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The Strokes e o álbum The New Abnormal

Buenas! Confesso que demorei até demais para fazer uma crítica embasada desse sexto álbum de inéditas dos nova-iorquinos, mas bora lá! Não podia deixar de falar de um dos discos mais aguardados desse estranho ano de 2020. Vamos então de The Strokes e o álbum The New Abnormal.

Quando ouço qualquer informação de que sairá coisa nova dos Strokes nunca sei o que esperar. Se é a banda que no início dos anos 2000 era considerada a salvação do rock e regurgitou de modo antropofágico o rock de guitarras dos anos 70. Ou se era a banda sôfrega da década de 2010 que se perdeu numa bad trip oitentista e que não soube como catalisar essas referências no seu som.

Uma dicotomia genial e errática

Os Strokes são essa dicotomia, geniais e erráticos ao mesmo tempo. Mas mesmo assim, esperamos sempre ansiosos por mais uma cartada da turma de Julian Casablancas (voz), Nikolai Fraiture (baixo), Fabrizio Moretti (bateria), Albert Hammond Jr. e Nick Valensi (guitarras). Pois, como dissemos no início do texto, nenhuma banda é chamada de “a salvação do rock” sem motivos. E há sempre a esperança de mais uma lufada de criatividade absurda do quinteto estadunidense.

A banda "The Strokes"
A banda “The Strokes”

Confesso que quando o disco saiu em meados de março, eu estranhei um bocado e achei que este fosse mais uma tentativa frustrada de soar diferente daquele Strokes cheio de guitarras e melodias assobiáveis.

Ouvi muito, inúmeras vezes, me acostumei com o álbum, me permiti enxergar além da minha expectativa e descobri que The New Abnormal é um bom disco. E que a banda que eu era fã ainda está lá, na essência, mesmo que hoje soe diferente demais, ainda é Strokes. E muito dos elementos que me fazem admirar a sonoridade da banda ainda fazem parte da sua fórmula: A voz “podrinha” cheia de efeitos, a bateria canalha de tão simples, o baixo marcado e pesado, as guitarrinhas espertas de outrora.

Mas agora soma-se a elas uma camada bruta de teclados e sintetizadores. Pois é amiguinhos, os anos 80 chegaram aos Strokes pra ficar, mas agora essa sonoridade tão criticada por esse que vos escreve, conseguiu se encaixar na estrutura da banda, hoje parece algo natural, um amálgama do melhor das décadas de 70 e 80 sintetizados para o século XXI.

Sobre o álbum The New Abnormal

A produção feita pelo mago Rick Rubin (Johnny Cash, Red Hot Chili Peppers e tantos outros) trouxe uma sonoridade esmerada, um ar diferente. Rubin conseguiu resolver a equação dos dois pólos sonoros da banda. Há teclados, sim, muitos, “At the Door” soa parecida com algo da carreira solo do vocalista Julian Casablancas, até o momento em que as guitarras entram, mesmo que de maneira discreta.

Aí a canção passa a ser mesmo que esquisitamente, uma típica música da banda. O produtor consegue ser o fiel da balança e achar a sintonia entre o velho e o “novo” Strokes. Coisa de quem domina com maestria o que faz, e Rubin sempre o fez de maneira genial.

Capa do álbum "The new abnormal"
Capa do álbum “The new abnormal”

Conclusões

The New Abnormal é um álbum coeso, não é o melhor disco da carreira dos caras, mas acho que nem eles tem essa pretensão. Pelo visto, a pressão de ser um Stroke, de ser sinônimo de “salvação do rock” deve ser um fardo pesado demais a se carregar.

Pelo que percebo, eles estão fugindo disso, tentando encontrar o seu caminho no escuro, tateando, saindo da zona de conforto, e só essa coragem meus amigos, já seria digna de nota. Em suma, é um bom disco, o melhor deles em tempos e mesmo que as vezes soe diferente daquele Strokes raiz, tudo o que a gente gosta ainda estão lá, em doses homeopáticas, mas o suficiente pra não nos deixarmos esquecer da genialidade da banda.

Quem sabe essa sonoridade seja uma fase, quem sabe eles voltam a se reinventar, ou quem sabe o futuro seja uma volta ao passado, ou que nem exista futuro. Em tempos de tanta coisa pasteurizada saindo, ter uma banda que se propõe a fazer o que quer, como quer, já é ousadia demais.

Esperamos ansiosos pelas cenas dos próximos capítulos. Mas haverão próximos capítulos? Fica a dúvida.

Logo menos tem mais.

Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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