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Ainda sobre a presença da PM na USP

Acho curioso como algumas pessoas defendem com unhas e dentes que a PM não deve estar presente dentro do campus da USP. Os argumentos – em uma primeira análise – parecem até coerentes. Mas escondem algumas entrelinhas que devem ser observadas. Existe sim algum radicalismo na opinião de quem é contra a PM por lá. É uma simples questão de cidadania. Cabe à PM zelar pela segurança e policiamento ostensivo nos locais públicos. A USP é um lugar público. O silogismo é de simples compreensão… Pelo menos, deveria ser.

Alguns alunos atualmente ocupam o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP). Já é o quinto dia de ocupação que aconteceu após confronto da polícia com estudantes em 27/11 em protesto pela abordagem a três usuários de drogas que estavam consumindo maconha dentro do campus.

Prédio da administração da FFLCH permanece ocupado desde o confronto do dia 27/11 (Foto: Paulo Piza)

O cidadão tem o direito de ir e vir… tem o direito de fazer suas escolhas… tem o direito de optar pelo certo ou errado seja pelo aspecto moral, seja pelo aspecto legal. Mas tem que ter a plena consciência de que seus atos e opções serão sim julgados pelo que a lei preconiza.

Não importa se é para consumo próprio… não importa se é para se enturmar… não importa a razão… o uso e porte de drogas é ilegal. A venda e a apologia as drogas é crime e o consumo de drogas ilícitas, mesmo alegando-se o tal “uso recreativo” não é permitido. Ponto… não cabe nenhuma discussão sobre isso. A PM fez legitimamente uma ação de abordagem a pessoas que estavam consumindo drogas em lugar público. Cumpriu o seu papel.

A discussão sobre a legalização, se é bom ou não, se faz bem ou não simplesmente não cabe neste momento. O que se discute é: (1) a PM exagerou em suas ações? (2) É correto que os alunos interfiram e depredem o espaço público por não concordar com a ação da polícia?

Estudante entra em confronto com a PM na USP para impedir detenção de alunos (Foto: Luiza Sigulem)

Quem já esteve em qualquer festa ou encontro universitário sabe do que estou falando… não é um encontro da juventude cristã… também não é a reencarnação das festas de Sodoma e Gomorra. Em qualquer meio universitário as pessoas encontrarão drogas, encontrarão álcool, encontrarão sexo (tradicional ou alternativo)… simplesmente encontrarão. Isto está lá. Correto ou não, faz parte do meio universitário. E é a sua ética pessoal que determinará se você participará disto ou não.

Cabe a pessoa decidir o que é bom para ela. O que ela julga ser correto. Agir de acordo com suas motivações morais. E arcar com as responsabilidades dela. Portanto, se o cara de vez em quando é fã de um baseado, sabe que do ponto de vista legal ele deverá responder por isto. Se for pego, aceite a punição prevista por lei. Se não for pego… paciência. São tantas coisas que ocorrem erradas por aí… só Deus está em todos os lugares… a polícia não.

Em minha opinião, a polícia não exagerou. Aqueles alunos exageraram. Todos ficaram horrorizados com uma pessoa que deu um tiro e cegou parcialmente uma aluna da Biologia… toda a sociedade cobrou a aplicação da lei quando o aluno da FEA foi brutalmente assassinado. Agora querem que façam vista grossa para os maconheiros e “drogaditos”? Isto tem definição no dicionário: hipocrisia.

A ditadura acabou há muitos anos. O estado de exceção é utópico e só existe na cabeça de alguns poucos que ainda acreditam que o Golberi ainda é chefe do SNI. E que o DOPS ainda tem seus integrantes. A PM cumpriu seu papel constitucional. Aceitem isso… Aceitem também que consumo de drogas é contra a lei (não é crime… mas é ilegal e o fato de ser apenas uma contravenção não libera o consumo em praça pública e mesmo naquele dia, o que foi proposto foi o que está na lei, lavrar um termo circunstanciado).

Se você acha errado, então vá defender seu ponto de vista em um palanque, proponha a legalização, tente alterar a lei. Lute pelo que acredita mas com argumentos não com ofensas a quem simplesmente cumpre a lei. No dia em que (e se) o consumo for legalizado, então aí sim, vocês poderão ficar horrorizados porque a PM abordou três usuários de maconha.

A impressão que dá de tudo isso? É que a classe média que se acha muito esclarecida, que se acha “descolada” porque vão para as baladinhas e fumam um baseadinho aqui e ali, cheiram uma carreirinha acolá e acham que isto não faz mal a ninguém, quer que a polícia os proteja do bandido que vai roubar seus bens materiais, mas não quer que ela (a polícia) os atrapalhe quando ele vão cheirar sua carreirinha ou queimar seu baseado. Isso é ridículo…

Agora, o que também precisa ser dito – e esta é que deveria ser a principal discussão – é que a segurança dos frequentadores da USP, com ou sem PM no campus ainda é questão sensível. Quem estuda a noite lá, sabe. Não é um dos lugares mais seguros do mundo. Deveriam melhorar iluminação, deveriam melhorar o controle da circulação de pessoas estranhas ao lugar, deveriam até mesmo regulamentar o uso do espaço público pelo meio acadêmico.

E quanto a isto, também sou a favor. O policiamento existe não para oprimir o cidadão comum, mas para protegê-lo de eventuais ações criminosas. E quem faz isso? Até onde me consta… até onde a lei define, isto é papel da polícia militar. Quer se drogar livremente? Vá para Amsterdã na Holanda… lá ninguém vai encher teu saco e também você para de encher o saco de quem quer simplesmente apenas conviver com a lei pacificamente.

Publicado em:Opinião,Pitacos na Política

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