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Então chegou o Natal

Eu não lembro da minha primeira noite de Natal… mas posso dizer algo sobre o primeiro Natal de que me lembro. O ano era 1982. E eu tinha apenas oito anos de idade. Na ocasião, eu quis me preparara para a chegada do bom velhinho.

Escrevi uma carta para o Papai Noel. Fiz um desenho de uma árvore de Natal e em seguida fiz o meu pedido de presente. Nós crianças temos o terrível hábito de achar que o Papai Noel tem a obrigação de nos dar um presente. E exatamente o presente que pedimos.

E eu queria um vídeo game. Para ser mais específico um Odissey da Philips, igual a um amigo da escola. Fiz a carta, expliquei que qual o presente, especificando o modelo e o jogo que eu queria. Minha mãe me levou até a caixa do correio e eu depositei minha cartinha com o endereço e destinatário: “Papai Noel – Fábrica de Brinquedos, Pólo Norte”.

Quando chegou a noite de Natal, pedi aos meus pais para que eu pudesse conversar com o Papai Noel assim que ele chegasse em casa. Meus pais me explicaram que o Papai Noel tinha muito trabalho naquela noite e não poderia parar para conversar. Pela janela do meu quarto, meu pai me apontou para um pontinho luminoso no céu que mais parecia uma estrela e disse: “Está vendo? Ali está o Papai Noiel. Ele está a caminho… vamos esperar na sala e depois a gente volta para ver o presente que ele deixou.

Fomos então para a sala. Ficamos assistindo TV e eu confesso que não lembro o que estava passando… vai ver era mais um especial do Roberto Carlos. Mas lembro de ficar enchendo o meu pai de perguntas sobre o Papai Noel e suas entregas. Ele até que estava paciente naquela noite. Não havia (como até hoje não há) a tradição da ceia de Natal. Em casa, a celebração era o almoço de Natal. Então naquela noite já havíamos jantado. Minha mãe aliás. estava sumida.

Passou um tempo, chegou a meia noite e minha mãe enfim apareceu. “Acho que o Papai Noel já deixou o presente de vocês, vamos lá ver?”. Subi correndo para o quarto e lá estavam os presentes… para meu irmão, uma bicicleta Caloi 10, para mim, um vídeo game Atari 2600. Na janela aberta, o mesmo pontinho luminoso no céu…

“Ele errou no meu presente”, eu disse. Meu pai tratou de esclarecer logo, não errou não… ele disse que esse aqui era muito mais legal e você iria gostar mais. Então ele me avisou que traria um diferente pra você. De fato, o Atari era legal… mas fiquei com um pé atrás com o velhinho.

O tempo passou e o ano era 1984. E eu já contava com dez anos de idade. Aquela noite de Natal seria celebrada na casa dos meus avós maternos em Mogi-Mirim (dizem que o correto é Moji-Mirim, mas gosto mais da versão com “g”). Desta vez eu não havia feito cartinha, eu realmente não estava muito empolgado com o Natal porque nos últimos dois anos o bom velhinho não atendia com exatidão meus pedidos.

Diferente da casa dos meus pais, lá havia ceia e até mesmo algum congraçamento entre os vizinhos. Meus avós eram pessoas muito queridas ali na região, então a casa estava sempre cheia de visitas e vizinhos.

Estávamos todos ali… minha mãe, meu irmão, meus avós… até o nosso cachorro Korg, um pastor alemão que era um barato. Mas meu pai não estava ali. Por conta do seu trabalho maluco ele vivia viajando de caminhão de um lado para o outro e naquela noite de Natal, ele não estava ali com a gente. E pelo que minha mãe havia dito, provavelmente não estaria.

Eu estava bem chateado… sem presentes, sem meu pai… olhava para o céu e procurava por um pontinho luminoso. Eu queria brigar com o Papai Noel e perguntar por que razão ele se negava a atender aos meus pedidos. Chegou a meia-noite… e fomos comer a ceia de Natal… passava um pouco da meia noite e antes de entrar na casa dos meus avós olhei mais uma vez para o céu… “Por quê?”, apenas perguntei…

Não houve resposta… mas em seguida um carro virou a esquina e parou em em frente à casa dos meus avós. Era meu pai.

Ele desceu do carro, ainda em roupas de trabalho e disse “Caramba… estou morrendo de fome… “. Eu olhei para ele e comecei a chorar. Ele olhou para mim e perguntou… “O que foi?”. “Nada…” eu respondi.. Mas não parei de chorar.

Minha mãe e meu irmão vieram receber meu pai. Então ele entregou a chave do carro pra mim e disse… “Abra o porta-malas… tem algumas coisas pra você e seu irmão ali”. De má vontade eu fui e abri o porta mala.

Abri o porta-malas e ele estava forrado de presentes de natal… brinquedos de toda sorte, jogos de tabuleiro e até uma bicicleta. Foi inevitável a surpresa. Então meu pai apenas disse… “O Papai Noel disse que você não mandou nenhuma cartinha pra ele, então ele achou melhor mandar algumas coisas diferentes para não correr o risco de errar de novo”.

Eu chorei… tinha brinquedo de tudo que é tipo. Jogos… e a minha própria bicicleta! Meu pai perguntou: “Gostou?”…. “Gostei… mas gostei de você estar aqui”. Ele deu uma risada e coçou minha cabeça. Ele nunca foi afeito a gestos carinhosos.

Fechamos o porta-malas… os presentes poderiam esperar até mais tarde. Mas a ceia de natal esperava por nós. Todos entraram… eu inclusive. Mas não antes de olhar para o céu. Vi então um pontinho luminoso que brilhava e cintilava…

Fiquei olhando para aquele pontinho por algum tempo… dei um sorriso e então disse: “Obrigado…”

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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