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À procura da felicidade

Antes de começar, já aviso ao leitor desavisado que este não é uma resenha ou análise sobre o filme homônimo de 2006, estrelado por Will Smith e que conta a história de Chris Gardner em sua luta para conquistar seu lugar ao mundo. De quase morador de rua, ele se torna corretor da bolsa de valores e o filme retrata justamente sua luta e suas dificuldades para conseguir realizar seus sonhos e enfim, encontrar a tal felicidade.

Definitivamente é um ótimo filme e eventualmente falarei dele por aqui em outra situação. Mas talvez uma coisa que as pessoas não percebam com o filme é que a felicidade não é uma condição de vida ou status que adquirimos em nossa vida. Felicidade é um momento. Não somos felizes… temos momentos de felicidade. E o que fazemos na vida é buscar por estes momentos felizes de modo que tenhamos no cômputo geral, mais momentos felizes do que momentos infelizes.

Não queremos ser felizes. Queremos guardar em nossa lembrança os momentos felizes que tivemos. E para isso traçamos planos. Bolamos estratégias e criamos – pelo menos, tentamos criar – caminhos para encontrar estes momentos. Claro que isso passa por ter uma carreira profissional que vá de acordo com aquilo que gostamos. Passa por relacionamentos bem resolvidos, sejam eles duradouros ou não. Passa por construir memórias afetivas que nos coloquem um sorriso no rosto de vez em quando. Passa por conseguirmos realizar nossos planos.

E quem sabe, com alguma sorte, a gente não tenha tantos revezes neste processo.

Pois é… não há nada de errado em buscar a felicidade. Nada mesmo. Acho que isso faz parte de uma vida saudável. Encontrar um bom emprego… fazer uma boa faculdade… amar alguém… ser amado por alguém. Só que as vezes a gente talvez – só talvez – esbarre na busca da felicidade dos outros. Conquistar seu bom emprego significa que outros não terão aquela oportunidade. Entrar na faculdade implica em deixar outros tantos candidatos de fora. Amar alguém pode causar sofrimento de alguém que queria ser amado. E ser amado por alguém pode representar que outra pessoa foi preterida.

O que eu quero dizer com isso? Bom, para mim parece que não há momentos de felicidade suficiente para todos. Eu fico com a sensação de que quando estamos felizes, em algum ponto do processo alguém ficou infeliz. E eventualmente em nossa cegueira – que vez ou outra surge em nossa busca – acabamos por machucar outras pessoas. E isso é uma forma de infelicidade.

Sim… eu tenho alguns bons momentos. Muito bons mesmo. Mas como um ser humano arrogante e pretensioso, parece que nunca estou satisfeito com o que tenho. Eu queria mais. Tenho família… esposa e filhas… tenho meus gatos, meu cachorro. Um teto para morar. Do que temos para comer, nada nos falta. Tenho um emprego… ler o Diário Oficial não é o emprego dos sonhos de ninguém. Mas ele está lá… basta que vá até lá e faça este trabalho. Não tenho todos os bens materiais que desejei. Não consegui concluir a faculdade que sonhei e tive até mesmo a ilusão pretensiosa (mais uma vez) de que conseguiria alcançar isso já como um homem de meia-idade.

Sim… eu queria uma casa melhor… um carro melhor… uma saúde melhor… e decidi que poderia alcançar isso indo atrás dos meus sonhos. Então larguei toda a segurança e estabilidade que poderia ter e aceitei a imprevisibilidade de quem ousa buscar suas realizações.

Mas aí, parece que o acaso, a vida, a fortuna, alguma entidade superior – dê o nome que quiser – resolve que não… você não pode buscar algo além do que a vida já lhe ofereceu. E se você desafiar isso, a própria vida lhe encarrega de lhe mostrar que você já atingiu tudo que poderia conquistar. Você já teve seus momentos de felicidade e deve se conformar com eles.

Hoje estou me sentindo assim… que meus momentos de felicidade já foram todos utilizados. Que qualquer coisa que eu queira além disso é apenas um capricho… um devaneio. E que por mais que eu tente ir adiante, o mundo mostra sua face e me coloca no meu devido lugar.

Talvez algum guru de auto-ajuda venha com um discurso sobre perseverar, ter resiliência, aprender com os erros e crescer com tudo isso. Mas diante de tantos fracassos, diante de tantos revezes, acho que tudo que me resta é aceitar os momentos que tive e me conformar que nunca conseguirei ir além disso…

Tenho quase 50 anos. Eu já deveria ter aprendido alguma coisa nesta vida. Mas acho que nunca serei nada daquilo que pensei que poderia ser. Pelo menos estou aprendendo de uma forma bastante consistente que não se procura a felicidade. Ela simplesmente não existe. Só em alguns momentos.

Eu tentei… droga… eu realmente tentei.

Publicado em:Crônicas,Entretenimento,Noites de Insônia

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