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Monopólio do Conhecimento

Quando estive na faculdade de História, aconteceu um episódio que me marcou muito. Não lembro ao certo qual era o ano (provavelmente 2006), porém lembro que eu estava iniciando o curso, eram aulas de Idade Média. Eu tive que fazer um trabalho de pesquisa, em que eu deveria escrever um resumo e fazer um seminário aos colegas, sobre o tema Sacro Império Romano Germânico.

Pois você, leitor, provavelmente não se lembra ou nunca ouviu falar sobre tal “importante” Reino Medieval Europeu. Na época eu não fazia a menor ideia do que era esse tal Império também. A situação ficou pior, pois eu não conseguia achar o conteúdo em nenhum livro. Apenas encontrava pequenos trechos, ou citações sobre o local, mas não conseguia nenhum material que me desse mais fundamentos para explicar o conteúdo para meus colegas.

A solução que encontrei… a Wikipédia.

Wikipédia, salva.

O único local que eu encontrei algum fundamento, com algumas informações, foi na enciclopédia livre. Na época eu já conhecia a intenção das “Wiki”, sabia que era uma enciclopédia livre, em que “qualquer pessoa” pode colocar um “verbete” de qualquer coisa. Na época a informação mais completa que eu achei sobre o Sacro Império Romano Germânico, foi publicado por um desconhecido.

Foi na Wikipédia que encontrei material sobre o tal império

Contudo, como já se pode imaginar, o professor não aceitou a utilização da Wikipédia como referência bibliográfica válida. Pois, por ser um local “em que qualquer pessoa, pode escrever sobre qualquer coisa” todo aquele conteúdo poderia ser falso, comprometendo a veracidade do trabalho. Logicamente, como um contestador nato. Soltei a sincera e revoltante pergunta: “Quem garante que um autor de um livro está falando a verdade?”

Se os verbetes da Enciclopédia podem conter qualquer coisa, quem garante que uma pessoa, do século XIX ou XX, não invente qualquer coisa sobre a vida e a sociedade de um local que existiu há quase mil anos atrás?

Sinceramente não lembro a resposta que ele deu, provavelmente algo tentando justificar o papel do Historiador e da Ciência. Com toda a certeza, o pensamento dele era monopolizar na Universidade o conhecimento científico. Conhecimento livre para qualquer um era inconcebível naquele contexto. Talvez, ainda hoje, para ele, o monopólio do conhecimento tem que estar nas mãos das universidades.

Com relação as Inteligências Artificiais

Fico imaginando, como seria esse episódio da minha vida se fosse atualmente, ainda mais com as Inteligências Artificiais em alta. Provavelmente a resposta seria a mesma: “Não se pode confiar em uma máquina. A máquina não tem compromisso com a verdade. Isso é plágio, etc.”

Hoje, uma IA como o Chat GPT também poderia fornecer algo bastante satisfatório… mas…

O mundo está mudando, já estava mudando em 2006. A informação e o conhecimento não são limitadores nem limitantes. O conhecimento está ficando cada vez mais livre. Sem dono e sem porta-voz. Continuar agindo, como se vivêssemos no Séc. XIX, é esquecer o que nós somos hoje.

Afinal, tem uma famosa frase de um famoso historiador que traduz o que é História:

Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.

Heródoto

Negar isso é não ter História.

Publicado em:Amarelinhas,Crônicas,Entretenimento

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