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Pódio Sem Pipoca – Anos 70

Um coisa que inquieta na década de 70 é que parecia que não havia nenhum gordo e que fumar era a coisa mais normal do mundo. Tivemos as ditaduras amargas, a crise do petróleo, a Guerra Fria comendo solta e aquela Seleção. Tivemos coisa muito boa no cinema que marcaram a Cultura da época, sobrevivendo à ressaca dos 60. No Pódio Sem Pipoca dos Anos 70 estão:

Chinatown

Antes vamos considerar o que foi chamado de Filme Noir. Talvez um subgênero cinematográfico marcado por histórias de suspense, diálogos ferinos, uma fotografia em preto-e-branco cuidadosa e temas, digamos, sociais. Este tipo de filme viveu seu auge nos anos 40 e 50 mas volta e meia até hoje diretores se aventuram neste estilo. Roman Polanski fez este filme ambientado na década de 30 e, a despeito da fotografia em cor, pode ser chamado de filme Noir.

Um filme noir em plenos anos 70
Um filme noir em plenos anos 70

A história de Chinatown parece simples: a esposa de um engenheiro de uma companhia de água de Los Angeles contrata um detetive para averiguar se estava sendo traída. Ocorre que a história se passa na época da Crise da Água na Califórnia, onde se começou a construir aquedutos para abastecer uma Los Angeles que crescia descontroladamente.

Este engenheiro – presidente da Sabesp local – personifica uma filosofia reinante na época (e até hoje), a de crescimento a qualquer custo. O filme discute este aspecto e o núcleo do detetive particular tenderia a ser engolido pela trama se este detetive não fosse encarnado por Jack Nicholson explodindo para as telas.

É empobrecedor considerar este filme como Noir, apenas. É um roteiro muito engenhoso, único Oscar do filme aliás, que faz o filme ter “camadas”. Ou seja, pode ser assistido muitas vezes e se perceber nuances antes não percebidas. Há um fio condutor que naturalmente vai sendo levado pelo detetive. Inclusive muitas cenas são como se os olhos dele vissem o acontecimento.

Performances históricas – Faye Dunaway em seu melhor momento; um ritmo cadenciado, quase lento mas dinâmico ao mesmo tempo (só assistindo para entender) e uma trilha sonora contagiante. Personagens que são mocinhos e vilões dependendo da ocasião e um desfecho triste, cínico ao extremo e por isso belíssimo, digno deste grande filme.

Noivo neurótico, noiva nervosa

A gente entendeu a intenção desta infeliz tradução do título de Annie Hall, mas bem que poderiam deixar no original mesmo. Até este filme, Woody Allen era um comediante que fazia um humor fácil, digestivo, rasteiro até. Mas em “Noivo…” encontrou sua fórmula certeira, que o marcaria e que repetiria em muitos outros filmes carreira afora.

Allen as vezes se mostra repetitivo, mas ainda assim inovador
Allen as vezes se mostra repetitivo, mas ainda assim inovador

O filme é uma exortação às tentativas das pessoas se relacionarem amorosamente estre si. Sobre as incompatibilidades e percalços que tornam os namoros/casamentos sempre umas rodas-gigantes. Allen queria ser melancólico mas, e até por isso, fica engraçado, mas profundo e por vezes até melancólico e na maioria das vezes tudo isso junto.

O filme narra a tentativa de um comediante judeu (jura?) engendrar um namoro com uma cantora de bar – Diane Keaton tudo de bom. Mas tem as piadas -surpreendentes – e que de tão sutis ficam geniais e quase passam desapercebidas.

Em uma delas, caminhando no Central Park, ele diz à namorada “Ali vai o vencedor do concurso nacional dos imitadores do Truman Capote”. A câmera pega sem pretensão nenhuma um sujeito que é a cara do autor de “A sangue frio”. Mas é o próprio Truman Capote que faz o imitador de si mesmo! Essas e muitas outras dentro da verborragia do personagem de Allen são um show à parte.

A justificativa, na última cena, que ele dá para as tentativas dos seres humanos viverem juntos sintetiza a graça, o non sense e o quase-desespero da vida a dois. Algo que Woody Allen exploraria em vários de seus outros filmes. Dizem que ele se repete, mais precisamente que repete “Annie Hall” até hoje. Que bom!

Apocalypse Now

É injusto dizer que este filme é a definitiva visão sobre o conflito do Vietnã, até porque talvez ali o Vietnã vai ficando o de menos. A saga de um capitão do exército adentrando na selva para capturar – e matar se preciso – um renegado que vive quase como um rei longe da civilização foi o mote retirado do livro “Coração das trevas”, de Joseph Conrad.

O original se passa no Congo e o renegado quer se desvencilhar da colonização predatória. Aqui um oficial outrora muito competente se mete na selva e faz ali um pequeno reinado. A busca por ele rio acima, com as cruezas da guerra expostas não como fundo mas como razão para tudo aquilo é o cerne do filme.

Ninguém parece normal por ali e tudo é extremo e de tão surreal parece normal e corriqueiro. Assim, helicópteros lançam napalm nas florestas ao som de “Cavalgada das Valquírias” – para ficar na cena talvez mais icônica, ao mesmo tempo que se tenta fazer um show com modelos da Playboy no meio da selva e acham que vai dar certo.

Tem tiro para todo lado, mato e desolação para todo lado e humanos colocados em seus limites. E tem Marlon Brando.

Conta-se que ele demorou a entender seu personagem e quis ler o livro de Conrad antes de começar a filmar – sem contar que chegou com o peso de Dom Corleone para viver um refugiado do miolo da selva que mal se alimentava. As filmagens se atrasaram por conta destes extremos de Brando, mas Martin Sheen, que fazia seu perseguidor, teve um treco no meio das filmagens e novo atraso. Um filme imenso com um folclore imenso.

Por mais chocante em si que tenha sido a Guerra do Vietnã, Apocalypse Now nos coloca diante da nossa miséria e mostra o quão fundo o homem pode ir no desalentado intento de tentar dominar a si mesmo.

Serviço

Chinatown (Chinatown, EUA, 1974). Direção: Roman Polanski. Roteiro: Robert Towne. Elenco: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Houston

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, EUA 1977). Direção: Woody Allen. Com Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts

Apocalypse Now (Apocalypse Now, EUA, 1979). Direção: Francis Ford Copolla. Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Frederic Forrest.

Tapetão

O Poderoso Chefão; Laranja Mecânica; A Noite Americana e isso com certeza fará que nosso editor coloque uma nota final nesta resenha.

Nota do Editor

Como O Poderoso Chefão não entrou na lista principal? Como… meu Deus do céu… Onde vamos parar… O editor está publicando esta resenha sob protestos garantindo o direito à livre manifestação… Mas sob protestos.

Publicado em:Opinião,Sem Pipoca

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