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Rio 2016… Olimpíadas no Brasil

Eu ainda me lembro quando em 1996, durante uma discussão com amigo da faculdade que eu só iria a uma olimpíada quando ela fosse no Brasil e que torcia para isso. Lembro que na ocasião ele ridicularizou este meu pensamento. E pensando em retrospectiva, de certa forma, ele tinha razão em desacreditar um evento desta magnitude aqui no Brasil. Afinal de contas, obviamente o interesse na realização é político e financeiro. O ideal olímpico de fato nunca existiu, pois se assim fosse, não seria um evento tão disputado e popular.

Além disso, o país tem uma série de problemas que precisam de atenção e talvez até mais do que a organização de um evento tão grandioso, em número e em cifras. Ok… movido pelo espírito de ano novo, vou me esquecer um pouco das implicações políticas e financeiras… o Rio será a sede dos jogos olímpicos de 2016. E a campanha para conquistar este direito foi muito bem elaborada.

Um pouco de história

O movimento olímpico brasileiro é bem antigo. A primeira participação do país nos jogos foi em 1920, na cidade de Antuérpia (Bélgica). E desde então – com exceção da edição de 1928, por insuficiência de recursos – o Brasil envia uma delegação competir nos jogos olímpicos de verão. Na edição de inverno, o Brasil não tem tanta tradição, mas está presente desde os jogos de 1992 na cidade de Albertville (França). E foi logo na sua primeira participação que o país conquistou suas primeiras medalhas. Todas no tiro desportivo.

Por muitos anos, uma eventual candidatura de alguma cidade brasileira para sediar os jogos olímpicos sequer era cogitada. Na verdade, não é que não era cogitada. Mas não eram levadas à sério. Em 1936 sugeriu-se que o Brasil poderia ter edição dos jogos por aqui. A falta de interesse e recursos enterrou qualquer possibilidade e a candidatura sequer foi apresentada.

O primeiro Pan-Americano: São Paulo 1963

Na década de 60, o Brasil sediou a quarta edição dos jogos Pan-Americanos, sendo São Paulo a cidade anfitriã. De acordo com os registros históricos, a competição foi muito bem sucedida e deixou bons legados para a cidade, como a vila pan-americana construída em tempo recorde para hospedar os atletas e que depois foi cedida à USP que transformou o local na residência universitária para os alunos de graduação. E foi graças ao lucro obtido que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) construiu sua primeira sede, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar do bom legado, em nenhum momento o movimento pan-americano deu origem a um movimento olímpico para que a cidade fosse candidata à sede do jogos.

O Pan-Americano de 1963 deixou um bom legado para São Paulo, mas não motivou uma candidatura olímpica

Candidaturas que não vingaram

No início dos anos 80, o então prefeito da cidade de São Paulo promoveu a ideia da cidade sediar os jogos de 1988. A ideia foi rechaçada pelo presidente do COB na época, Sylvio Magalhães… “É uma enorme responsabilidade, porque qualquer problema só trará desprestígio para o COB, que será o responsável por tudo que acontecer. Além disso, é necessário que se tenha a prévia autorização do presidente da República. Também é imprescindível que o sucessor do governador Paulo Maluf garanta tal investimento, que me parece ser excessivo para um país como o Brasil, que tem muitos outros problemas para resolver”, afirmou ele na época.

Em 1991, surgiu outra candidatura… desta vez da cidade de Brasília. Era uma época em que o então presidente Fernando Collor buscava a imagem de um país em franco processo de modernização e reestruturação política e econômica. E queria ligar o evento às comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. E em 1992 o projeto chegou a ser apresentado ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Nosso país tem o péssimo hábito de não preservar sua história e com isso, não temos certeza sobre o que aconteceu. Alguns dizem que a organização desistiu do evento, outros que o COI desestimulou que o país prosseguisse com sua candidatura, com direito a uma carta do então presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, explicando a impossibilidade da candidatura. E ainda existe uma vertente que diz que fomos eliminados durante o processo de votação.

O Político Paulo Otávio e o Jornalista Roberto Marinho apoiavam a candidatura de Brasília à sede dos jogos de 2000

Em 1994 foi a vez de surgir a candidatura da cidade do Rio de Janeiro. E foi a primeira a ser levada a sério, não só pela iniciativa privada, bem como pelo poder público. Com o slogan “Rio 2004, cidade candidata” e desta vez até o COI considerou a candidatura da cidade. Havia um projeto, havia o sentimento de pertencimento ao movimento olímpico e até mesmo Pelé era o garoto propaganda da iniciativa. Mas após análise do COI, a cidade foi eliminada antes da primeira rodada de votações, juntamente com as cidades de San Juan (Porto Rico), Istambul (Turquia), Lille (França), Sevilha (Espanha) e São Petersburgo (Rússia).

Na primeira candidatura que foi levada a sério… a cidade do Rio de Janeiro se apresentou como cidade candidata

Em 2000, no processo de candidatura para os jogos de 2008, mas mais uma vez a cidade esperava-se que o Rio de Janeiro apresentasse nova candidatura. Mas isto não acabou acontecendo. Foi somente em 2002 que o Rio apresentou nova candidatura, desta vez para os jogos de 2012. Perderam, sendo eliminados mais uma vez no processo inicial. Mas na sequência, a cidade foi escolhida como sede dos jogos Pan-Americanos de 2007. E com isso, a cidade teria uma oportunidade de demonstrar suas capacidades para organizar um evento esportivo de grande magnitude.

No mesmo ano a cidade do Rio perdeu na indicação para os jogos olímpicos, mas levou o pan-americano

Finalmente, a conquista

Então, em 2006 o COB apresenta mais uma vez a candidatura do Rio Janeiro. Desta vez para sediar os jogos de 2016. A entidade apostava no sucesso do Pan-Americano de 2007 e no consequente aumento da infraestrutura da cidade para finalmente poder sediar os jogos. Mas era o azarão… Chicago até então era considerada a grande favorita.

Eram sete os candidatos: Chicago (EUA), Rio (Brasil), Doha (Catar), Tóquio (Japão), Baku (Azerbaijão), Praga (República Tcheca) e Madri (Espanha). E após a primeira avaliação das cidades, quatro cidades continuavam na disputa: Chicago, Tóquio, Madrid e… Rio de Janeiro. Pela primeira vez, a candidatura brasileira avançava para as próximas etapas.

Diferentemente dos anos anteriores, desta vez a candidatura foi levada a sério pelo COI

E aí, surgiu uma esperança. Chicago sofria com os protestos da população local por contas dos altos gastos públicos para a preparação da cidade (e é bom lembrar que havia uma grande crise econômica). Tóquio tinha a candidatura tecnicamente melhor, mas sofria com o baixo apoio popular dos moradores da cidade. E Madrid sofria com a falta de clareza quanto à legislação local e quanto à estrutura da organização. Por outro lado, o Rio mostrava que estava levando a sério a organização do Pan, mostrava um projeto que ainda pecava em alguns pontos (como acomodações e transportes), mas que no geral, não tinha grandes problemas e tinha apoio da população e do governo federal.

E com um belo vídeo institucional ao som de “Cidade Maravilhosa”, o Rio de Janeiro foi à luta. O vídeo como cidade candidata mostra aquilo que deveria ser o Rio de Janeiro dos sonhos. É lindo se pensarmos somente no lado artístico e esquecermos da dura realidade da cidade.

E então, em 2009, na cidade de Copenhague, na 121ª Sessão do COI, a primeira rodada eliminou a candidatura da outrora favorita Chicago, na segunda rodada foi a vez de Tóquio ser eliminada. Por fim, na terceira rodada, o Rio de Janeiro venceu Madri e tornou-se oficialmente a sede dos jogos da XXXI Olimpíada.

Lula, Carlos Nuzman e Pelé vibram com a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos de 2016

Ainda temos tempo

Ok… a escolha da cidade foi lá em 2009 e ainda estamos em 2011. Ainda temos tempo para a realização dos jogos. O Rio de Janeiro e o Brasil têm muitos desafios para superar. Também tem uma Copa do Mundo que vem por aí. E estes eventos podem vir a ser uma oportunidade para termos um legado de orgulho e que as conquistas não sejam só no campo financeiro para os organizadores.

A partir de agora, o evento Rio 2016 já tem sua identidade própria e hoje foi apresentado ao mundo a marca oficial dos jogos olímpicos. Ao som de “Aquele abraço”, espero que o evento seja bonito também e que o Rio de Janeiro possa voltar a ser lindo…

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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