesa dos motoristas, categoria tão maltratada por empresas como Uber e 99, era um alento.

Eu confesso que vibrei quando assisti seus vídeos, logo após sua eleição, onde o senhor foi até o Aeroporto de Congonhas e fez uma espécie de fiscalização contra os taxistas e maus motoristas que atrapalham a vida de quem quer trabalhar ali no aeroporto fazendo suas viagens com seus passageiros. Fiquei contente também quando vi a instauração de uma CPI dos aplicativos em âmbito municipal e confesso que lamentei quando soube que não foi o senhor o presidente de tal comissão, mas sim o vereador que tanto espinafrou a categoria (seu colega Adilson Amadeu, que nada tem a ver com esta discussão). Achei uma tremenda injustiça.

Em mais de uma oportunidade eu o apoiei e sempre que possível eu compartilhei suas postagens do YouTube. Realmente eu estava acreditando que o senhor vinha executando um bom trabalho em sua primeira legislatura. Tanto é que quando soube de sua candidatura à Deputado Federal não hesitei em nenhum momento em confiar meu voto no senhor. Não só o meu, mas o de minha família. Minha esposa e meus pais votaram no senhor. E eu realmente lamentei quando vi que o senhor não conquistou uma vaga no Congresso Nacional.

Eu realmente fiquei triste pelo fato de sua não-eleição. Mas isso mudou hoje.

Quero esclarecer que este é (ainda) um país livre. As pessoas têm (ainda) o direito de se manifestar livremente. O direito a opinião é garantido, aliás, pela constituição federal, que eu espero que seja de seu conhecimento.

Preciso esclarecer também que em 2018 eu tive um grande dilema moral e ético para votar. Digo isso porque nenhum dos candidatos à presidente, governador e senador representavam minhas opiniões políticas. Nenhum deles. O senhor tem ideia do quão frustrante é isso? Ainda assim, fiz escolhas dentro do que havia no momento… Acreditando nas ideias do Partido Novo, votei em Amoedo no primeiro turno para presidente, votei em Vinícius Poit para Deputado Federal, votei na legenda do NOVO para Deputado Estadual e com muito pesar anulei meus votos para governador e senador.

Não… meu voto não é da conta de ninguém. Muito menos da sua conta. Mas não devo nada a ninguém e preciso ilustrar meu posicionamento político para que esta carta aberta tenha algum sentido. Então, ainda que por sua falta de educação seja bem possível que o senhor não se importe com minha opinião, eu vou deixar aqui meu posicionamento político.

O segundo turno foi ainda mais difícil… Afinal de contas, de um lado tínhamos Fernando Haddad, cumprindo o papel de fantoche do Lulopetismo e do outro lado, Jair Messias Bolsonaro. No caso dele, me incomodava suas declarações homofóbicas, seu posicionamento em favor da ditadura e suas opiniões bastante controversas. Mas ao mesmo tempo, havia uma promessa de combate à corrupção, valorização da família e até mesmo um compromisso com o desenvolvimento do Brasil. Dei a ele o benefício da dúvida, pois ou era isso ou eu anularia meu voto.

Ah sim, esqueci de dizer ao senhor que sempre combati o Lulopetismo. Se o senhor gastar alguns minutos para percorrer as páginas deste blog verá que não foram poucas as vezes em que critiquei – e muito – o Lulopetismo e boa parte de suas políticas.

Sendo assim, confiante em um futuro melhor, votei em Jair Messias Bolsonaro e fiquei contente com sua vitória. Devo admitir.

Aí começaram os desmandos deste governo. Primeiro foi esta mania persistente do Jair Messias dizer “Quem manda aqui sou eu”. Eu acredito muito naquela máxima que diz que um líder não manda, ele lidera e conduz. Comecei então a desconfiar das reais intenções do atual governo.

Preciso dizer que em minha opinião – e quero deixar claro mais uma vez… MINHA opinião – que em pouco tempo o governo atual se mostrou um verdadeiro erro. Veio a pandemia e claro que uma pessoa de bom senso deveria dar um desconto para qualquer um que estivesse no cargo de presidente. Mas a condução do governo foi simplesmente desastrosa. Ainda me lembro do Jair Messias indo em rede nacional dizendo que era uma “gripezinha” e que ele tinha histórico de atleta e não seria acometido pelo problema.

Peço um pouco de paciência da sua parte. Eu estou chegando lá…

Some-se a isso o desastre que foi a política do governo para educação. Não sei quanto o senhor participou do debate nacional sobre a educação no país. Pela sua falta de educação para com seus eleitores, creio que nada. Mas isso é apenas uma especulação. O fato é que nós aqui do UBQ sempre estivemos atentos a isso e inclusive saudamos cada novo ministro da educação com uma carta aberta na ocasião de sua nomenação.

Com o tempo surgiu um discurso de intolerância, um aparelhamento injustificado das instituições, uma sequência de narrativas suspeitas. Veio aquela reunião ministerial que o Jair Messias deu um pito no agora eleito Senador Moro… Aquela mesma que o então ministro Ricardo Salles disse para aproveitar o momento para passar a boiada. Tenho certeza de que o senhor deve ter lido algo a respeito.

Eu não sei quanto ao senhor, mas o que vi nos últimos anos foi uma escalada do discurso de ódio e criação de uma rede de mentiras e destruição de reputações. Levou um tempo para eu reconhecer o erro de ter votado em Jair Messias. Eu deveria ter anulado meu voto. Eu deveria ter aceitado que não havia um candidato digno do meu voto.

Mas em 2020 eu achei que tive um candidato… votei no senhor para vereador. Mesmo tendo anulado meu voto para prefeito nos dois turnos. Não havia candidato viável. E quer saber? Teria votado no senhor para prefeito se fosse o caso.

O tempo passou e chegamos a 2022. De novo a correria que é natural em ano de eleições. Mas com a diferença de que o candidato a reeleição, o senhor Jair Messias havia deixado de ser uma opção. Ele mostrou ser um risco à democracia, um defensor da ditadura (sabe… estou falando daquela que vivemos por aqui de 64 até 85. O senhor deve ter visto em algum livro de história algo sobre isso), um completo despreparado para o exercício do cargo, um criador de narrativas mentirosas sem ao menos ruborizar as bochechas… um verdadeiro falastrão. Que não respeita ninguém.

E o pior, criou um pacote de “bondades” para tentar garantir sua eleição. Criou (por mais que ele negue) o mecanismo do orçamento secreto, que nada mais é do que uma legalização da corrupção. Entre outros desmandos que vou poupar o senhor aqui já que a carta está enorme…

Decidi então que não compactuaria com isso. Decidi então que meu voto nesta eleição seria um voto para garantir que – em primeiro lugar – Jair Messias Bolsonaro fosse varrido do governo. E na falta de melhor opção, eu votaria em Lula. Eu reforço…. não votei no Lula por acreditar no Lulopetismo. Tenha certeza de que continuarei igualmente um crítico ferrenho de suas ideias. Mas votei no Lula para tirar o Jair Messias. Pelo mesmo raciocínio, também jamais votaria em Tarcísio de Freitas. Pelo simples fato dele achar que o melhor presidente do Brasil foi Jair Messias.

Em relação ao Senado e Deputado Estadual, perdoe-me a franqueza, mas desta vez não é da sua conta. Mas para Deputado Federal, minha certeza inabalável de votar no senhor. Votar em você, Marlon Luz.

Aí, chegamos no dia de hoje. Luiz Inácio e Jair Messias estão numa guerra tosca pela presidência. O mesmo ocorre no governo de SP. Quanto a você, imaginei que retornaria ao seu trabalho legislativo na câmara dos vereadores e continuei a acompanhar sua legislatura. Até que me deparei com seu vídeo onde você tacitamente declarou seu apoio a Jair Messias e Tarcísio de Freitas.

Minha primeira reação foi de incredulidade. Assisti ao vídeo duas vezes tentando realmente entender suas razões e sua decisão. No fim, não concordei. E democraticamente expus minha indignação e frustração com sua decisão. Minha esperança, era ter um diálogo franco, respeitoso e educado com você. Sei lá, queria entender suas razões, queria uma explicação. Mas aí li suas declarações a quem ousou discordar de você e percebi que eu tinha cometido outro erro. Votar em você.

Não quero ser leviano de somente colocar um ponto da questão… então aí vai a íntegra de nossa pequena discussão… Tudo começou com seu post sobre o Lula:

Então, postei minha resposta…

E já que estava soltando o verbo, aproveitei para expor minha frustação quanto ao seu apoio, por meio de outros tuítes:

E continuei…

E acho que talvez você não tenha entendido… o mentiroso em questão é o Jair Messias. Não você. Mesmo porque, até o momento, não me deu motivos para eu acusá-lo de mentiroso. Você pode ser um fisiologista, corporativista e despreparado… mas não mentiroso… Mas isso sou eu divagando… voltemos aos tuítes… Por fim, concluí…

Não tardou muito e recebi sua resposta. Para ser honesto, não achei que haveria uma resposta ou talvez houvesse uma resposta protocolar. Mas eu não estava preparado para o que viria….

Eu posso estar errado na minha interpretação. Mas acho que você me chamou de desonesto.

Desonesto? Por não concordar com você? Então eu virei um criminoso, um pária na sociedade porque simplesmente ousei discordar da sua opinião? Ora, vereador, em primeiro lugar é necessário ter decoro para exercer um cargo público. Você não pode chamar uma pessoa que você sequer conhece de desonesto. Em segundo lugar, você precisa demonstrar algum respeito pelo povo, pelo eleitor, pela pessoa.

Depois disso, você ainda teve a petulância de ironizar minhas publicações.

Você mostrou com isso o que infelizmente eu não consegui enxergar antes. Você é só mais um político de balcão. Aquele da pior espécie, sabe? Aquele que é corporativista e atende somente aos seus próprios interesses, que não ouve seus eleitores e não acredita no debate de ideias e acha que a ofensa e o escárnio são as ferramentas para se fazer política.

Não… o senhor não é um político sério. Não merece meu voto e também não merece o voto de qualquer cidadão que busque um futuro melhor para o país. Você é mais do mesmo… realmente uma pena.

Você não me conhece… não sabe quem sou… E mesmo assim me chamou de desonesto. Você tem o direito de votar em quem quiser e como influenciador tem o direito de tentar influenciar quem quiser. Mas não tem o direito de me ofender. Não tem o direito de me desrespeitar. Tem o dever de agir com alguma compostura, como um político que respeita o cidadão.

Você não tem o direito de me chamar de desonesto.

Espero que 2024 devolva você à sua insignificância e o eleitor consciente lhe retire da vida pública pelo voto. Tenho fé de que encontraremos políticos bem mais preparados que você.

Ah sim… eu quase ia me esquecendo. Seu partido, pelo que me consta é o MDB, o mesmo da candidata Simone Tebet, que apoia Luiz Inácio. Então se ela vota em ladrão, a candidata a presidente do seu partido é desonesta também? Se eu sou desonesto, o senhor é no mínimo, incoerente.

Sem mais, subscrevo-me.

Ricardo Marques
Editor-chefe do site Um Blog Qualquer
Pai de família e Cidadão Brasileiro

Post Scriptum necessário

Quero deixar claro que esta carta não é a opinião do UBQ ou dos outros editores. Tampouco estou escrevendo esta carta na qualidade de editor-chefe do UBQ (apesar de ter posto o título ao final da carta porque afinal de contas, é quem eu sou aqui no UBQ). Estou escrevendo como cidadão ofendido. Como cidadão ciente dos seus direitos e deveres.

Quero lembrar apenas que o UBQ é um espaço democrático, vereador. Aqui há espaço para a livre manifestação. Garanto a você que caso seja de seu interesse, o espaço estará aberto à sua réplica e poderá manifestar-se livremente por aqui. Diferente de você, somos abertos ao diálogo e ao debate.

E a partir do momento que você me chamou de desonesto, me deu o direito de chamá-lo de despreparado.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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