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Erasmo Carlos e o álbum Carlos, ERASMO

Buenas! Uma das coisas mais bacanas desse isolamento social foi me permitir o mergulho em águas musicais que por pura birra e talvez até por preconceito, eu nunca tinha mergulhado antes. Hoje vamos com Erasmo Carlos e o álbum Carlos, ERASMO.

Pra começo de conversa…

Por acaso, eu tropecei na música brasileira do anos 70. E está cada vez mais complexo sair de lá, dada a quantidade de coisas boas que tenho descoberto a cada dia. De guitarras raivosas, aos balanços do samba-rock, nada tem escapado aos meus ouvidos espertos e maravilhados com esse novo universo de timbres, sonoridades – e por que não – maneira de enxergar o mundo. Afinal, tem coisa que soa tão atual ainda hoje.

Com o tanto de coisa que ando ouvindo daria pra fazer uma coluna exclusiva sobre os anos 70 (hei! uma boa ideia), mas por enquanto a gente vai lançando aos poucos as pérolas encontradas com o maior carinho nesse nosso infindável garimpo musical.

Mas pera lá, antes de qualquer coisa, Junior, você não era o bitolado em coisas novas, o maior neófilo musical do UBQ?

Pois é amiguinhos, sim eu sou, mas tem tanta coisa antiga a ser descoberta e que até hoje ainda não chegou ao grande público, que algumas postagens – mesmo sendo sobre álbuns dos anos 70 – ainda vai parecer novidade pra muita gente.

Pra começar, um dos discos que mais me arrancou sorrisos e “derrubou meus forninhos” do preconceito. A obra-prima de um cara que injustamente ficou à sombra do moço dos especiais de natal da Rede Globo. Sim, é dele mesmo que eu tô falando, não do Roberto, mas do seu grande amigo (parafraseando o mesmo) Erasmo Carlos.

Erasmo Carlos tem sua identidade própria, a despeito do seu amigo famoso
Erasmo Carlos tem sua identidade própria, a despeito do seu amigo famoso

As origens

O ano era 1971 e o movimento hippie está enraizado na juventude mundial. Época de amor livre, de experimentações (de sonoridades, de relacionamentos, de substâncias “suspeitas”). Nosso querido Tremendão resolve cair de cabeça em toda a sonoridade psicodélica da Tropicália e deixar de lado sua faceta jovemguardista. Para isso, resolve ousar, e escolhe um repertório totalmente alheio ao que fizera anteriormente.

Contando com a ajuda de outros compositores como Caetano Veloso, Taiguara, Jorge Ben, os irmão Valle, Marcos e Paulo Sérgio e como não poderia deixar de ser, seu parceiro de toda a vida, Roberto Carlos, cunham provavelmente o melhor conjunto de canções da sua extensa carreira.

Sobre o álbum Carlos, ERASMO

Produzido por Manoel Barenbein (um dos bambas do tropicalismo) e o próprio Erasmo, à exceção de “Ciça Cecília” (produzida por Nelson Motta, com arranjo do gigante Arthur Verocai), gravado no Rio de Janeiro e em São Paulo, Erasmo não se faz de rogado e monta um timaço pra dar vida a esse discaço.

E pra isso, não economiza, montando o time dos sonhos da psicodelia nacional: da banda de apoio de Gal Costa, traz pra si a magia das guitarras de Lanny Gordin. Dos Mutantes, traz Dinho Leme (bateria), Liminha (baixo) e a guitarra de Sérgio Dias. As percussões são capitaneadas por Dirceu Medeiros e Oswaldo Barro e o piano de Régis Moreira formam a cama para a viagem soulpsicodélicatropicalista do Tremendão.

Com a popularidade (e o bolso) nas alturas, quem contestaria esse “capricho”? A gravadora não fez oposição e Erasmo gravou o que quis, como quis, com quem quis, fazendo um disco extremamente personal, com arranjos complexos (sem deixar de ser popular) e de sonoridade única.

A contra-capa de “Carlos, ERASMO” com o timaço de músicos que fizeram desse discaço.

Desconstruindo o conceito da Jovem Guarda de fazer versões em português de grandes sucessos internacionais, Erasmo apaga de si esse estigma. Passeia majestosamente por samba-rock, soul, as clássicas baladas folks, latinidades e muito rock’n’roll. Ele se reinventa como intérprete e como compositor ao fazer um disco de temática adulta para ser saboreado (e compreendido) aos poucos. E quando te pega de jeito, fica difícil tirar da playlist.

De volta às paradas

Um alien na carreira de quem cantava sobre a sua fama de mau, ou sobre festas de arromba, Erasmo atinge a maturidade a olhos vistos. E isso em meio a porralouquice dos anos 70. Ficam de lado as letras pueris da jovem guarda, o lance agora era a contestação (mesmo que velada) dos costumes, das relações humanas, do exílio e dos relacionamentos. Sem muita cerimônia aborda alguns temas espinhosos para a época, como religião e drogas.

Capa do álbum Carlos, ERASMO
Capa do álbum Carlos, ERASMO

Deixado de lado por muitos anos, o álbum voltou a voga com o relançamento em vinil pela Polysom e a inserção nos serviços de streaming. O que só fez aumentar a popularidade do disco. Não a toa a revista Rolling Stone elegeu “Carlos, Erasmo” como um dos 50 maiores discos da música brasileira de todos os tempos.

Vale a pena?

Um disco sensacional e indispensável para entender a multiplicidade da música brasileira. Além de entender a genialidade de um compositor deixado de lado pelo público e pela crítica por ousar, se reinventar. Ao contrário de seu parceiro de longa data que há mais de 40 anos lança o mesmo disco.

Ouça, baixe, compre (tô procurando o melhor valor dele em vinil. Ajuda a gente, Polysom), roube, mas não deixe de ouvir esse discaço, simplesmente ESSENCIAL. Discoteca mais do que básica, obrigatória. Logo menos tem mais.

Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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