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Nara Leão e o álbum Opinião de Nara

Buenas! O modo aleatório do meu YouTube sempre me surpreende com coisas ímpares. Durante esse período de isolamento social, caí de cabeça na brasilidade da década de 60 e 70. E essa plataforma tem me municiado com álbuns sensacionais que eu até então não tinha ideia de que se existiam. Ainda mais produzidos por aqui numa época de parcos recursos tecnológicos.

Hoje falarei de um disco pesado, não na sonoridade, minimalista até, mas no forte cunho social, político e de brasilidade espalhados pelos seus quase 31 minutos de protesto a uma ditadura recém imposta em terras brasileiras. Pois é amiguinhos, hoje voltamos a 1964 para falar de de uma cantora e de álbum corajoso e emblemático da música brasileira, a Opinião de Nara, da inesquecível Nara Leão.

Nara Leão
Nara Leão em um disco com pesado cunho político

Sobre Nara Leão

A capixaba Nara Leão até o lançamento desse disco era conhecida por ser uma das vozes símbolo da bossa nova. E em 1964, cansada de rótulos, se reinventou. A antiga temática que falava sobre barquinhos a navegar no macio azul do mar dá lugar a um retrato de um Brasil que era deixado de lado. O Brasil do morro, do nordeste, da africanidade e de todas as mazelas que afligem as camadas mais pobres do país. Saiu a bossa nova que deu lugar aos sambas de Zé Keti e Nelson Cavaquinho, os afrosambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes e os baiões de João do Vale.

Sobre o álbum “A opinião de Nara”

A produção de Armando Pitigliani é sublime, cristalina e trouxe por meio do minimalismo uma explosão de brasilidade. O uso das orquestrações dão um tom de refinamento ao samba mais raiz. Aquele feito com violão e percussão em caixinha de fósforo, típico dos morros cariocas> Transformou o simples e agregou um refinamento que tornou este disco único.

Nara se apropriou da estética da bossa nova para tocar samba à sua maneira, ou seja, abriu mão do conteúdo e não da forma, sua marca registrada. Com seu violão em punho fez a seu jeito um disco urgente. Contando com o apoio luxuoso de Erlon Chaves no piano, Tião Neto no baixo e a incrível bateria de Edison Machado. O álbum traz uma artista inquieta e contestadora com uma coragem fora do comum.

Opinião de Nara... um disco feito do seu jeito
Opinião de Nara… um disco feito do seu jeito

Ao se reinventar, Nara mostrou que estava atenta ao mundo a sua volta e revelou a versatilidade de uma artista procurando a sua identidade artística.

As letras retratam um Brasil que foi deixado de lado, pelo governo e pelo movimento bossa-novista. Nara cutucou a ferida expondo pro mundo a voz do morro, num manifesto em favor dos desvalidos. Se expõs e desafiou o status quo ao se opor a ditadura na faixa título. Um murro na cara dos desavisados.

Um álbum que deu origem a um espetáculo

Meses depois, o disco deu origem a um espetáculo teatral dirigido por Augusto Boal chamado Show Opinião onde há a mistura do repertório do disco com causos que contavam a problemática situação social do país em meio ao regime ditatorial.

No espetáculo, Nara era acompanhada de Zé Keti (que dava a voz ao morro) e João do Vale (que dava voz ao nordeste), os autores de grande parte das músicas do álbum. É lógico que o espetáculo foi censurado, mas isso é história para um outro dia.

Ouça urgentemente! Taí a trilha sonora ideal para o momento político que atravessamos em 2020. Mesmo tendo sido lançado há 55 anos, o disco continua atualíssimo.

Logo menos tem mais.

Publicado em:Disco da Semana,Opinião

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