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Rita Lee & Tutti Frutti e o álbum “Fruto Proibido”

Buenas! Hoje o céu recebe mais uma estrela, Rita Lee, um dos maiores nomes do rock’n’roll nacional nos deixa e leva seus talentos e todo seu humor ferino para um outro plano de existência. Como forma de reverência trago a vocês a resenha do disco que fez a sua emancipação como artista e a tornou dona da própria carreira, o indefectível Fruto Proibido de 1975 da sua fase com o Tutti Frutti.

Rita Lee

Nascida em São Paulo em 31/12/1947 como Rita Lee Jones, filha de um casal da classe média paulistana descendentes de imigrantes norte-americanos confederados frequentou o colégio Liceu Pasteur e posteriormente o curso de Comunicação Social na Universidade de São Paulo. Deixou o curso um ano depois de seu ingresso para dedicar-se à música e as artes. Entre 1966 e 1972 integrou junto com Arnaldo Baptista e Sérgio dias a banda Os Mutantes, uma referência indiscutível da época e da música brasileira a qualquer tempo.

Rita Lee Jones de Carvalho (São Paulo, 31/12/1947 – São Paulo, 08/05/2023)

Indiscutivelmente foi aclamada a Rainha do Rock Brasileiro e alcançou a marca de mais de 55 milhões de discos vendidos ao longo da carreira. Agora só falta você, Erva Venenosa, Amor e Sexo, Flagra, Ovelha Negra e muitas outras músicas compõem uma lista retumbante de sucessos que estarão para sempre no cancioneiro nacional. Rita nos deixou em 08/05/2023, em virtude de complicações do seu tratamento contra o câncer.

Tutti-Frutti

Após sair dos Mutantes e lançar dois discos solos, Rita monta um dream team do rock nacional para dar forma a todas as suas ideias e monta o Tutti Frutti. Após o disco Atrás do Porto Tem uma Cidade de 1974, Rita enxuga o formato da banda e o Tutti Frutti chega a sua formação mais profícua: Luis Sérgio Carlini (guitarra), Lee Marcucci (baixo), e Franklin Paolillo (bateria) para dar forma às ideias mais roqueiras de Rita.

Um tempo depois de romper seu contrato com a gravadora Philips e receber uma proposta inegável da Som Livre (liberdade criativa sem interferência da gravadora), a banda se reuniu numa casa à beira da represa de Ibiúna e ficou alguns meses burilando suas composições, que como dizia a própria: “A coisa foi ficando com cara de banda profissa”.

Com o Tutti-Frutti, Rita Lee formou o Dream Team do Rock Nacional

Fruto Proibido

Calcado no blues, no glam e no rock de guitarras, a banda se tranca no estúdio Eldorado em São Paulo junto ao produtor Andy Mills (Barão Vermelho, Léo Jaime, entre outros) para gravar um dos grandes discos do efervescente rock setentista brasileiro.

Com um som bem coeso e preciso, a banda parte para arranjos bem elaborados e ásperos onde se mostra bem entrosada e inspirada. Contando com a participação de Guilherme Bueno (piano e clavinete), e do genial Manito (Os Incríveis e Som Nosso de Cada Dia, no sax, na flauta e no órgão Hammond) o disco ganha outros coloridos, tornando-se ainda mais ampla a sonoridade calcada no peso do blues e do rock.

As letras de Rita (com participações dos outros membros do Tutti Frutti e de Paulo Coelho) são um retrato dos anos 70 e vão contra a caretice, a “moral e os bons costumes” de um Brasil envolto em uma ditadura que ainda duraria 10 anos e a levaria em cana anos depois. Promovendo o feminismo se colocando longe do estereótipo das mulheres marcadas no cancioneiro nacional (a mãe, esposa, dona de casa) para dar voz e protagonismo às mulheres que não tinham vergonha de expor seus desejos, mesmo se não fosse isso o que a sociedade esperava delas.

Rita não teve medo de ir contra a corrente, de se expor e dar voz ao que muitos pensavam, mas que só sendo uma mulher de convicções e coragem ímpares poderia ousar dizer. É mais do que essencial e necessário, é obrigatório para entender o momento político, a sonoridade e não me faço de rogado em dizer que “Fruto Proibido” é um dos 5 maiores álbuns do rock brasileiro de todos os tempos.

“Pra que sofrer com despedida?
Se só vai quem chegou
E quem foi vai partir
Você sofre, se lamenta, depois vai dormir …”

Descanse em paz, Santa Rita de Sampa. Logo menos tem mais.

Post-Scriptum

Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que eu farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída.

Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão Ovelha Negra, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a veia já tivesse morrido, kkkk’.

Nenhum político se atreverá a comparecer a meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los.

Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated’ (‘obrigada Senhor, finalmente sedada’).

Epitáfio: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.

Rita Lee, em sua autobiografia de 2016
Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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