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Pódio Sem Pipoca – Anos 60

Época magna das contestações, revoluções e contra-revoluções. Um tempo em que a cultura sofreu baques que são sentidos até hoje. Uma década de libertações como nunca se viu e nunca se veria de novo, para bem e para o mal. Nosso Pódio não poderia deixar de se contaminar pelo espírito dos 60 e traz pela primeira e última vez dois Tapetões, além de um brazuca entre os vencedores. No Pódio Sem Pipoca dos Anos 60 estão:

O Leopardo

Além de ser uma aula de cinema, este filme também é uma aula de história. Conta a saga da unificação da Itália, ocorrida por volta de 1870. Para quem se ressente do fato do Brasil ser um país jovem, quando este filme foi lançado a Itália não tinha nem 100 anos de país unificado. Durmam com essa.

Sem falar na frase lapidar “Se quisermos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude”, dita pela primeira vez no livro que deu origem ao roteiro.

O leopardo é uma aula de cinema e história
O leopardo é uma aula de cinema e história

O elenco é a cara dos 60, já globalizado quando essa palavra ainda não era um palavrão: o norte-americano Burt Lancaster – imposto pelos produtores para o papel principal; o francês Alain Delon; a tunisiana Claudia Cardinale (falaremos dela abaixo) e um certo italiano chamado Mario Girotti que depois ficaria marcado com o nome artístico de Terence Hill. Os personagens são fictícios mas a trama, envolvendo a queda do Reino das Duas Sicílias, usa fatos reais, numa reconstituição de época belíssima.

O termo belíssima talvez fosse pouco se usado para Claudia Cardinale. Foi nela, por este filme, que Caetano Veloso se inspirou para resumir o que foi a década de 60 em Alegria Alegria: “O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em Cardinales bonitas(…)”. Claudia está tão exuberante que neste papel não justifica apenas sua vida. Justifica a nossa.

Terra em transe

Imagine um filme brasileiro que conte a história de um jornalista, intelectual e poeta que oscila entre apoiar um governante totalitário, moralista e estar ao lado de um político bonachão que deseja governar para o povo, mas vence as eleições através de alianças problemáticas com os grandes empresários. Agora imagine que este filme tem mais de 50 anos.

Terra em Transe... um filme atual mesmo com mais de 50 anos
Terra em Transe… um filme atual mesmo com mais de 50 anos

Glauber Rocha faz um filme intenso, forte, por vezes até meio confuso – Brasil né? Sobra para todo mundo, inclusive para a Esquerda, que torceu o nariz para o filme pois ele sugeria que os progressistas só assumiriam o poder caso de aliassem ao grande capital. Estava errado?

Como se não bastasse, o personagem de Paulo Autran (o que era este ator, meu Deus do céu?) tinha o nome de Porfirio Diaz, ditador mexicano. Falando nisso, o filme foi censurado em Portugal até a queda da ditadura de Salazar em 74. Incomodou bastante na época e incomoda até hoje.

Os clássicos são assim chamados por nunca perder sua atualidade, e Terra em Transe vai ser sempre o retrato do Brasil. Infelizmente.

A Primeira Noite de um Homem

A abertura já inquieta: o jovem Benjamin (Dustin Hoffman encarnando com excelência seu primeiro anti-herói) chega ao aeroporto de sua cidade depois de se formar sabe-se lá onde e sabe-se lá em quê, com “The sound of silence” de Paul Simon ao fundo. Parece “inofensiva” mas adianta muito sobre o filme.

Dustin Hoffman encarna seu primeiro anti-herói em A primeira noite de um homem

O tédio, o cansaço da existência, a descrença no legado daquela década que já se ia, tudo isso fazendo que as pessoas se lançassem às mais diversas experiências não como transgressão mas como desespero estão no olhar daquele recém-formado.

Ele chega em casa e seus pais tem uma festa preparada para ele. A cereja do bolo é a coroa bonita – sua vizinha, que hoje chamaríamos de “MILF” – que dá mole para ele o tempo todo até que o leva para casa e o seduz descaradamente. Não fica claro se aquela foi a primeira noite do jovem Ben, mas ele engata um romance com a senhora Robinson (a “Mrs. Robinson” da canção).

O problema é que ele se apaixona pela filha dela, que se apaixona por ele, mas a mãe descobre a, digamos, traição e conta para o marido que o traía com o moleque mas este nem é o problema pois ele está de chamego com a filha, deu para entender?

Do meio para o fim eles se mudam correndo para um lugar não divulgado, mas Ben vai atrás deles – da filha deles, entenda-se – e se reencontra com ela no dia em que ela estava se casando. Sendo um filme símbolo da década de 60, nem precisamos dar um spoiler dizendo o que vira este casamento.

Serviço

O Leopardo (Il Gattopardo, Itália, 1963). Direção: Luchino Visconti. Elenco: Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale, Marco Girotti.

Terra em Transe (Brasil, 1967). Direção: Glauber Rocha. Elenco: Paulo Autran, José Lewgoy, Jardel Filho.

A primeira noite de um homem (The Graduate, EUA , 1967). Direção: Mike Nichols. Elenco: Dustin Hoffman, Anne Brancoft, Katharine Ross

Tapetão

Doutor Fantástico, Acossado e Era uma vez no oeste, mas desta vez a escolha fica mais complicada. Sabe por quê?

Tapetão do Tapetão

Ocorre o seguinte: a coluna detesta 2001, uma Odisséia no Espaço (NOTA DO EDITOR: Herege!). Nada contra o diretor. Stanley Kubric está não só neste Tapetão com “Doutor Fantástico” mas no próximo, do Pódio Sem Pipoca – Anos 70 (não diremos com qual filme, óbvio, mas tem a ver com a seleção de futebol holandesa).

Mas como sabemos da grita que virá por não termos selecionado a dita película nem no pódio-reserva, arrumamos este aqui. Para irritarmos ainda mais a audiência, colocá-la-emos com A noviça rebelde e Mary Poppins, filmes que enlevaram a infância deste que vos fala. Grato.

Post Scriptum

Acho que com esta do “2001…” irritamos até o Editor deste Portal, o que significa que o fato da coluna ser publicada e a amizade entre nós mantida, atesta o alto grau de democracia deste espaço. (NOTA DO EDITOR: está coberto de razão… seu herege!)

Publicado em:Opinião,Sem Pipoca

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